APRESENTAÇÃO
Nesta
postagem reuni crônicas da vida real que abrangem desde a minha infância até os
dias atuais. Muitas delas já estão no blog e foram publicadas no Facebook.
Amigas e
amigos generosos sugeriram que fosse escrito um livro, porém não acho que poderia
fazê-lo. Por isso fiz uma compilação de
muitas delas e vos apresento neste popst.
É um
trabalho um tanto extenso, mas, claro, não precisa ser lido de uma tacada só.
Tem ainda o leitor a faculdade de escolher aquelas que mais lhes chamar a
atenção.
Espero que
apreciem.
1 - CRIANÇAS E PERALTICES
A ÉGUA GANHOU O PÁREO E EU, VINTE PICOLÉS
Minha mãe
ia mensalmente a São Pedro do Turvo para ver-me. Usava como meio de locomoção
nossa égua chamada Dourada, a qual tinha esse nome por causa da sua cor.
Já meu
querido tio Antonio, o qual eu chamava de Padrinho Tonho , tinha uma égua chamada
Morena, com a qual ele foi me ver lá na sede do município num domingo.
Em São
Pedro tinha um campo de futebol que ficava próximo à igreja católica, sendo o
Padre Marcílio um dos dirigentes do time. Mas eu gostava mesmo era da raia,
constituída de duas pistas. Cada corrida era disputada por apenas dois animais
e as apostas rolavam soltas.
Antes de
acontecer o páreo principal do domingo eram realizadas as corridas entre
animais pouco conhecidos e foi aí que meu tio topou uma corrida contra um
pangaré. O jóquei foi ele mesmo.
Eu nunca
torci tanto, pois amava muito meu tio e já andara várias vezes na garupa
daquela égua. E não deu outra, a Morena chegou na frente. Meu tio faturou vinte
cruzeiros, e, bondoso como era, deu a metade para mim!
Com esse dinheiro,
me abastecei de sorvete por vinte dias na volta da escola para casa de meus
parentes hospedeiros e meu tio voltou com sua égua vencedora, vencendo as seis
léguas até a Cabeceira Bonita onde ele e todos os meus queridos moravam.
A COMIDA A GENTE PAGA – A BEBIDA A GENTE LEVA
Sem nenhum
constrangimento, entrava em um barzinho, pedia licença e mandava ver. Nem um
refrigerante ele comprava, pois levava também uma garrafinha com café.
Passados tantos
e tantos anos que isso ocorria, percebi dia destes que a moda voltou. Estávamos
almoçando em um restaurante no Shopping Panorâmico num domingo (a comida é boa
e não é cara) e em várias mesas lá estava ela, a conhecida garrafa pet de dois
litros levada de casa ou comprada em outro lugar.
Isso
acontece porque a bebida encarece muito a refeição, daí o jeitinho brasileiro
entra em ação.
Quando
estava escrevendo esta crônica, minha esposa chegou e comentei com ela. Ouvindo
a estória ela sorriu, e arrematou:
- É! Mas já vi em alguns lugares, um aviso na parede: É
proibido trazer bebida de fora. Babau colher de pau!
A MUDANÇA TREME-TREME
Em 1955 morávamos no município de Bernardino de Campos, SP, onde nossa família produzia tijolos para uma olaria pertencente à Fazenda Santa Hermínia que tinha sua sede na vizinha Ipaussu.
Meu pai e o
inseparável irmão dele, meu tio Antônio resolveram mudar-se para outra
propriedade, cujo dono se chamava Eugênio José Xavier, distante apenas três
quilômetros uma da outra.
As duas
mudanças foram colocadas na carreta de um tratorzinho e o tratorista não se
preocupou em amarrar nada, de modo que eu, sendo ainda um adolescente, tive
mais maturidade do que ele e disse-lhe que aquilo tudo iria despencar.
- Despenca não – respondeu ele. Minha mãe e minha tia
Maria se acomodaram lá em cima da carga onde estavam alguns colchões feitos com
palhas de milho, enrolados, parecendo rocambole.
Não deu
outra. Foi só o trator começar a subida pela estradinha de terra e no primeiro solavanco
mais forte a carga veio toda abaixo. Minha mãe caiu abraçada a um colchão que
amorteceu a queda e se feriu um pouquinho no supercílio. Já tia Maria não se
machucou, ela que caiu abraçada a um violão do meu tio, marido dela.
Esse foi
apenas um dos muitos episódios daqueles que a gente fica sem saber se ri ou se
chora, ocorrido em nossa vida à moda cigana! Depois disso ainda trabalhamos em
outras duas olarias em Ipaussu, quando meu pai ficou sabendo que existia um
lugar chamado Alumínio, onde existia uma grande fábrica.
E assim
viemos para Alumínio em fins de 1958 para iniciar uma nova fase em nossas
vidas. É por causa disso que sou tão grato a essa pequena cidade sobre a qual
não me canso de escrever.
A VISITA DO BISPO E O EXTRAVIO DO CAIPIRINHA
Quando eu tinha uns 5 anos de idade, o bispo
da Diocese de Assis foi à cidadezinha de Campos Novos Paulista, minha terra
natal. Eu e meu mano Nilson fomos com nossos pais.
A pequena
urbe ficou fervilhando de gente que veio de todos os lados do município e
também de cidades mais próximas. A igreja estava apinhada de gente, pois
acontecia a cerimônia da crisma.
Em
determinado momento, sei lá porque, resolvi sair, desgarrando-me de meus pais.
Quando me senti perdido no meio da multidão, não consegui localizá-los mais.
Ia de lá
para cá, chorando desesperado. Foi aí
que um senhor se aproximou e agachou na minha frente, perguntando-me o que
estava acontecendo.
- Não consigo achar meus pais, respondi.
- Chora não. Vem comigo que eu vou te ajudar.
Segurando
minha mão, ele foi até o serviço de alto-falante instalado no coreto e pediu
que fosse anunciado que um menino chamado Wilson estava ali, esperando pelos
seus pais, Sr. Durvalino e dona Benedita.
Não demorou
muito e eles chegaram. Mamãe já estava lacrimejante e tendo agradecido muito a
generosidade do bondoso desconhecido, levou-me de volta com eles.
A sensação
de sentir-se perdido é ruim demais!
CREDO! ABRAÇADO COM O DEFUNTO!
O nome dele era
Alicio, mas desde a mocidade passou a ser chamado de Danilo pois jogava futebol
e lembrava de certa forma o jeito elegante de atuar do grande craque da Seleção
Brasileira de 1950.
Era o irmão mais novo de
minha mãe, portanto meu tio e pude vê-lo jogando pela Esportiva Santacruzense.
Depois jogou em várias equipes do interior paulista, passou pelo Criciúma de
Santa Catarina e encerrou a carreira no C.A. Paranaense.
Fez carreira na Polícia
Civil e se aposentou como delegado na pequena e acolhedora cidade de Balsa Nova
na região metropolitana de Curitiba. Lá ele conheceu a moça Irene, com a qual
se casou e teveram a filha Andréa e os filhos Anderson e Alan, meus queridos
primos.
Mas vamos à história (ou
estória?) engraçada que aconteceu com ele quando era adolescente lá em Santa
Cruz do Rio Pardo sua cidade natal. Era comum naquele tempo, quando alguém
falecia, transportar o caixão com o finado para sepultamento utilizando-se da
carroceria de um caminhão. Junto, em pé, equilibrando-se como podiam, seguiam
os acompanhantes.
Foi numa dessas que o
menino Danilo participava de um desses enterros. De repente o caminhão deu uma
freada e muita gente caiu e nosso pequeno personagem lá se foi debruço sobre o
caixão do finado. Os caídos se levantaram e, junto com eles, o assustado
Danilo.
No entanto o que não
levantou foi o ânimo do garoto, pois naquela noite não conseguiu pegar no sono.
Só conseguiu dormir quando recebeu permissão para se deitar no meio dos pais,
meu saudoso vô João e a esposa de segundas núpcias dona Benedita Damasceno a
quem carinhosamente eu chamava de comadre, pois era assim que minha mãe também
a tratava.
Coisas
de rapazinhos assustados.
Um menino de onze anos
morava com a família numa olaria no município de Santa Cruz do Rio Pardo, SP e
de segunda a sexta feira ficava na cidade na casa de parentes para estudar.
Na segunda metade da década de 1950 eu tinha uns dezesseis anos e morava em Ipaussu, interior de São Paulo. Fazíamos tijolos numa olaria situada às margens da rodovia que liga a cidade a Santa Cruz do Rio Pardo, onde moramos em anos anteriores
Em 1996 minha esposa
professora Claudineide Marra Ribeiro estava lecionando na Escola Estadual
Professora Maria de Oliveira Lellis Ito no Jardim Cruzeiro em Mairinque.
Morávamos e trabalhávamos numa olaria no município de Bernardino de Campos, interior paulista em 1956. Eu e meu falecido irmão Nilson tínhamos estilingues, com os quais caçávamos passarinhos após o término da tarefa na fabricação de tijolos.
Fui matriculado na Escola Mista Rural do Bairro
Cabeceira Bonita, Município de São Pedro do Turvo em janeiro de 1949. Era uma
edificação bem pequena, feita de madeira na qual funcionavam só a primeira e
segunda série, com aulas ministradas por uma única professora simultaneamente
Em 1952 eu e meu mano Nilson estávamos estudando
em Santa Cruz do Rio Pardo, SP e nossa família morava num sítio há uns oito
quilômetros de distância, onde faziam tijolos
PERALTA SIM, PORÉM CORAJOSO!
Tive o privilégio de ser vereador no Município de Mairinque, quando Alumínio ainda não havia emancipado, de forma que me sentia representante do povo das duas comunidades. Foi no período de 1989 a 1992.
Faz pouco tempo, resolvi ir ao sótão da nossa casa. Coloquei uma escada, que não era a mais apropriada, e lá fui eu mexer não me lembro mais no que. Lá ficam guardados sobras de materiais da reforma de nossa moradia.
Grande incentivador dos estudos, dos quais não abria mão para os menores que desejavam trabalhar na CBA, Dr. Figueirôa nos anos setenta passou a exigir dos profissionais das várias áreas de atividade na fábrica a prosseguir nos estudos, pois na grande maioria só tinham o antigo curso primário.
Certo dia um dos muitos trabalhadores foi ter com o diretor na casa dele para pedir uma promoção. No diálogo que se seguiu, o homem, questionado se estaria estudando, respondeu afirmativamente. E daí aconteceu este diálogo:
- Então jovem, que curso o senhor está fazendo?
- Cálculo Técnico no SENAI, com o prof. José Bento.
- E o senhor já sabe extrair a raiz quadrada?
- Xi, doutor. Nem a raiz redonda eu sei, quanto mais a quadrada!
Creio que ainda não foi dessa vez que saiu a promoção que o colega desejava!
Quem presenciou este fato e me contou foi o amigão e ex companheiro de trabalho David Alves Machado, o qual vou tentar reproduzi-lo. Aconteceu no início da década de 1960.
Não é exagero afirmar que
muitas pessoas gostavam de imitar a voz característica do Dr. Figueirôa,
Diretor Industrial da CBA de 1955 a 1985 o qual tinha o hábito de tratar seus
interlocutores usando a expressão: “Jovem”
Creio que foi na década de 1970 que aconteceu o fato que vou narrar aqui. Aconteceu no pátio do Almoxarifado Geral da CBA, onde alguns funcionários jogavam uma bolinha depois do almoço.
Contavam alguns colegas de
CBA mais antigos que, quando estava sendo feita a terraplenagem do terreno para
construir a primeira Sala dos Fornos, certo dia aconteceu um incidente (ou
acidente), que se não fosse um tanto trágico, seria cômico.
Este fato que vou narrar tinha mais de uma versão. Afinal existe aquele adágio de “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Não me lembro bem se foi nos
dias de carnaval de 2014 ou 2015 que aconteceu um fato inusitado comigo.
Poderia ter sido trágico ou muito complicado, porém, mais uma vez Deus me
protegeu.
Para continuar escrevendo as crônicas sobre Alumínio e sua gente, às vezes preciso pedir ajuda a algum ex-companheiro de trabalho e desta vez a ajuda veio do nosso estimadíssimo David Alves Machado.
