APRESENTAÇÃO
Morando
em Alumínio, tive de ir à Mairinque tratar de assunto relativo à minha dispensa
do Serviço Militar, isto no início da década de 1960.
Estava
sentado em um banco na praça pública quando de repente se aproximou um senhor
alto, forte, cabeça raspada, camisa xadrez com colarinho abotoado e a cinta lá
pelo meio da barriga. Olhei-o surpreso e então ele me disse: “Me dá um dinheiro.”
Uma pessoa,
vendo meu espanto se aproximou e explicou-me que aquela pessoa tinha aquele
costume por problemas mentais e que era muito bondosa, “não fazendo mal a
ninguém”. Em seguida disse-me que o nome daquele homem era Joaquinlão.
Vi-o novamente
em algumas ocasiões que estive em Mairinque, porém quando fui de mudança para
lá em 1980 Joaquinlão havia morrido no ano anterior. Depois fiquei conhecendo a
história de vida desse personagem, o qual anos depois se tornou nome de rua,
justamente no Jardim Cruzeiro, onde eu me estabeleci com minha família.
Em outubro
de 1984 a editora Momento (Empresa de Propaganda e Promoções de Mairinque) fez
uma publicação que recebeu o nome de “Mairinque 94 anos – Edição Comemorativa”
e nas páginas 15 e 16 estampou matéria versando sobre Joaquinlão, inclusive com
uma foto dele.
É esse
belíssimo texto que transcrevemos em seguida, com pequenas adequações:
“Em 1908, nasce em Santa
Rita (hoje Alumínio) numa vila bem pequena, um menino forte, bonito, sadio e
filho de mãe solteira: Joaquim de Oliveira – o “Joaquinlão”.
Cresceu,
foi morar com a mãe junto de seu padrasto, carroceiro, onde passou a trabalhar,
ajudando-o no sítio onde morava.
O
Joaquinlão começou a existir, durante um dia de trabalho, onde foi agredido
pelo seu padrasto com o cabo de um relho, em sua cabeça aos sete anos de idade.
A partir daí, cresceu com a mente infantil. Ele tinha três irmãos: Valentina,
Cássio e Luzia, que moram em Sorocaba.
Quando
o padrasto deixou sua mãe, Joaquinlão passou a morar só com ela, ainda em Santa
Rita, onde fazia todo serviço de roça: apanhava mandioca, dava comida aos
porcos, buscava milho, apanhava lenha.
Após
a morte de sua mãe, foi morar com a tia que era casada com Iturino Alves, na
época capelão de Santa Luzia e Santa Cruz, daí sua ligação com a igreja.
Sempre
prestou serviços, devido à sua forte estrutura, e geralmente os serviços eram
pesados. Chegava a transportar enormes feixes de lenha de uns 60 quilos ou
mais.
Joaquinlão
veio para Mairinque em 1937 com 29 anos e passou a morar num quartinho: do seu
“Abel, pai da Glória do Bicharedo” – era assim que chamava.
Mas
não deixou de dar suas caminhadas à pé até Alumínio. Chegava na casa de dona
Brasilina e sempre pedia um pouco de comida, pão, café e perguntava de Elvira,
a quem tinha muita afeição: “E Ervira, tai”? “Ela gosta de mim?”
Essa
figura lendária tinha muitos hábitos, os quais ficaram bem marcados em toda a
população. Devido a sua força e o prazer em ajudar as pessoas, não medias
esforços para trabalhar. Ia sempre no Zaparolli descarregar farinha de trigo do
caminhão, depois recebia em troca sanduíches de mortadela e queijo.
Gostava
de buscar lenha no eucalipto do Horto e trazer para a Glória do Augusto, para a
Helena do Joaquim e outros.
Joaquinlão
teve muita ligação com D. Abade que o alimentava, vestia-o e dava uma atenção
especial a ele, que participava de todos os eventos religiosos: ia à Missa com
freqüência, rezava no “Domingo de Mês”, guardava enterros, rezava ladainhas.
Gostava
muito da Dona Olga, do Padre Zezinho, do Padre Antonio e do Padre Bóris. Outros
costumes muito conhecidos do Joaquinlão era o de ir ao bar da estação, tomar
café com sanduíche, sendo na época dona do bar a dona Preciosa. Depois esperava
o trem passar, pedia dinheiro e colocava embaixo do santo da igreja.
Conviveu
também com a família de Dona Aidil, onde conta um de seus filhos (Paulo César),
que até 1971 Joaquinlão nunca tinha andado de automóvel. E num domingo, depois do
bailinho da SRM, muita chuva, Joaquinlão com os pés de reumatismo, foi
convidado por Paulo a subir em seu fusca para abrigá-lo da chuva. Joaquim
entrou de cabeça pela porta ficando entalado. Teve de sair em seguida para que
Paulo o ensinasse e o ajudasse a entrar no carro.