Nas duas primeiras décadas do século passado ocorreu a
expansão da Estrada de Ferro Sorocabana no trecho entre Ourinhos até Piquerobi,
no oeste paulista.
Depois de aposentar-me na
CBA em 1991 fui convidado pelo prefeito eleito em 1992 Prof. José Luiz Bellini,
falecido recentemente, para trabalhar na Prefeitura Municipal de Mairinque.
Depois de desligar-me da CBA
em 1991 por aposentaria, trabalhei na Prefeitura Municipal de Mairinque de 1993
a 1996, sendo os dois primeiros anos como Chefe da Divisão de Pessoal e
Zeladoria.
MENINO ABUSADO, BUMBUM LAMBUZADO!
A
responsável pelo tal era uma tia muito amada e também bastante brava chamada
Leonina. Se aprontasse, ela dava um pitaco daqueles.
Certo dia
choveu de manhã quando o menino estava no Grupo Escolar, mas à tarde o sol
apareceu, mas alguns lugares ainda havia lama.
Os moleques
da vizinhança, logo que almoçaram foram brincar de escorregar no quintal de um
deles. Deslizavam com um pé na frente e, lógico, o outro atrás para dar
sustentação ao corpo.
Foi quando
o tal sobrinho da dona Leonina se juntou ao grupo e ficou observando. Logo um
deles gritou:
- Hei, voce ai. Não vai brincar aqui? (nada a ver com a
música do Moacir Franco).
- O menino encarou o desafio e foi logo fazendo pouco dos
colegas.
- Escorregar desse jeito que vocês estão fazendo é muito
fácil!
- Então mostra-nos como é que você sabe fazer.
- Eu escorrego com os dois pés juntos.
- Então faz, nós queremos aprender.
O capirinha
tomou distância e bem no meio da lama freou. O corpo foi para frente, porém na
horizontal. O bumbum ficou que era só lama.
Cabeça
baixa, sob o som das gargalhadas dos demais lá foi o caipirinha encarar a
Madrinha Nina (era assim que ele a chamava)
- Mas o que foi isso Wuiiiiiiisonnnn – ela pronunciava
assim meu nome do moleque.
- Ai madrinha, escorreguei ali perto da esquina e caí,
ainda bem que não me machuquei.
- Vai trocar essa calça e põe no tanque para a madrinha
lavar.
Arre!
(Quanta saudade dela que se foi em 1993).
CARREGA EU MANHÊ!
No início da década de 1960
a família Ferrari morava num sítio que fica atrás e a certa distância da
barragem de lama da CBA, mais no sentido do Bairro Itararé.
Era uma
família numerosa e hospitaleira e os moços e moças da Igreja Presbiteriana de
Alumínio, que naqueles tempos funcionava num prediozinho onde veio a ser
construído o terminal de ônibus da CBA. Ia até o sítio constantemente.
Aquela
família tinha como pai o Sr. Mário e mãe dona Benedita. Conceição, Daniel,
Lenita, Ernestina, Antonio e Zilda eram os filhos. Passávamos muitos domingos à
tarde na casa deles nos divertindo, principalmente cantando hinos.
Certo dia
houve um culto, porém num sábado à noite, de forma que muitos não jovens também
se fizeram presentes. O pregador foi o saudoso presbítero Waldemar Machado,
irmão do David e da falecida Tereza.
Na volta,
caminhando pela estradinha de terra tudo era festa, pois a maioria era jovem e
para eles não existe cansaço. Porém para uma menina a coisa estava feia uma vez
que ela era meio fofinha e a mamãe não agüentava carregá-la por muito tempo.
- “Carrega eu manhê”, choramingava a menina após andar um
pouquinho. Diante da situação o pessoal começou a revezar, ajudando a mamãe na
condução da menina, incluindo o pregador e o autor deste relato.
Assim,
chegamos a Alumínio, cada qual se dirigindo às suas respectivas casas. A mamãe
cansada e a filhinha foram para a residência delas no início da Avenida
Santiago.
Agora
quando vejo aquela menina, uma simpática senhora, mãe de uma bela filha e vovó
de uma lindeza de menina, relembro aquele dia e aquela música tema da novela
Irmãos Coragem que dizia: “Te carreguei no colo menina”.
Não tenho
como não ter saudade da mãe dela, senhora já idosa que trabalhou comigo no
prédio novo do Escritório da CBA, fazendo limpeza e cuidando das plantas
ornamentais.
Curiosos
né? Querendo saber quem era a menina e a mamãe dela. Pois aí vai e faço isto
como uma homenagem. O nome da mãe era Vitalina e o da menina é Aparecida, a
nossa irmã e amiga de FACE e fora dele, a Cida Castro.
CAVALEIROS REFRESCADOS
Quando trabalhávamos numa olaria em
Santa Cruz do Rio Pardo, meus irmãos José e Benedito com sete e seis anos
respectivamente resolveram montar em pêlo num cavalo manso que vagueava pelo
pasto há pouca distância de nossa casa.
Dando pela falta dos dois, dona
Benedita gritou pelo nome deles por mais de uma hora. Já imaginando que o pior
pudesse ter acontecido, ei-los chegando vermelhos e muito suados devido ao sol
causticante.
Então ela mandou que fossem “descansar”
no quarto e por algumas vezes perguntou se já haviam se refrescado.
A
resposta era negativa, até que o José achou que deveria por fim à novela.
- Já se
refrescaram?
- Já. E aí o relho
comeu solto.
AS AVENTURAS DE UM TORCEDOR POBRE EM IPAUSSU
Moramos
no Município de Ipaussu, SP de 1956 a 1958 e me tornei torcedor fanático do
time de futebol da cidade, o qual na época disputava o campeonato da Terceira
Divisão da Federação Paulista de Futebol.
Eu, como
menor de idade que era, tinha direito a entrar gratuitamente, porém como era
magro e muito alto, barravam-me na portaria. Por causa disso, o jeito era pular
o muro do estádio.
Por causa
disso, certa vez um policial obrigou-me a sair de dentro do campo, porém eu
pulei de novo e assisti ao jogo. Mas o maior sufoco foi em 1958 quando o
Corinthians foi fazer um amistoso lá. A vigilância nessa ocasião estava
redobrada.
Como eu não
conseguia entrar pela portaria, pois não tinha dinheiro, e vendo que se pulasse
um guarda mandaria e meu retirar, resolvi subir em num monte de pedras que
alguém fizera fora do campo na beira do muro. Pois não é que um policial me
mandou descer e desfazer o monte de pedras?
Confesso
que nesse dia fiquei revoltado. Eu trabalhava como se fosse um adulto ajudando
a fazer tijolos de segunda a sábado e não tinha como torcer pelo meu time sem
passar por esses vexames!!
Não
desisti. Fui à portaria e fiquei esperando um descuido do porteiro. Os
vestiários ficavam visíveis a quem estava por ali e quando o Corinthians entrou
em campo sob intenso foguetório, o porteiro não resistiu a dar uma olhada, eu adentrei
o do campo.
E foi assim
que pude conhecer alguns dos mais famosos craques do alvinegro que lá estiveram
como o Luizinho Trujilo, o Rafael e o Roberto Bataglia. Outros famosos como
Gilmar, Claudio e outros não estiveram presentes, pois o time da capital usou
um mistão.
O resultado
foi 4 x 0 para os visitantes e eu nunca mais pulei o muro uma vez que logo
depois nos mudamos para Alumínio.
BICICLETA DESENFREADA
Fazia pouco tempo que estávamos morando no Jardim Cruzeiro em Mairinque.
Não eram muitas as casas habitadas no bairro e também não existia ainda o
viaduto ligando o bairro ao centro da cidade.
A família do Sr. Jovelino de Oliveira Tomaz (falecido recentemente),
assim como a nossa, era oriunda de Alumínio e nossos filhos eram muito amigos.
Algumas das meninas da família Tomaz haviam ajudado em casa a cuidar das
nossas, posto que eram mais velhas, principalmente a Azenate, de tão saudosa
memória.
Assim era comum as nossas irem até a chamada gleba B para passar alguns
momentos na casa da família Tomaz, que até hoje mora no mesmo local, lá nas
imediações da farmácia do Luizinho. E foi no retorno de uma dessas visitas que
ocorreu a pequena aventura que conto nestas linhas.
Depois de passar algumas horas em companhia de dona Maria e das filhas,
a Eliane e a Flávia, minhas filhas de aproximadamente 11 e 13 anos resolveram
retornar para casa. Pegaram a bicicleta e se puseram avenida afora, “morro
abaixo”. A velocidade foi aumentando e as duas entraram em pânico: não
conseguiam frear a “magrela”.
A Eliane, pernas mais compridas, sentada na garupa tentava diminuir a
velocidade firmando os chinelos no asfalto o que de pouco adiantava. Foi quando
elas viram crescer na frente delas aquele homem de braços abertos disposto a
sofrer o choque do pequeno veículo desgovernado e fazê-lo parar. E ele
conseguiu.
Quando nos vem à mente que lá à frente, depois da Avenida Mitsuke só
havia a linha do trem num buracão enorme, há que se valorizar muito mais a
corajosa ação daquele senhor que não levou em conta sua vida para salvar vida
das duas meninas. O nome dele: Roque Aldigheri.
Coisas de Crianças. E de anjos que Deus envia..
CHUVA DE MARIMBONDOS
Nos ranchos cobertos por
sapé onde funcionavam as olarias sempre havia algumas casas de marimbondos.
Elas têm a forma aproximada de uma bola, cor acinzentada e os milhares de
marimbondos negros e miúdos ficam lá dentro.
A molecada se divertia assoprando
canudinhos de papel com espinho de laranjeira na ponta – uma espécie de micro
flecha. Eu não era exceção, só que era ruim de pontaria. Talvez um prenúncio da
miopia que viria no futuro.
Naquela
tarde eu estava sozinho dentro do rancho, assoprando meus dardos contra a
moradia dos marimbondos. Não acertei o primeiro, então me aproximei mais. Nem o
segundo nem o terceiro. Então subi
nunca carriola, fiquei bem próximo e assoprei com todo meu fôlego.
A
resposta foi uma chuva de marimbondos que ferroaram meu pescoço, orelhas,
lábios e tudo mais. Não chorei por honra da calça e para não dar vexame maior
em casa.
CINCO CRUZEIROS DE TRÊS CANTOS
Na segunda metade da década de 1950 eu tinha uns dezesseis anos e morava em Ipaussu, interior de São Paulo. Fazíamos tijolos numa olaria situada às margens da rodovia que liga a cidade a Santa Cruz do Rio Pardo, onde moramos em anos anteriores
Certo dia
meu tio e padrinho Antonio perguntou-me se eu poderia ir até Ourinhos para
receber dinheiro que ele havia emprestado a parentes. Com a permissão de meus
pais, lá fui eu, sem conhecer nada sobre a cidade. A viagem foi através de um
trem da Estrada de Ferro Sorocabana.
Tio Antonio
deu-me dinheiro suficiente para a ida, a volta e o uso de uma charrete, o
transporte alternativo para ir e voltar até a casa que eu precisava ir.
Ocorreu que
o combinado entre credor e devedor falhou. Aí o dinheiro que eu tinha para
comparar a passagem de volta era uma nota de cinco cruzeiros, a qual eu
recebera de troco quando comprei a passagem de ida.
Até aí,
parecia não existir qualquer dificuldade, pois ainda sobraria um trocadinho. Ocorre
que o vendedor dos bilhetes não aceitou a nota porque ela não tinha um dos
cantos. Ai, ai, ai!
Por alguns
minutos fiquei sem saber o que fazer. O trem passaria dentro de pouco tempo e
já estava anoitecendo. Apelei para o homem do guichê, expliquei-lhe que só
tinha aquele dinheiro, mas ele não arredou pé. Comecei a pedir aos passageiros que
estavam na plataforma de embarque para que trocassem a nota comigo, mas nada!
Foi aí que
um senhor, reconhecendo meu apuro levou-me até o guichê, comprou e deu-me a
passagem, e desejou-me boa viagem. Foi mais um anjo em forma de homem que Deus
colocou em minha vida num momento de dificuldade.
ESSES TAMBÉM SÃO CORRUPTOS?
Estava acontecendo a Bienal do Livro no
Ginásio do Ibirapuera e organizou-se uma excursão de alunos da escola para
conhecer o evento, sendo naturalmente acompanhados pelas professoras, sendo
minha esposa uma delas.
A certa altura, observou-se um reboliço
no local onde estavam os alunos e suas mestras. É que o então Vice-Presidente
da República Marco Maciel, acompanhado de assessores estava se aproximando. Foi
aí que aconteceu o imprevisível. Um aluno, menino humilde e estudioso em voz
bem audível sai com esta:
-
Professora, esses aí também são corruptos?
Sem comentários a professora colocou a
mão no ombro dele e conduziu o para outro assunto, desviando-se de ter de dar
uma resposta ao interessado aluno, pois naquele momento era impossível dizer
qualquer coisa.
Passados já vinte e três anos e já
aposentada, a professora não esquece aquele episódio, sabendo que o menino,
apesar da pouca idade, tinha ouvido e prestado atenção nos noticiários a
respeito do assunto na época do ex Presidente Collor e seu ex- tesoureiro de
campanha PC Faria.
Uma bela lição!
A GALINHA QUE CAIU DO TELHADO E VIROU ALMOÇO
Morávamos e trabalhávamos numa olaria no município de Bernardino de Campos, interior paulista em 1956. Eu e meu falecido irmão Nilson tínhamos estilingues, com os quais caçávamos passarinhos após o término da tarefa na fabricação de tijolos.
Num domingo
de manhã, dia de folga, meus pais e irmãos mais novos estavam dentro de casa e
minha mãe estava começando a preparar o almoço.
Eu estava
com meu estilingue a uma distância razoável da casinha de madeira e vi uma das
muitas galinhas que tínhamos em cima do telhado, fazendo não sei o que lá.
Não pensei
duas vezes: pus uma bolinha feita com barro que secávamos ao sol, coloquei na
“arma”, estiquei o máximo, mirei a galinha e soltei a estilingada. Na verdade
não achava que iria acertá-la, mas para azar dela o “tiro” foi certeiro.
Ela caiu
próximo à porta da cozinha se debatendo e minha mãe, vendo aquilo chamou meu
pai e mostrou o que estava acontecendo. Pensaram que a pobre tinha caído do
telhado (como se galinha não fizesse pequenos vôos) e decidiram transformá-la
em mistura para o almoço.
Esse foi um
dia do caçador, mas poderia ter sido o dia da caça se soubessem que fora eu o
autor da façanha.
EXPLOSÃO AZUL
Meu pai era caçador. Veados,
pacas, capivaras e aves como perdiz e o inhambu eram seus alvos prediletos. Ele
tinha uma espingarda que utilizava em suas caçadas junto com os compadres
nas incursões pelas matas do nosso pequeno sítio e adjacências .
Dentro de casa a arma
estava sempre descarregada, porém eu sabia onde ele guardava a munição. Era
dentro de uma sacolinha feita com couro de veado, a qual me foi dada quando fui
matriculado na escola.
Certo dia fiquei sozinho
em casa e tive uma idéia: peguei um pouco de pólvora que ele guardava dentro de
um pequeno chifre e coloquei-o sobre uma palha de milho seca e aberta, fazendo
uma canoinha. Sobre a pólvora, coloquei um pouco de gasolina que ele usava para
colocar no isqueiro, visto que era fumante.
Daí então, incendiei a
“invenção” colocando fogo na extremidade da
palha e afastei-me do “invento” .Quando o fogo chegou onde estava a
pólvora ocorreu uma pequena explosão com o fogo de cor azul.
Mais uma peraltice do mais
velho de quatro irmãos. Se meu pai ficasse sabendo disso, ele me daria umas
boas cintadas.
LEMBRANÇAS DA ESCOLINHA LÁ NO SÍTIO
De minha
casa até a escolinha, havia uma distância de uns cinco quilômetros e o acesso
era feito por estradinha só para caminhantes ou carroça. A escola ficava no
meio de um pasto onde havia gado, com algumas vacas bravas quando estavam com
suas crias novas.
Éramos
muito pobres e minha mãe fez meu uniforme usando sacos que portavam farinha de
trigo e, depois de vazios, eram vendidos pelos comerciantes. A camisa era
branca e a calça, com suspensório do mesmo tecido era tingida de azul com tinta
da marca Guarani.
Certo dia,
retornando após a aula, eu e meu colega Gabriel, que morava num sítio entre o
nosso e o da escola, tomamos uma chuva daquelas e, claro, ficamos totalmente molhados
e assim chegamos em nossas casas.
- Fiico! (era assim que minha mãe me chamava) – Tira essa
roupa molhada. Fiz o que ela mandou e... Surpresa!
Na camisa branca estava um x azul que a tinta do
suspensório havia liberado.
Sinceramente
não me lembro como minha saudosa mãe se virou para que eu fosse de uniforme no
dia seguinte.
Coisas de
crianças pobres de muito tempo atrás!
MAMÃE DURONA!
Certo dia meus irmãos Nilson
e José, mais novos que eu, chegaram da escola rural muito suados, pois a
distância percorrida era grande e o calor era forte.
Trouxeram um punhado de
ovos que, segundo eles, estavam em um ninho lá no meio do pasto.
Não tiveram tempo nem para
terminar a explicação: mamãe os fez voltar e levar os ovos de onde não deviam
ter saídos.
Se eles levaram até o
local exato, só eles sabem. Quer dizer, sabiam, pois já são falecidos.
Que dureza!
O PINTINHO SACRIFICADO
Quando morávamos no pequeno
sítio que tínhamos lá no interior paulista, meu pai estava todos os dias nas
atividades da roça. Mamãe, muitas vezes o ajudava de forma que eu e meus três
irmãos ficávamos sozinhos em casa. Digo três porque o caçula nasceu depois que
nos mudamos de lá.
Eu, sendo o
mais velho (nos mudamos de lá quando tinha dez anos), liderava as “artes” e os
maninhos ficavam esperando o resultado, em especial quando era alguma coisa de
comer.
Certo dia,
mamãe foi lavar roupa na mina e ficamos sozinhos. Não de outra! Fui até um dos
muitos ninhos das galinhas, feitos com taquara em forma de cestos que eram
colocados no galinheiro, onde pequei um ovo para cozinhar.
Dei o tempo
que julguei necessário para o cozimento, retirei-o da água fervente e aguardei
o ovo esfriar. Quando achei que estava pronto para saboreá-lo, fiz um
buraquinho por onde retiraria o gostoso petisco com o cabo de uma colher, isto
depois de colocar um pouquinho de sal.
SURPRESA! – Dentro do ovo estava um pintinho cozido. Eu
não sabia que naquela ninhada havia muitos pintinhos prontos para vir ao mundo!
NÃO ERA CRAQUE, MAS GANHEI DINHEIRO NO CABECEIO
Já contei a estória das
cobras no poço lá na olaria em Bernardino de Campos. Hoje vou contar outra,
ocorrida na mesma olaria, o que mostra que eu era meio impetuoso.
Certo dia,
após o término das tarefas, eu, meu irmão Nilson e nosso pai Sr. Durvalino
conversávamos animadamente com os filhos do patrão. Eles eram lavradores na
mesma fazenda em que se localizava a olaria.
A certa
altura, peguei um pedaço de tijolo (pesando talvez umas cem gramas) e disse que
iria jogá-la para cima e apará-la com a cabeça se alguém topasse pagar cinco
cruzeiros. Era de certa forma, uma esdrúxula aposta. É bom que se esclareça
que, com esse valor, eu compraria dez picolés.
- Eu pago para ver, disse um deles. Aí todos ficaram olhando
para mim.
Joguei o
pedacinho de tijolo para o alto e cabeceei-o para espanto deles. No mesmo
instante o sangue escorreu pela vasta cabeleira. Claro que minha mãe deu uma
bronca danada, mas colocou querosene no local (remédio infalível) e tudo ficou
numa boa.
Ganhei um
“galo” na cabeça, mas dessa vez saboreei dez picolés. Um porre!
NÃO ERA GUARANÁ!
No início da década de 1980 o
estafeta da Seção Pessoal da CBA Wilson Claudio recebeu a incumbência de levar
alguns papéis ao Sindicato dos Metalúrgicos na Vila Santa Luzia.
Feita a
entrega dos tais papéis, o adolescente, que estava com muita sede, resolveu
entrar do Bar do Artêmio Cerioni para beber alguma coisa que o saciasse.
Aconteceu
que outro funcionário da firma, adulto, também foi ao sindicato e, de passagem,
viu o garotão, sentado à mesa e sorvendo gostosamente aquele líquido
refrescante.
Voltando ao
seu local de trabalho, o contínuo, depois de algum tempo, foi abordado pelo
Encarregado David Machado com uma carta de advertência.
- Wilson Claudio – Assina esta carta de advertência aqui.
Ordem da chefia.
- Mas por quê?
- Leia.
O garoto
leu o que estava escrito como motivo da punição: “Por estar bebendo guaraná em
horário de serviço em um bar na Vila Santa Luzia”
- Não vou assinar isso!
- Não? Por quê?
- Porque o motivo aí no papel está errado.
- Errado como?
- Não era guaraná. Era coca-cola. (!)
O CAMINHÃO AMARELO E A SURRA DE CINTA
Quando eu tinha uns oito
anos e morava lá no sítio onde nasci, estava acostumado a ver os caminhões Ford
de cor verde de uma fábrica de amido de Ribeirão do Sul (região de Ourinhos,
SP) que buscavam mandioca que eram cultivadas por minha família e vendidas
àquela indústria.
Certo dia
avistei um caminhão Volvo amarelo que estava chegando lá no sítio de um primo e
compadre da minha mãe. A novidade era a cor diferente do veículo e ele fazia um
ruído muito mais alto (este era movido a diesel e os que eu conheciam a
gasolina).
- Mamãe, deixa eu ir lá no sítio do compadre Zé Emílio
ver um caminhão diferente que chegou lá?
- Não.
O não da
dona Benedita foi ignorado e lá fui ver o tal caminhão. Até ajudei jogar as
últimas mandiocas na carroceria do tal, quando ouvi um chamado que soava muito
familiar aos meus ouvidos:
- Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicoooooooooooooooooo. Era minha mãe me chamando. Fiico era o
diminutivo pelo qual ela me tratava. Mal despedi dos primos e saí em desabalada
carreira pela estradinha de terra. Eis que na metade do trajeto lá estava ela
com as mãos para trás.
- Oi Fiico, vamos para casa.
- Vamos.
Pensei que
ela iria dar-me a mão quando recebi a primeira cintada, seguida de mais não sei
quantas. Correndinho e chorando, cheguei e sentei-me no chão num cômodo da
casinha feita de pau-a-pique.
Dali a
pouco lá veio ela trazendo-me uma caneca com chá de hortelã e lágrimas
escorrendo dos olhos. Correção e compaixão.
Não
era ruindade da mamãe. Era assim naqueles tempos!
CAÇANDO TATU COM O CASCUDO
Meu
irmão Benedito Ribeiro, falecido em Mairinque em 1995 com 48 anos de idade era
carinhosamente tratado pelos amigos pela alcunha de Cascudo. Na verdade, não
sei qual a origem do apelido.
Formou-se
na Escola Técnica Industrial Fernando Prestes em Sorocaba e foi admitido na
Cia. Brasileira de Alumínio na primeira metade da década de 1960. Logo se
tornou craque na área de mecânica. Sabia trabalhar como torneiro, ajustador e
ferramenteiro.
Fez
carreira em indústrias do ramo em Osasco e depois de anos de trabalho por lá,
veio trabalhar numa indústria mecânica chamada HASO no município de Mairinque,
onde se tornou uma espécie de mestre em ferramentaria para usinagem de
plásticos.
Sempre foi
muito companheiro e quando menino gostava de nadar com os colegas no tanque que
existiu perto de onde hoje é a Prefeitura de Alumínio. Depois se tornou craque
no jogo de sinuca e muitos apostavam nele e ganhavam.