Outros
costumes de Joaquinlão: Falar uma série de nomes de cidades, repetindo-as, só
não repetindo os nomes de Boston e de Chicago porque “eram nomes feios”. Só
fumava esporadicamente charutos e quando era advertido ou recriminado ele dizia
que o Dom Abade deixava ele fumar.
Certa
ocasião ganhou uma dentadura feita e ofertada pelo Dr. Geraldo Amaral, a qual
Joaquinlão lavava-a na fonte. O Sr. Mauro Pereira foi muito prestativo com
Joaquinlão e chegou a fazer umas modificações no porão da sua oficina, na qual
ele passou a morar (Oficina do Pernambuco). Para que Joaquim tivesse melhores
acomodações, levantou o teto e colocou porta com fechadura para maior proteção.
Sempre que o Sr. Mauro perguntava se ele havia guardado bem a chave ele
respondia: ”A chave ta guardada no lenço.”
Quando
começaram a obras de construção do cinema, Joaquinlão passou a se abrigar
naquele local, apesar de muitos insistirem para que ele saísse de lá e fosse
para o asilo.
Aquela
criança forte, dos pulinhos, da risada alta, foi perdendo sua vitalidade e aos
75 anos passou a morar no asilo e quando perguntavam se ele tinha medo de
morrer, respondia: “Não; eu vou ficá pra semente”.
E
foi o que aconteceu. Ficou mesmo para semente e mesmo depois de sua morte em
l0-09-1979, ainda podemos ver aquela enorme figura correndo pelas ruas da
cidade, gritando, cantando, rindo. Algumas de suas músicas: “O ralho do
alfaiate- todo o dia a me cobrar – sou pobre, não tenho dinheiro – com que
ralho eu vou pagar?/Fui na casa do pai da noiva para saber do meu noivado-o
sapato era de vidro – a biqueira de olhado – foi descer uma ladeira – o salto
virou de um lado/Ela tinha olho de vidro – também perna de pau – era seca não
tinha bunda – parecia um bacalhau”/”Oh Carmem! oh Carmelita! – morena tão bonita
– oh linda espanhola! Espanhola de Madri/ quando passa – pela rua – gritam o
Valdomil – oh linda espanhola! – espanhola do Brasil”/”Bandeira vermelha – é sinal
de guerra – barulho no céu – tristeza na terra/ Encontrei com o Lot – na beira
da praia – com as armas na mão – para vencer a batalha/Eu vi, eu vi, eu vi – a morena
no jardim – eu vi, eu vi, eu vi – a morena no jardim.”
ACERVO FOTOGRÁFICO (Fotos de algumas pessoas, lugares e objetos citados na matéria).
Joaquim de Oliveira, o
Joaquinlão
Alumínio, localidade onde ele nasceu
Carroça antiga
Relho -c abo de madeira e couro trançado -
usado pelos carroceiros
Padre José Yao
(Padre Zezinho)
Padre Antonio Liu
Luiz Zaparolli
(dono de padaria)
Dr. Geraldo Pinto Amaral
(Dentista)
Igreja Matriz de São José (Mairinque)
Bar da Estação (Mairinque)
Cinema Mk (onde Joaquim se acomodava
quando dos primeiros tempos da construção)
Asilo em Mairinque - onde ele morou
Mapa de Mairinque, com indicação da
Rua Joaquim de Oliveira
Notícia na Internet informando que a Secretaria Municipal de Educação
de Mairinque se mudou para a Rua Joaquim de Oliveira no Jardim Cruzeiro.
Edição Comemorativa Mairinque
94 anos
Joaquinlão
Alumínio, localidade onde ele nasceu
Carroça antiga
Relho -c abo de madeira e couro trançado -
usado pelos carroceiros
Padre José Yao
(Padre Zezinho)
Padre Antonio Liu
Luiz Zaparolli
(dono de padaria)
Dr. Geraldo Pinto Amaral
(Dentista)
Igreja Matriz de São José (Mairinque)
Bar da Estação (Mairinque)
Cinema Mk (onde Joaquim se acomodava
quando dos primeiros tempos da construção)
Asilo em Mairinque - onde ele morou
Mapa de Mairinque, com indicação da
Rua Joaquim de Oliveira
Notícia na Internet informando que a Secretaria Municipal de Educação
de Mairinque se mudou para a Rua Joaquim de Oliveira no Jardim Cruzeiro.
Edição Comemorativa Mairinque
94 anos
CONCLUSÃO
Este trabalho pode ser melhorado através de críticas construtivas e sugestões. É assim que tenho feito com todas as postagens publicadas em meu blog.
Portanto, se você tiver qualquer contribuição a fazer, poderá entrar em contato comigo através do e-mail indicado no final desta publicação
SOBRE O AUTOR DA POSTAGEM
É presbítero em exercício da Igreja Presbiteriana do Brasil, servindo atualmente na Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba.
E-mail: prebwilson@hotmail.com