Acrescente-se que nossa mãe, dona Benedita não via com
bons olhos nada disso, mas as broncas dela de nada adiantavam. “Fica fria” mãe,
era a resposta dele, não de forma deseducada, pelo contrário, sempre sorrindo.
Gostava
muito de pescar e mais ainda de caçar tatus e um dos locais prediletos para essa
atividade era os arredores da represa de Itupararanga. Quando voltava dessas
incursões, levava umas broncas da esposa dona Benedita, carinhosamente chamada
por Baixinha por motivos óbvios.
Certo dia
no ano de 1977 quando ainda não havia muito rigor e fiscalização no que diz
respeito a caça de animais silvestres, ele convidou nosso primogênito que à
época tinha doze anos, o Wilson Cláudio para uma caçada e o menino topou sem
saber bulufas sobre a aventura na qual estava se metendo.
Já escuro,
lá estava o tio Dito, como ele era tratado pelos sobrinhos, acompanhado por
alguns colegas adultos já acostumados a essas epopéias.
A caçada
começou e os adultos todos correndo atrás dos pobres bichinhos. O Wilson
Claudio não tinha as manhas nem a velocidade dos outros e ficava para traz,
atolando nos brejos próximos à represa.
- Tio! Espera eu!
- Corre Wilson Claudio, não posso esperar senão o tatu
escapa!
- Não agüento mais tio!
- Corre, senão você fica para traz. Aguenta aí e logo
terminaremos o serviço.
Com a roupa
cheia de barro, carrapichos e alguns arranhões, o aprendiz de caçador chegou a
nossa casa. Foi a primeira e última vez que o garoto saiu para caçar tatu com o
tio Cascudo.
Arre!
E OS PICOLÉS FORAM PARA O RALO!
Em 1952 eu e meu mano Nilson
estávamos estudando em Santa Cruz do Rio Pardo, SP e nossa família morava num
sítio há uns oito quilômetros de distância, onde faziam tijolos.
No último
sábado de cada mês eles e os outros oleiros iam à cidade receber seus
pagamentos e fazer a compra do mês. Após as compras iam almoçar na casa de meu
avô materno e a família dele.
Era nessas
ocasiões que eu e o saudoso mano ganhávamos um dinheirinho, que invariavelmente
gastávamos comprando sorvete. E foi que aconteceu: ganhamos uma moeda de dois
cruzeiros, que dava para comprar quatro picolés, que nós chamávamos de
“palitos”.
Logo que
eles almoçaram e voltaram para o sítio, fomos comprar os sorvetes tão
desejados. A rua tinha uma subida e, lógico, depois começava a descer até
chegar à sorveteria.
A alegria
era tanta que meu irmão jogava a moeda, ela corria determinada distância no
asfalto e parava. Ele foi repetindo o gesto até que a moeda foi para a beira da
guia e logo adiante tinha uma “boca-de-lobo” para escoamento das águas das
chuvas.
Para nosso
desespero ela caiu lá dentro e sumiu. Ficamos algum tempo sem saber o que
fazer, porém o jeito foi voltar de cabeça baixa e esperar pelo mês seguinte
para comprar os quatro picolés com outra moeda.
Eita vida
dura...
O RATINHO INSPIRADOR
Éramos tão
unidos e nos divertíamos tanto juntos que nós nos bastávamos: jogávamos malhas
(com pedras), chutávamos bola de borracha, pescávamos, jogávamos bolinha de
gude e caçávamos passarinhos.
Ele sempre
foi melhor que eu em quase todas essas diversões. Entretanto, quando perdia
uma, ficava muito bravo e, via de regra, a brincadeira era interrompida.
Certo dia
estávamos voltando da escola para a casa de nosso avô materno, o qual nos
abrigava, uma vez que nossos pais moravam no sítio onde faziam tijolos, tivemos
uma surpresa: Vimos na calçada uma caixinha toda arrumadinha, como uma dessas
que se coloca um presente para alguém.
Rapidamente
pegamos a caixinha e nos desviamos da rua principal para abrir o “presente” que
havíamos encontrado. Atrás de um muro, desamarramos a fitinha, tiramos o papel
que envolvia a caixinha e abrimos. Surpreeesa! Era um camundongo.
Ao invés de
ficarmos bravos com o ocorrido, tivemos uma idéia: Recompomos o papel e a
fitinha e voltamos à rua principal, onde deixamos a caixinha e de certa
distância, vimos quando um rapaz pegou-a e abriu-a ali mesmo. Ao ver o ratinho
ele, envergonhado, atirou a caixinha com rato e tudo para bem longe.
Absorvemos
a idéia e várias vezes repetimos a pegadinha. Como não tínhamos rato,
colocávamos cocô de cavalo. E nos divertíamos à bessa.
Coisas de
crianças (peraltas).
O DINHEIRO DO ENGRAXATE QUE A CHUVA LEVOU
Ele era um garoto muito
ativo, parte de uma família numerosa que morava em Alumínio, bom de bola quase
tal como o Osmar Andrade - eles têm aproximadamente a mesma idade. Nos tempos
da antiga quadra da AAA ele fazia fila na molecada.
Como ainda
não tinha idade para ser admitido na CBA, engraxava sapatos o que era comum
naqueles tempos em que a moçada gostava dos sapados brilhando.
Do dinheiro
ganho com seu trabalho ele tinha de entregar para ajudar nas despesas da família.
Usando a cabeça, ele separava uma quantia e escondia dentro da boca-de-lobo na
sarjeta ali nas proximidades do Grupo Escolar Comendador Rodovalho.
Mas aí
aconteceu que num começo de noite uma chuva torrencial caiu sobre Alumínio e o
menino ficou desesperado. Não podia ir socorrer o dinheiro nem falar nada em
casa. Coçava a cabeça, andava de lá para cá e, creio, até conteve algumas
lágrimas.Foi lá no dia seguinte e confirmou que o dinheiro a chuva levou.
Talvez seja
por causa disso que o Silas Ribeiro, hoje com mais de setenta anos talvez não goste
muito do nome daquele filme famoso “E o Vento Levou”.
O TELEVIZINHO FRUSTRADO
Em 1959 morávamos na Vila
Paulo Dias e trabalhávamos na olaria desse senhor dono das casas da referida
vila. Éramos vizinhos dos Pistila, cuja família era mais numerosa do que a
nossa.
Naqueles tempos pouquíssimas famílias possuíam
televisor e então existiam os chamados “televizinhos” que ia assistir os
programas prediletos nas casas daqueles que deixavam.
A família Dias na época era composta
pelo próprio Sr. Paulo Dias, Chefe do Escritório da CBA com a esposa dona
Jonadir e filhos, sua irmã Francisca, (ambos casados), o Toninho Dias ainda
solteiro mais os pais, Sr. Jorge e dona Benedita Furquim Dias.
Meu mano Nilson, dois anos mais novo
que eu era um freqüentador assíduo da casa dos Dias e assistia dois programas
de muito sucesso na época. Um era o Vigilante Rodoviário e o outro era o Rin Tin
Tim.
Ele insistia tanto comigo para ir
também que um belo dia resolvi ir até lá. A sala estava cheia de adolescentes
esperando começar um dos programas. Eu, ali, ressabiado.
- Isto aqui não é cinema e todo dia
essa molecada aqui... Era a Francisca, mais conhecida como Chica espaventando a
gurizada. Não ficou um televizinho, e claro, incluindo eu, que acho que dei
azar para os demais. Acho que posso dizer que fui um televizinho frustrado.
PERALTA SIM, PORÉM CORAJOSO!
Nas crônicas que tenho
publicado, várias pessoas tem me tachado de peralta, e, pensando bem, na
verdade eu era. Morando no sítio, pouca gente, eram só os pais se ausentarem e
eu achava um jeito de fazer alguma travessura.
Mas a
verdade é que eu sempre fui bastante corajoso (só tinha medo de assombração).
Isto posto, vou contar um episódio de minha adolescência numa olaria lá no
município de Bernardino de Campos.
Como a
olaria estava parada há algum tempo, o mato havia tomado conta do ambiente,
inclusive da casa onde fomos morar. Próximo dela havia um poço, de onde se
tirava água para abastecer a casa. Também o poço estava rodeado por mato e,
pior, estava aberto e a tampa de madeira caída lá em baixo.
Como era
preciso alguém descer lá no fundo para resgatar a tampa, os adultos presentes
(meu pai, meu tio Antonio, o patrão e vários dos seus filhos), ninguém se
prontificou a realizar a tarefa.
- Eu desço lá, falei para espanto de todos. (Anda bem que
minha mãe não viu!) Fizeram uma gambiarra com uma corda e um pedaço de
eucalipto e lá fui eu içar a tampa.
Amarrei a
mesma numa outra corda. Puxaram-me para fora do poço e depois içaram a tampa.
Terminado o serviço, cada qual tomou seu rumo.
No dia
seguinte mamãe pediu que eu e o mano Nilson tirássemos água do poço para ela
lavar roupa. Como éramos pequenos, eu virava o cambito (aquela coisa parecida
com manivela) para descer e subir o balde com a água e ele puxava o balde para
despejar a água numa bacia.
Quando o
primeiro balde chegou à boca do poço e ele levou as mãos para pegá-lo, olha só
o susto: uma cobra saiu desesperada e caiu fora, embrenhando-se no mato baixo
ao redor da propriedade.
Nos dias
seguintes saíram mais algumas, o que equivale dizer que eu, o menino peralta de
l4 anos, tinha descido (com certo exagero de expressão) em um “ninho de cobras.”
Peralta,
porém corajoso!
UM MENINO FEDORENTO
Eu era bem pequeno, talvez
tivesse uns oito anos e morava no sítio, onde minha mãe criava muitas galinhas
e havia muitos ninhos, muitos deles com ovos.
Certo dia
peguei um ovo, coloquei-o em cima de um pau seco e tentei acertá-lo com meu
estilingue. Errei. Então fui chegando mais perto.
Uma, duas,
três vezes e nada. Cheguei mais perto ainda e aí acertei. O ovo estava choco e
todo seu conteúdo espirrou na minha cabeça.
Mamãe
lavou-me numa bacia com água, não sem vomitar umas três vezes por causa do mau
odor horrível daquele ovo. Ou seria do menino
fedorento?
Lá recebemos a informação que deveríamos fazer um treinamento em São Paulo durante uma semana para apreender operar a máquina Burroughs que iria substituir as calculadoras FACIT e as muitas máquinas de datilografia (tínhamos Olivetti, Remington, Underwood e outras mais). A nova máquina faria em 24 horas aquilo que todos os funcionários levavam a semana inteira para fazer.
Não me lembro qual dos motoristas da CBA nos levou ao Escritório Central na Praça Ramos de Azevedo, onde fomos apresentados ao Diretor Sr. Oswaldo Batista Campos Ele foi conosco à Av. São João nos apresentar aos responsáveis pelo tal treinamento. Informou-nos o hotel onde ficaríamos hospedados e quanto à alimentação poderíamos ficar à vontade, sempre pedindo as notas fiscais.
Tudo correu como o programado e nos horários de almoço e de jantar íamos sempre ao mesmo restaurante, próximo ao local de treinamento. Frango assado num dia frango frito no outro, frango xadrez, frango...
Durante dois anos trabalhei como operador de ponte rolante na CBA
– seção Laminação de Papel.
No final de 1963 resolvi comprar uma lambreta, a
qual veio de São Roque, pilotada por um vizinho e eu na garupa. Estava eufórico
e quase não consegui dormir naquela noite
Em 1967 devido a aposentadoria e mudança do Sr.
Pérsio Barreiro de Alumínio para São Paulo, meu chefe Sr. Philemon de Medeiros,
de saudosa memória, convidou-me a ser correspondente do jornal Diário de
Sorocaba em Alumínio. O relacionamento dele com o jornal estava no fato de dona
Esther, com quem ele se casara, havia sido funcionária do jornal
Em dezembro de 1958 minha família chegou de mudança em Alumínio, oriunda de Ipaussu, pequena cidade do nosso interior. Inicialmente, o propósito era trabalhar na CBA, porém as coisas tomaram outro rumo.
Por participar de uma greve na CBA em março de 1964, meu mano Nilson foi despedido da fábrica, o que causou grande reboliço em casa. Nossa mãe ficou furiosa e, passados alguns meses, lá foi ela pedir nova chance ao Dr. Figueirôa, diretor da empresa, homem tido por muitos como muito bravo.
Em 1956 nossa família trabalhava numa olaria em
Ipaussu, e eu gostava muito de caçar passarinhos depois do término dos
serviços. Eu e meu mano tínhamos nossos estilingues e usávamos bolinhas feitas de
barro que ficavam secas e se prestavam muito bem à finalidade
Em janeiro de1976 fomos à casa de praia da AAA em Itanhaém, valendo-nos do fusquinha que havia comprado dois anos antes. Eu, minha esposa,nossas três crianças e um sobrinho adolescente.
fedorento?
O FEIJÃO E O PESADELO
Eu era bem pequeno, talvez
tivesse uns oito anos e morava no sítio, onde minha mãe criava muitas galinhas
e havia muitos ninhos, muitos deles com ovos.
Já era de
tardezinha. Eu e meu falecido mano Nilson, já falecido, resolvemos brincar de
colocar grão de feijão no ouvido. Ele colocou na parte de cima da orelha e eu,
bobalhão, introduzi o feijão no ouvido mesmo.
Quando eu
quis remove-lo, ele foi mais para o fundo. Quando mais punha o dedo, mais ele
afundava. Bateu o desespero, pois meu pai era bravo e, certamente, iríamos
levar umas cintadas. Contar ou não contar para eles, eis a questão.
Como não
tinha outro jeito, chamei minha mãe e conte-lhe o ocorrido. Ela olhou, tentou
retirar o feijão e nada! Aí ela contou o fato ao marido e os dois me deitaram
na cama e ela usou uma agulha de fazer crochê e aí o feijão partiu-se ao meio.
Tentaram a remoção com água e o feijão cresceu...
Médico só
existia em São Pedro do Turvo, distante 36 quilômetros e para lá foram minha
mãe e meu tio Laurindo. Eu fui na garupa da nossa égua chamada Dourada.
Passamos
por um trecho de mata, isto já por volta das 20 horas, que diziam ser mal
assombrada e realmente vimos algo inexplicável que não vou detalhar aqui para
não alongar muito.
Chegando à
cidade, soubemos que o médico Dr. Martins era vereador e estava participando da
sessão da Câmara Municipal. Lá fomos nós e quando terminaram os trabalhos ele
nos levou ao seu consultório.
Em poucos
segundos, usando uma pinça, ele realizou o serviço. Voltamos no dia seguinte,
tendo nós e o tio solícito pernoitado na casa de uma família conhecida.
Ufa! Ao
invés do “Feijão e o Sonho” o que aconteceu comigo foi o “Feijão e o Pesadelo”.
2 - RAPAZES "PAGANDO MICOS”
A SEMANA DO
FRANGO FRITO
Em
1964 o Brasil estava vivendo os primeiros tempos do Governo Militar. Em outubro
daquele ano os senhores Paulo Dias e Philemon de Medeiros, Chefe do Escritório
e Chefe da Seção Pessoal respectivamente chamaram a mim e ao Jonas dos Santos,
funcionário da Contabilidade para irmos até o escritório do Sr. Paulo, lá mesmo
no antigo prédio da administração da CBA.Lá recebemos a informação que deveríamos fazer um treinamento em São Paulo durante uma semana para apreender operar a máquina Burroughs que iria substituir as calculadoras FACIT e as muitas máquinas de datilografia (tínhamos Olivetti, Remington, Underwood e outras mais). A nova máquina faria em 24 horas aquilo que todos os funcionários levavam a semana inteira para fazer.
Não me lembro qual dos motoristas da CBA nos levou ao Escritório Central na Praça Ramos de Azevedo, onde fomos apresentados ao Diretor Sr. Oswaldo Batista Campos Ele foi conosco à Av. São João nos apresentar aos responsáveis pelo tal treinamento. Informou-nos o hotel onde ficaríamos hospedados e quanto à alimentação poderíamos ficar à vontade, sempre pedindo as notas fiscais.
Tudo correu como o programado e nos horários de almoço e de jantar íamos sempre ao mesmo restaurante, próximo ao local de treinamento. Frango assado num dia frango frito no outro, frango xadrez, frango...
Foi aí que resolvemos experimentar alguma coisa diferente.
Pedimos não me lembro o que e o Jonas não gostou. E se saiu com esta:
- Wilson: Você fique à vontade, mas eu vou chamar o garçom e pedir frango frito.
Arre!- Wilson: Você fique à vontade, mas eu vou chamar o garçom e pedir frango frito.
ESTÁ NERVOSINHO? VAI COMER TOMATE!
Numa semana estava trabalhando no turno das 16
às 24 horas, quando então se jantava tirando vinte minutos para engolir o
rango.
Quando chegaram as marmitas (no meu
caso era um caldeirãozinho de alumínio), desci pela escada de ferro circular
junto à coluna do prédio, que tinha aproximadamente vinte quinze metros de
altura. Coloquei o embornal no ombro e comecei a subida, quando então
arrebentou a alça do embornal e a comida se esparramou escada abaixo.
Muito bravo, desci e pisei em cima da
vasilha, joguei-a com tudo num tambor de lixo e voltei lá para cima ao meu
posto de trabalho. A barriga roncava e eu, sem nada para comer...
Fui salvo por um colega que tirava uma
hora de janta e era vegetariano. Na quitanda do Tico Botti ele foi comer suas
verduras e a meu pedido comprou meia dúzia de tomates os quais comi com um pouquinho de sal.
Talvez seja por isso que até hoje gosto tanto
de tomate!
EU E A LAMBRETA
Nunca tinha pilotado nada
parecido, mas logo peguei o jeito e saí pela cidade exibindo meu bonito veículo
de fabricação italiana na cor vermelho e branco.
Dei
algumas caronas logo no dia seguinte, o que era uma temeridade, pois minha
habilidade era muito pouca para isso, como se constatou mais tarde.
Numa
dessas inconseqüências, fui à igreja Metodista em Mairinque no domingo à noite
levando o José como garupeiro. Como a luz traseira estava queimada, ele usou um
farolete para fazer as vezes do equipamento obrigatório.
No
início do ano seguinte lá íamos nós dois novamente na lambreta, desta vez
subindo pela rua principal da Vila Brasilina com a finalidade de abastecer a
possante no posto existente na Vila Pedágio. No final da subida tentei mudar a
marcha mas não consegui e a lambreta ganhou velocidade na descida que saía na
rodovia. Caímos: eu me ralei bastante e tive ligeiro desmaio. Com ele, tudo
bem.
Retornamos
empurrando a lambreta e ao chegarmos em casa a preocupação era que a mamãe não
me visse com os sangramentos na roupa. Chegamos bem de mansinho para colocar a
lambreta no lado dos fundos da casa.
- Meu Deus do céu, o que foi isso, meus filhos!
- Nada, não,mamãe.
Após outras duas quedas, resolvi vender a
lambreta e comprar alguns móveis. Fiz coisa parecida como aquele sujeito indeciso
que disse: “Não sei se caso ou se compro
uma bicicleta.”
PITACO NO APRENDIZ DE JORNALISMO
Aceitei o
desafio e comecei a enviar as notícias. Certo dia uma senhora perguntou-me se
eu poderia fazer uma “reportagem” para enviar ao jornal, dizendo que o médico
que atuava no posto de saúde em Alumínio não atendia bem as crianças, e que
isso havia ocorrido com o menino dela.
Redigi a
nota, enviei ao jornal e este publicou. No dia seguinte tocou o telefone da
Seção Pessoal e quem atendeu disse-me que dona Noêmia do Posto de Saúde queria
falar comigo.
Foi só o
tempo de colocar o fone no ouvido, dizer alô e recebi uma série de palavras de
advertências, correções e outras coisas mais. Era o dito médico que não vou
citar o nome dele por questões éticas e porque ele não merecia o mal que
involuntariamente eu havia feito.
Dizia ele ao telefone que eu estava difamando o serviço
dele e que se quisesse poderia processar-me por calúnia e difamação.
Escutei
tudo e só conseguia falar “sim senhor” de vez em quando, até que, terminada a
surra de palavras ele desligou. Ufa!
Dali em
diante, sempre que alguém me procurava para fazer uma denúncia ou coisa
parecida no jornal eu dizia. Está tudo bem. Eu faço e você assina um documento
se responsabilizando pelas conseqüências. Mesmo assim, vou conferir o outro
lado da questão.
Daí em
diante foi só alegria. Trabalhei até 1985, passei a receber um cachê e aprendi
muito em termos de redação, ética e outras coisas mais relacionadas ao
jornalismo.
Tive o
prazer de ser membro da Associação Sorocabana de Imprensa e só parei porque
tinha feito nesse período desde o ginasial até a faculdade e não tinha mais
tempo, visto que trabalhava na CBA durante o dia e lecionava à noite em três
cidades diferentes.
Coisas de gente
que deseja aprender e progredir na vida. Às vezes levamos umas pancadas!.
O CAIPIRA, O SOLDADO E SEU FUZIL
Em dezembro de 1958 minha família chegou de mudança em Alumínio, oriunda de Ipaussu, pequena cidade do nosso interior. Inicialmente, o propósito era trabalhar na CBA, porém as coisas tomaram outro rumo.
O Sr. Paulo
Dias, desejando expandir sua vila, construiu uma olaria e contratou meu quando
ficou sabendo que ele era oleiro. Então nossa família produziu tijolos durante
parte de 1959 e ele construiu as tais casas.
Ainda nesse
mesmo ano meu pai foi admitido na CBA, indo trabalhar na Turma Volante 1,
chefiada pelo Engº Renê Casale e tendo o falecido Luiz Gonzaga Falcão como
encarregado do escritório da seção.
Em outubro
o Sr. Paulo Dias, tendo eu atingido a maioridade, chamou-me para trabalhar na
fábrica. Decepção! Não passei no exame médico (Dr. Eno) porque tinha varizes
numa das pernas, resultante do esforço demasiado dispendido na adolescência.
Procuramos
o Hospital das Clínicas e lá estivemos umas seis vezes sem conseguir o intento.
Dona Benedita Dias foi comigo e minhã mãe, sendo que nenhum de nós tinha ido a
São Paulo antes.
Mais três
vezes (eu ia sozinho, de trem) e consegui a operação na Santa Casa no Largo do
Arouche. Mas para isso, tive de pernoitar numa pensão lá bem pertinho para
estar às cinco da matinha e pegar a senha para fazer a consulta.
Aí é que
vem o engraçado em tudo isso. Estava eu passando defronte o antigo e temido
DOPS, depois DEOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e, distraído, ví
um cano atravessado na altura do meu pescoço!
Simplesmente
tentei puxar aquilo para baixo para poder passar! Céus! Era um soldado
sentinela com seu fuzil, postado numa das portas daquele prédio sombrio que
ficou temido depois do movimento militar de 1964. O soldado, impassível,
limitou-se a manter a arma na posição que estava. Então curvei-me, passei e só
depois dei conta da bobagem que tinha feito.
Segui meu caminho, fui operado, trabalhei na
CBA trinta e um anos, estou aposentado há vinte e sete e escrevendo estas
recordações para compartilhar com vocês.
O GREVISTA
Por participar de uma greve na CBA em março de 1964, meu mano Nilson foi despedido da fábrica, o que causou grande reboliço em casa. Nossa mãe ficou furiosa e, passados alguns meses, lá foi ela pedir nova chance ao Dr. Figueirôa, diretor da empresa, homem tido por muitos como muito bravo.
Orientada
que deveria voltar posteriormente trazendo um memorando e em companhia do
filho, dona Benedita assim o fez. Coube-me fazer o tal documento, o qual
entreguei-o à nossa genitora no momento
que me preparava para escovar os dentes após o almoço.
Lá foi ela na casa do
diretor com o filhão a tiracolo. Como era costume dele, antes de entrar para
almoçar, o Dr. Figueirôa atendia uma porção de gente na garagem que ficava na
parte da frente da casa.
Se
achegando a ele, mamãe cumprimentou-o e estendeu-lhe o memorando dobrado. Ele
pegou o documento e, ao abrí-lo, percebeu que alguma coisa branca e pastosa grudara em sua mão. Era creme
dentalque l que eu havia colocado na escova lá em casa e acabou aderindo ao
memorando.
Ele chacoalhou a mão, esfregou-a no muro e autorizou
a readmissão do arrependido grevista, isto depois de dar um sermão que tinha
entre seus dizeres aquela frase:” Cuidado jovem, pau que nasce torto se
endireita enquanto é novo”
Arre!
O RANGIDO DA ASSOMBRAÇÃO
Certo dia,
entramos por um cafezal da fazenda vizinha, nos separamos e eu adentrei um
capão de mato onde existiam árvores bastante altas. Sem perceber, fui me
distanciando cada vez mais e a certa altura, ouvi um estranho e assustador
rangido.
Como tinha
muito medo de assombração, esqueci-me dos passarinhos e, em desabalada
carreira, só parei quando cheguei em casa. É bom que se diga que tive de passar
entre os fios de arames de duas cercas de divisa rasgando a roupa e ficando com
as marcas de alguns arranhões.
Em fins de
1958 nossa família veio de mudança para Alumínio e, após fazer tijolos para o
Sr. Paulo Dias em boa parte do ano seguinte, fomos admitidos para trabalhar na
CBA, ou seja, inicialmente meu pai e depois eu.
O tempo
passou e eu já moço, em certa ocasião voltei de Sorocaba à noite, usando um
ônibus da Viação Cometa. Desci no trevo e fui caminhando pela Av. Senador José
Ermírio de Moraes, que naquela época tinha mão única e não era asfaltada. Seu
leito era de paralelepípedos.
Poucos
metros abaixo da famosa paineira ouvi novamente aquele rangido que me assustara
tanto nos meus tempos de adolescente lá no interior. Assustei-me de início,
porém logo entendi de onde vinha o tal rangido: Eram galhos que roçavam uns nos
outros por causa do vento nas copas das árvores.
O medo da
assombração na existia mais há muito tempo e aquele “mistério” ficou
desvendado. Imaginei na ocasião: sorte dos passarinhos lá na mata de Ipaussu,
onde o caçador foi posto para correr e nunca mais voltou àquele lugar.
SELINHO RELÂMPAGO!
Em 1965 eu estava noivo da moça
Claudineide e ela foi com o pai a São
Paulo fazer compras para seu enxoval.
Eu
estava sabendo que ela estaria no trem que passaria às 6 h 30 minutos na
estação de Alumínio, localidade onde eu morava com minha família e trabalhava
na Cia. Brasileira de Alumínio, onde adentraria ao trabalho às sete horas.
Quando o trem parou na estação, lá estava eu na espreita: entrei rapidamente, dei um selinho relâmpago nela, apertei a mão do seo Claudino Marra e saí antes que o trem se pusesse em movimento.
Quando o trem parou na estação, lá estava eu na espreita: entrei rapidamente, dei um selinho relâmpago nela, apertei a mão do seo Claudino Marra e saí antes que o trem se pusesse em movimento.
Selinho
com sabor de aventura!
11 MANDAMENTOS?
“Os Dez Mandamentos”,
épico norte-americano estava fazendo o maior sucesso nos idos de 1962.
Morávamos em Alumínio e o filme estava em cartaz no cine São José em São Roque,
distante quinze quilômetros
Resolvemos ver o filme. Para ir, tudo fácil, pois havia ônibus a cada duas
horas. Maravilhoso, o filme, no entanto muito longo motivo pelo qual os
exibidores proporcionavam um intervalo à platéia. Por tudo isso, a sessão
terminou depois das vinte e três horas.
Fomos
ao ponto de ônibus e... o último havia partido às vinte e duas. Dinheiro para
táxi ninguém tinha, de forma que o jeito foi botar o pé na estrada. Eu e os
manos Nilson e José, mais nosso amigo Waldomiro Alves, iniciamos a jornada de
volta. No vigor da mocidade, corremos em muitos trechos e por volta das três da
matina chegamos em casa na Vila Paulo Dias.
Todos
tínhamos de entrar as sete no trabalho e o tempo de sono foi minúsculo para
meus manos e o amigo. Eu, como tinha algumas horas extras m haver, entrei um
pouco mais tarde.
Levei pequena repreensão
do chefe, o saudoso Sr. Philemon.
Por causa disso, o David Machado, o Dionizio Bazzo e outros tiraram
sarro de mim, dizendo que, ao invés de dez,assisti “Os Onze Mandamentos”.
PASSE DE ÔNIBUS PARA NAMORAR (!)
O saudoso Dr. Figueirôa
valorizava a formação da família e fazia o que podia para ajudar as pessoas bem
intencionadas a realizar o intento. Um exemplo é o caso das moças que
trabalhavam na fábrica e, quando decidiam casar-se, eram dispensadas, recebendo
o Fundo de Garantia, com o qual compravam seus enxovais.
Mas o que
vou contar aqui, creio, poucas pessoas sabem. Moços que moravam em Alumínio e
acabavam arrumando namoradas em Sorocaba, que foi o meu caso entre vários
outros, ganhavam passe de ônibus para voltar de Sorocaba junto com os operários
que entravam em serviço à meia noite nos domingos!
Dessa
forma, eu participava da Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana nas
manhãs de domingos, isto quando os trabalhos ainda eram realizados lá no
prediozinho aonde foi construído o Terminal Rodoviário da CBA muitos anos
depois. Almoçava e seguia para Sorocaba para namorar a moça Claudineide.
Lanchava na
casa dela e depois participávamos do culto na Igreja Presbiteriana Filadélfia
na Av. São Paulo. Após o culto, voltávamos namorando até a casa dela na Vila
Assis.
O ônibus da
CBA saía do Jardim do Canhão às 23 horas. Eu namorava até que faltasse apenas
quinze minutos e daí... Pernas para as tenho”!
Para os
dias de hoje a cena soaria como muito engraçada: um rapaz muito magricela, de
terno e gravata, portando uma bíblia e às vezes com um guarda-chuva, correndo
feito um maratonista para embarcar no ônibus.
Às vezes
não dava tempo de ir até o “Canhão”, porém de uma forma muito camarada o
motorista parava o coletivo para mim.
Saudade do “Chocolate”, do Zé Messias e outros
que trabalhavam com os ônibus naquele horário lá nos idos de 1964 e 1965.
POR QUE MATARAM ESSE CARA?
Estávamos
no final dos anos setenta e eu estava dando aula de História do Brasil na
Escola Municipal de Ensino Supletivo em Alumínio, no antigo prédio do GE
Comendador Rodovalho.
Na véspera do feriado de
21 de abril, como era de costume, haveria festa cívica com desfile pelas ruas
da cidade, com carros enfeitados, grupo de escoteiros, discursos e tudo mais.
Desfilavam também atletas representando a Associação Atlética Alumínio, pois
nesse dia se comemora a fundação do clube azul e branco de tantas glórias.
Caprichei na aula sobre
Tiradentes. Sem falsa modéstia, consegui impactar boa parte da classe ao
discorrer sobre os motivos e o martírio de Joaquim José da Silva Xavier lá em
Vila Rica, sendo pendurado na forca e seu corpo esquartejado para servir de
exemplo para outros que intentassem contra a Coroa lusitana.
Terminada a aula, coloquei-me à disposição para tirar possíveis dúvidas
que houvesse. Foi aí que um dos alunos (e eram todos adultos) se manifestou:
- Oi professor
-Fala Romão: qual é a dúvida?
- Eu só queria saber uma coisa.
- Diga.
- Por que mataram esse cara?
SAPATOS DIFERENTES
Trabalhando como Assistente Administrativo (o Gerente era
o Sr. Philemon), eu o assessorava em um sem número de tarefas, incluindo a participação
em reuniões com as chefias dos vários departamentos da fábrica, anotando tudo e
fazendo um relatório.
Como eu mantinha dois pares de sapatos debaixo da cama,
sendo um para trabalhar na fábrica e outro para dar aulas no Supletivo
Municipal, aconteceu que paguei um “micaço” daqueles por causa disso e por ser
descuidado.
Certo dia, eu que havia entrado em serviço às 8 horas e
lá pelas 10, notei algo de estranho em meus pés: Estava com um sapato esporte
marrom e um social preto! E daí?
Daí o jeito foi ligar para o falecido Alirton na Divisão
de Segurança e pedir um para de botinas emprestado, o que ele atendeu de
imediato. Um estafeta levou-me um daqueles sapatões cor de abóbora com biqueira
de aço...
Harre!
SOCORRO! TEM FUSCA AFUNDANDO NA PRAIA!
Em janeiro de1976 fomos à casa de praia da AAA em Itanhaém, valendo-nos do fusquinha que havia comprado dois anos antes. Eu, minha esposa,nossas três crianças e um sobrinho adolescente.
Optamos em
ir pela BR 116, chegando por Peruíbe, seguindo dalí para Itanhaém pela
beira-mar. Não demorou para ver que tinha feito uma burrada, uma vez que em
certos lugares aqueles riozinhos que desaguam no mar estavam altos e quase
cobriam os peneus do carango.
Creio que
foi no dia seguinte, resolvemos ir com o carro na praia, mesmo estando alí bem
perto na casa antiga. Estacionei o carro numa certa distância e passamos parte
da tarde tranquilos lá, com as crianças se divertindo, minha esposa vigiando-os
e eu, para variar, tirando uma soneca.
A certa
altura minha esposa voltou com as duas meninas e eu fiquei com os meninos na
praia. A água do mar foi subinho e quando demos conta, estava chegando no
carro. Corremos para tirá-lo,mas o beginho começou a patinar a afundar na
areia.
Então pedi
que o sobrinho corresse até a casa e chamasse os homens que estavam lá para me
ajudar a sair daquela enrascada. Não demorou nada e entre outros surgiram o
Dionizio Bazzo, o Antonio Roberto Miranda (Purguinha) e o carro foi colocado a
salvo.
Aí aconteceu
que o motor não pegou, nem na chave nem no tranco. O Purguinha, eletricista que
é, fez tudo o que podia, mas não teve jeito. Empurramos o carro até a casa da
AAA.
No dia
seguinte fui a Itanhém, comprar um jogo de velas novas que foram colocadas no
talzinho.
Desde então
fiquei devendo esse favor ao amigos de trabalho e em especial ao Purguinha,
hoje meu amigo bem presente no FACE!
UM VEREADOR DEBAIXO DA MESA
Tive o privilégio de ser vereador no Município de Mairinque, quando Alumínio ainda não havia emancipado, de forma que me sentia representante do povo das duas comunidades. Foi no período de 1989 a 1992.
Cada
vereador tinha sua mesa (ou escrivaninha) e uma cadeira giratória. De vez em
quando a gente tinha de beber um pouco de água da garrafinha que ficava sobre a
mesa.
Foi numa
dessas que, ao esticar o braço para pegar o copo, a cadeira foi para trás e eu
para debaixo da mesa. Foi uma risada geral, tanto dos colegas como das pessoas
que estavam acompanhando a sessão. Quem estava usando o microfone na tribuna
parou de falar e deu um tempinho para que o encabulado edil se recompusesse.
As sessões
eram transmitidas pela Rádio Universal de São Roque e acompanhadas pelos
jornalistas Pelica do MK Notícias e Célia Canto do Jornal de Alumínio. Esta,
sempre muito gentil, logo que deu o intervalo aproximou-se e me disse: “Sr.
Wilson, fica tranquilo, pois em respeito à sua figura, não vou postar a foto da
cena no meu jornal. Eu agradeci.
Logo que me
recuperei do inusitado acontecimento saí com esta para disfarçar o vexame:
“Desculpem a vergonha que passei”.
UM VELHOTE PRESO NO SÓTÃO
Faz pouco tempo, resolvi ir ao sótão da nossa casa. Coloquei uma escada, que não era a mais apropriada, e lá fui eu mexer não me lembro mais no que. Lá ficam guardados sobras de materiais da reforma de nossa moradia.
Quando chequei
ao topo da escada e sentei-me na janela que fica entre a laje e o telhado, sem
querer bati com um dos pés na escada e ela caiu. Uau!
Ocorre que
não costumo portar celular e não tinha como ligar para minha esposa nem para
as casas contíguas. Gritar por socorro não adiantaria de nada uma vez que os
muros são altos.
E daí como
ficou a situação? Como eu poderia sair de lá? Pular da altura de mais de três
metros não era a melhor opção, até porque não sou doido. Quero manter intacto
meu velho esqueleto.
Passado
mais ou menos uma hora, aquela que há mais de cinquenta anos me socorre na hora
dos apuros, minha esposa dona Claudineide chegou, entrou dentro de casa e eu
gritei lá de cima:
- Benhê. E ela:
- Onde você está?
- Aqui!
- Aqui onde?
- No sótão.
E lá foi ela colocar a
escada para que seu velhote arteiro pudesse descer! Ufa!
CARAMBA! ESQUECI MEU CARRO!
Corria o ano de 1983, eu estava residindo em Mairinque, trabalhando na
Cia. Brasileira de Alumínio das oito às dezessete horas e na Escola Municipal
de Ensino Supletivo das dezenove às vinte e duas horas como Orientador Pedagógico,
atendendo as seções de Mairinque e Alumínio.
Nos dias em que eu atendia a escola em Alumínio, tinha de vir de carro
uma vez que após o expediente na fábrica eu ia até Mairinque, nove quilômetros
distante e após banho e janta retornava para a jornada na escola, nessa época
já funcionando no novo prédio do “Comendador Rodovalho” nos altos da Vila Paulo
Dias.
Pois bem: Saí conversando com o saudoso amigo e companheiro de trabalho
Célio da Silva, embarcamos e seguimos conversando. Foi só quando o ônibus
passou por uma lombada quase defronte ao Supermercado São Roque que dei conta
que havia deixado o carro lá perto da portaria da fábrica. E aí? Teria de
voltar a Alumínio e entrar às dezenove horas no Supletivo.
O SOS veio através do Sr.Alcyr Pires de Campos, esposo da professora
Helena Manes, companheira de trabalho. O casal deu-me carona até onde estava
minha Caravan lá perto da Portaria da CBA e a partir daí as coisas seguiram seu
curso normal.
Mas antes de terminar é bom acrescentar que fui reincidente: Quando
ainda morava em Alumínio deixei a “Brasília” lá na fábrica e só caí na real
quando cheguei em casa e vi a garagem vazia...
Coisas de coroas esquecediços!
O MARIDO QUE NÃO SABIA O QUE ERA DOCE FOLHEADO
Corria o ano de 1970, eu
estava estudando em Sorocaba, fazendo o último ano de Técnico em Agrimensura no
Liceu Pedro II, e minha esposa dona Claudineide estava grávida.
Certa
tarde, antes de eu ir pegar o ônibus da CBA que levava e trazia os estudantes
para Sorocaba ela me disse que estava com vontade de comer um doce folheado.
Ela não era cheia de “vontades” quando estava grávida. Disse lhe que compraria
e levaria para ela.
Eu conhecia
muitos doces, pois meu pai fazia-os muito bem e ganhava um dinheirinho
vendendo-os nas festas juninas no bairro em que morávamos: Doce de leite, de
coco, de cidra, de abóbora, de amendoim e outros mais.
Já minha
esposa crescera em Sorocaba, tinha hábitos mais apropriados, aprendidos no seio
de sua família. Conhecia comidas diferentes, doces e aí o tal doce folheado, do
qual eu nunca tinha visto nem ouvido falar.
Passei no
Restaurante Scherepel, fui à vitrine e quando a atendente perguntou o que eu
desejava deu “branco total”. Não me lembrei de jeito nenhum o nome do doce e,
perto da meia noite cheguei em casa de mãos abanando e ela acordada esperando o
tal doce.
- Me perdoa bem. Amanhã sem falta eu trarei.
- Está bem. Fazer o quê.
Eu deveria
escrever o nome do doce para não haver dúvida no dia seguinte, porém não fiz.
Ela explicou-me detalhadamente como era e disse-me que falasse para a atendente
o nome e ela me venderia o objeto do “desejo”.
Fui à
vitrine, vi uma porção de coisas que eu não conhecia, achei que não precisava
perguntar nada e mandei ver:
- Me dá um doce daquele ali.
- Ela olhou-me meio sem jeito e atendeu meu pedido.
Fui para
casa feliz da vida visto que estaria satisfazendo o desejo da minha amada.
Peguei o saquinho com o “doce” dentro e entreguei-lhe. Ela, com olhos
brilhantes, antecipando o sabor do “folheado”, me agradeceu.
Alguém já
viu ou ouvir falar que TORRADA é um doce folheado?
COISA DE IDOSO; QUANDO FALTA O SONO
Conheço certo idoso (setenta
e sete anos) o qual começou a trabalhar aos doze, ajudando os pais nos serviços
de olaria. Por causa disso, tinha de levantar as cinco da matina.
Com o
passar dos anos, trabalhando na indústria, sempre levantou cedo e dormia tarde
porque dava aulas à noite em três cidades na região de Sorocaba.
Tendo se
aposentado e trabalhado mais quatro anos, ficou muito aliviado quando se mudou
para uma chácara e levantava quando queria. A idade havia avançado e, por
recomendação médica, passou a dormir umas duas horas todas as tardes.
O costume
de dormir tarde permaneceu e, também por recomendação médica há muitos anos,
utiliza medicamento para que o sono seja tranqüilo. Tudo bem.
Acontece
que algumas vezes alguma coisa não dá muito certo e o homem acorda lá pela
quatro da madrugada e perde o sono. Aí ele espera mais ou menos uma hora e se o
sono não chega ele toma mais um pedacinho do comprimido, o que faz com que o
estoma fique dolorido.
Então ele
levanta e ataca a geladeira, come alguma coisa e volta à cama e só acorda lá
pelas nove da manhã.
Está chato este relato, né?
Pois então
veja essa: Hoje ele acordou, abriu os olhos (claro) e achou que estava vendo
coisas na TV que fica próxima da cama.
Para se
levantar, virou para o outro lado e deu conta que a TV estava desligada e na
parede do outro lado. Ui! Aí ele se lembrou das doideiras dos tempos de UTI em
2013 no hospital.
Há sim: Mais
ou menos como diria Roberto Carlos, “Esse idoso sou eu”.
COM A ÁGUA DA ENCHENTE PELO PEITO
Corria o ano de 1988, eu
trabalhava como Assistente da Gerência Administrativa na CBA e havia sido
eleito vereador à Câmara Municipal de Mairinque para a legislatura de 1989 a
1992.
Quem mora
em Alumínio, Mairinque e São Roque deve se lembrar daquele trechinho da Rodovia
Raposo Tavares quase defronte a Vila Nova Mairinque, o qual ficava alagado
todas as vezes que ocorria uma chuva mais forte.
Meu filho
Wilson Claudio trabalhava na Cooperativa de Crédito em Alumínio e havia
comprado uma Fiat Panorama, até ali o melhor carro que possuíra.
Certo dia toca
o telefone perto das dezessete horas, eu atendo e:
- Pai?
- Oi filho. Tudo bem?
- Tudo bem. Ao invés do senhor ir embora para Mairinque
hoje no ônibus, o senhor toparia ir comigo para experimentar meu carro novo?
Fulano e beltrano também irão.
- OK. Espero-te ali em frente a casa do Grego.
Às 17 horas
e 10 minutos embarcamos na possante e saímos, portanto cinco minutos antes do
ônibus da Transvida, terceirizada da CBA.
Foi pimba!.
Chegando ao tal trecho, passavam ônibus e caminhões, mas os carros pequenos,
neca!
- Pai, eu vou arriscar.
- É melhor não, olha aquele encostado no meio da água lá
na frente.
Não
adiantou meu argumento. Ele engatou uma primeira, acelerou e foi até certo
ponto. O motor apagou, entrou água no carro e todos desceram para empurrar a
dita cuja. Quando já estávamos quase saindo do lado de lá veio o ônibus da com
o os colegas da CBA, (lembro bem que um deles era o Umberto Franceschi e os demais usuários, na maioria me conheciam.
Não de outra!
- Aí vereador! Vê se agora ajuda resolver esse problema!
Foi uma zoeira daquelas. O ônibus foi embora e nós empurramos a Panorama até
sair no asfalto seco.
Eu e todos
os companheiros de Câmara tentamos resolver, não só esse, mas outros tantos
problemas no município, porém o assunto só ficou resolvido quando o DER- Depto.
Estadual de Estradas de Rodagem, com sede regional em Itapetininga entrou em
ação.
Hoje passo
muito raramente por lá e não sei dizer se ainda alguém fica parado no meio da
chuva das enchentes...
EI FUMACEIRA!
De dezembro de 1958 a maio
de 1965 morei com minha família na Vila Paulo Dias. Éramos vizinhos
“parede-e-meia” da família Pistila (Sr. Ângelo, dona Nair e a filharada.)
Em 1959
trabalhamos para o Sr. Paulo Dias, fazendo tijolos, com os quais ele construiu
várias casas na parte alta da vila que leva o nome dele.
Em janeiro
de 1960 fui admitido para trabalhar em três horários na CBA, seção Laminação de
Papel. Quando fazia o turno das 24 às 8 horas, tinha de dormir durante o dia.
Certo dia,
eu estava dormindo, quando não mais que de repente acordei com um estrondo!
Assustado, não tive tempo nem de levantar-me e a casa se encheu de fumaça
misturada com cinza!
Explicando
o ocorrido: O Sr. Durval, pai do Nilton Baiano morava um pouco mais abaixo no
centro da vilinha e se pôs a soltar rojões para festejar a vitória em uma
batalha judicial no Nordeste, de onde a família tinha vindo.
Ocorre que
uma das bombas foi cair justamente dentro do nosso fogão a lenha, entrando pela
chaminé, que era daquelas feitas com manilha de barro.
Moral da
história: Com o susto, perdi o sono, tive de tomar outro banho de bacia e só
bem mais tarde fui completar minhas horas de repouso.
Arre!
“GUARDA NO PATO”
Na década de 1990 veio
pregar na Igreja Presbiteriana de Mairinque um presbítero residente em São
Paulo, a convite de um dos irmãos da nossa igreja.
Foi quando
aconteceu que a certa altura do sermão ele quis contar uma ilustração
compatível com o texto que estava expondo e logo que ele terminou a dita cuja, houve gargalhada geral entre os
presentes. E a cada vez que o homem falava no
nome de um objeto da ilustração o povo gargalhava de novo.
Creio que
ele já contara muitas vezes essa ilustração em outras igrejas e nunca tivera
tanto riso. Então você deverá estar curioso para saber que objeto era esse e eu
vou te contar o que era.
Na estória
contada pelo presbítero, casamento um casamento e os noivos ganharam um pato de
louça, com uma abertura em cima para servir como porta-objeto. Os nubentes no princípio não gostaram muito do mimo, mas resolveram
guardá-lo em algum canto do dormitório.
Não demorou
muito e o tal pato começou mostrar a que tinha vindo:
- Querida: Onde ponho este recibo de pagamento?
- Põe no pato.
- Querido: Onde coloco estas moedas miúdas que não gosto
de carregá-las na bolsa?
- Põe no pato.
E assim
foi. Era ele falar põe no pato e o pessoal gargalhava. Eu em especial tive uma
crise de riso incontrolável e houve um efeito cascata. E um irmãozinho muito
querido chamado Ailton Mota era alvo dos olhares a cada gargalhada.
Ocorre que
por saber imitar com perfeição o Pato Donald, o irmão que mora nos nossos corações
ganhara o apelido de Pato! Daí a conexão inevitável...
Abraço do
tamanho do mundo a você Ailton Mota, o nosso sempre querido “Pato”.
LADRÃO DE CARRO?
O que vou narrar aqui aconteceu
comigo em Sorocaba há uns três anos mais ou menos. Mas já havia acontecido antes,
pois de vez enquanto fico como a Magda do “Sai de Baixo” que certa vez disse:
Quem estou, aonde sou?
A
primeira vez aconteceu em São Roque, próximo à sede do jornal O Democrata.
Entreguei um escrito na redação e voltei para pegar meu carro, na época um
Fusquinha branco. Não conseguia introduzir a chave para abrir a porta e quando
comecei a coçar a cabeça um senhor, dando risada falou:
- Ei companheiro. O seu carro é o que
está atrás. UI! Agradeci e dei no pé, ou melhor dizendo, apertei o pé no
acelerador após pedir desculpas e agradecê-lo.
Mais
inusitado ainda ocorreu aqui mesmo em Sorocaba, onde moro. Fui a um culto na
Igreja Presbiteriana de Sorocaba, onde, aliás, casei-me com dona Claudineide há
mais de 53 anos.
Os
carros ficam estacionados numa rua que passa no lado do fundo da igreja e suas
demais dependências.
Pois bem, acabado o culto, fui até
onde presumi que havia estacionado meu Uno branco introduzi a chave, abri a
porta e sentei-me.
Achei
estranho porque o banco estava bem à frente e eu uso bem para traz devido
minhas pernas compridas. Ajustei-o, pus a chave no contato e a mesma não quis
girar...
Claro,
não era meu possantinho! Talvez fosse de alguma irmã na fé baixinha! Saí de
fininho e nem me lembrei de voltar o banco na posição que estava.
Coitada
da proprietária do carro deve ter pensado que algum ladrão tentara levar seu veículo
e deu muitas graças a Deus pelo “livramento”. Ainda
bem que foi só mais uma lerdice minha!
Morávamos no Jardim Cruzeiro em Mairinque. Eu trabalhava na CBA, minha esposa d. Claudineide lecionava em escolas estaduais e os filhos estudavam. O caçula Artur, à época do fato que vou narrar, também brincava visto que era um pré-adolescente de treze anos.
3 - COISAS DE GENTE E DE ANJOS
QUINZE DIAS DE LOUCURA
Em julho de 2013 fui internado na Santa Casa em Sorocaba com uma violenta arritmia causada pela doença de Chagas e acabei sofrendo uma parada cardiorrespiratória, sendo reanimado por choques elétricos e outros procedimentos médicos apropriados.
Fiquei internado quinze dias na UTI e mais uma semana num quarto. Na UTI, devido o grande número de medicamentos aplicados, acabei ficando totalmente “gagá”, o que é normal nessas ocasiões visto que cada medicamento tem seus efeitos colaterais.
Eu pensava que via tanta coisa ruim acontecendo naquele ambiente que não tenho como descreve-los aqui. Meu cérebro inventava coisas horríveis e criava cenas que uma mente sadia jamais seria capaz de produzi-las.
Fiquei cinco dias “fora do ar” e quando acordei foi que fiquei sabendo onde estava e o motivo de estar entubado e monitorado por uma porção de instrumentos.
Desnecessário se faz falar da dedicação de minha esposa e demais membros da família, mas quero destacar o profissionalismo da equipe médica e de enfermagem e, mais precisamente um deles chamado Lucas Manelli. Naquela época ele era Auxiliar de Enfermagem, mas hoje é Enfermeiro Padrão.
Esse jovem senhor, sempre ao cuidar de minha higiene corporal (eram sempre dois) ele me perguntava se eu queria ouvir algumas músicas. Ele sabia que eu estava muito deprimido.
Eu respondia que sim e ele colocava o fone do MP3 no meu ouvido para que eu me alegrasse com algumas canções. Uma delas me marcou muito e se chama “Deus Vai Fazer”.
Nunca me esquecerei desse fato e desde aquela época nos tornamos amigos. Amigos daqueles que guardamos no lado esquerdo do peito como diz o poeta. Gostaria que vocês ouvissem a canção que está aí no vídeo, independente de religião ou qualquer outra coisa.
CHORA NÃO, MENINO!
Certo dia coincidiu de chegarmos juntos – eu e minha esposa, lá pelas dezoito horas e nossa filha Eliane veio toda assustada ao nosso encontro. Percebemos que algo de anormal estava ocorrendo e ela colocou-nos a par da situação.
Explicou que ela estava trabalhando na cozinha quando ouviu o Artur chamar pelo nome dela lá no começo da escada. Um dos braços dele esvaia-se em sangue e ele estava com o rosto branco como quem iria desmaiar. Ela correu, pegou uma toalha, envolveu o braço dele e pediu socorro na casa da nossa vizinha mais próxima.
Para não alongar muito: fomos à Beneficência Hospitalar e encontramos o Artur deitado, com a cabeça recostada no colo da professora Doroti Antunes e um médico aplicando os últimos de algumas dezenas de pontos no braço do garoto. Quando ouviu nossa voz, quis chorar, mas se conteve quando recebeu carinhosas e encorajadoras palavras da vizinha benfeitora.
Um terreno com areia para construção, cujo muro vizinho tinha cacos de vidro havia sido a causa do acidente. Porém o registro aqui é feito, não para criticar alguém, mas sim para deixar lavrada a gratidão à nossa vizinha da qual temos o prazer de desfrutar de sua amizade até hoje.
Dia destes recebi a foto da professora Doroti Antunes para colocar na “Pequena História do Município de Mairinque” que escrevi. Lá ela está porque faz parte da História da Educação em Mairinque. Mas ao ver a foto dela não pude deixar de relembrar do dia em que ela foi anjo por um dia em nossas vidas. Quem levou o Artur ao hospital naquele dia foi o André Zaparolli.
Doroti e André: Um beijo meu, de d. Claudineide e do Artur nos seus corações.
DOCE DE FIGO
Estávamos em setembro de 1965 e minha esposa Claudineide, então com
vinte anos de idade estava grávida, esperando nosso primeiro filho que viria a
se chamar Wilson Cláudio. Morávamos numa casinha da CBA à Rua Álvaro de
Menezes, parede-e-meia com nossos amigos Jasiel e Ruth Ferreira, muito próximo
ao estádio da Associação Atlética Alumínio.
Num determinado domingo à tarde haveria um culto de evangelização da
Igreja Presbiteriana de Alumínio e o Coral Ebenezer daquela igreja cantaria
como parte do culto. O regente era o presbítero Gediel de Moura, de saudosa
memória.
Logo após o almoço uma febre muito alta tomou conta do organismo da
jovem gestante. Não tinha nenhuma dor nem qualquer sintoma que pudesse levar à
constatação que houvesse uma infecção.
Bem!
- Oi. O que foi benzinho.
- Estou com vergonha de dizer mas estou com uma vontade tão grande de
comer figo em calda!
- É?
- É sim.
- Então vou comprar.
Procurei no bar do Sr. Pedro (que viria a ser o bar da AAA). Não tinha o
tal doce. Havia três armazéns em Alumínio, o do SESI, o do Sr. José Cerioni e o
do Sr. Paulo Dias. Mas era domingo e eles estavam fechados. E a febre não
cedia.
Foi aí que tive uma idéia: fui bater à porta da casa do Sr. José Cerioni
(não me lembro se ele já era falecido nessa época). Quem tocava o
estabelecimento eram os filhos dele Benedito, Artêmio e o genro Enio Fabiani, casado
com a dona Bida. O prédio abrigava o armazém e a residência deles (os que citei
menos o Benedito). Mais tarde o Artêmio teria seu bar e dona Bida seu bazar. O
Ênio morreria num acidente automobilístico na Rodovia Raposo Tavares, altura de
Mailasque.
Logo que bati à porta da residência ela se abriu. A esposa do Sr.
Cerioni, dona Ines (não é Inês) veio atender. Cumprimentei-a e expliquei-lhe a
delicadeza da situação.
- Vem comigo moço. Vamos ao armazém para ver se tem lá. Percorremos
vários corredores e atravessamos diversos cômodos até que chegamos ao armazém.
Fomos olhando nas prateleiras e... lá estavam as latas: figo em caldas!
- Vou levar. Quanto é minha senhora?
- Não sei não. Leva e depois você passa por aqui para acertar com os
meninos.
Abri a tampa da lata usando uma faca de cozinha como meu pai fazia lá na
casa dele. e entreguei-a à minha jovem esposa. Ela comeu ali mesmo, quase todo
o conteúdo da lata..
Parece que aquele doce era a coisa mais gostosa do mundo. E talvez tenha
sido mesmo nas condições dela. De imediato a febre foi embora e nós fomos ao
Cine Alumínio participar do culto. E agora lendo o que escrevi ela diz que não
enjoou de doce de figo.
No dia seguinte passei no armazém para acertar a conta e dona Ines perguntou-me se a febre da esposa havia passado. E acrescentou:
- É moço, com essas coisas não se brinca!
No dia seguinte passei no armazém para acertar a conta e dona Ines perguntou-me se a febre da esposa havia passado. E acrescentou:
- É moço, com essas coisas não se brinca!
Demos graças a Deus e ficamos
eternamente gratos à dona Inês, aquela amável e atenciosa senhora que
naquele dia foi um anjo de Deus em nossas vidas.
MORRENDO NAS ÁGUAS DO RIO IAPÓ
Rolava o ano de 1971 e resolvemos
visitar o cunhado Claudino Marra Júnior na cidade de Castro no sul do Paraná.
Ainda não tínhamos carro, porém meu mano José, sim. Ele com a esposa Josita, o
filho Marco Antonio, eu, minha esposa Claudineide e nossos filhos Wilson
Cláudio, Eliane e Flávia, esta, um bebezinho.
A cidade de Castro é cortada pelo rio
Iapó, afluente do Iguaçu. É bastante caudaloso, piscoso e muito atraente para
os banhistas, existindo uma prainha muito bem conservada pela municipalidade.
Eu não sabia nadar, porém resolvi
brincar no rio. Distraidamente fui me deixando levar mais para o meio, onde a
profundidade foi aumentando. Minha esposa e minha cunhada olhavam nossas
crianças se divertindo ora na beiradinha da água ora na areia da prainha.
Meu irmão, que à época era um homem
jovem e magro, sabia nadar muito bem, porém não estava dentro da água; sorvia
uma bebida geladinha e conversava à beira do rio.
Como disse, eu permanecia em pé no
meio das águas: até certo ponto estas batiam em minha cintura, Dali há pouco no
peito. Em dado momento percebi que estavam batendo na altura do pescoço e
pensei que deveria retornar. Dei um passo nesse intento, porém não encontrei
chão. Desequilibrado, tentei novamente e nada! Percebi que já estava na horizontal
e começando a afundar.
- Socorro! A voz já saiu meio rouca
visto que estava bebendo água. Percebi o esforço de um rapaz que estava ali por
perto em me alcançar e soltei o corpo. Logo percebi que outros braços
juntaram-se ao do rapaz e conseguiram resgatar-me, levando-me para terra firme
onde minha esposa e as crianças assustadas davam graças a Deus pelo livramento.
Eu tinha noção da besteira que havia
cometido e ouvia uma voz dizendo que me deixassem por um pouco que ele iria
tentar levar-me novamente às águas que era para eu não ficar traumatizado. Ele
insistiu, porém eu quis colocar minha roupa e sair daquele lugar.
Além do rapaz, que depois vi que era
bem mais baixo do que eu, os braços que me resgataram das águas foram de meu
próprio irmão José. Ele é seis anos mais novo do que eu, está aposentado, mas
trabalhando muito apesar das dificuldades com o seu excesso de peso. Ele sabe
que o amo muito e oro por ele todas as noites. Sabe da gratidão que tenho por
ele ter salvado minha vida há mais de quarenta anos. Porém esta crônica
escrevo-a para testemunho de minha gratidão. A ele e àquele rapaz que nunca
mais o vi. Foram anjos usados por Deus para resgatar-me das águas,
possibilitando-me continuar minha vida junto de minha esposa, daqueles filhos
que já tínhamos e do Artur que viria seis anos depois.
CRIANÇA EXTRAVIADA NA PRAIA
Em 1971 fomos à casa de praia da Associação Atlética Alumínio pela
primeira vez. Não tínhamos carro e a viagem foi feita de ônibus, via São Paulo
e Santos. Éramos eu, minha esposa d. Claudineide e os três primeiros filhos:
Wilson Cláudio com cinco anos, Eliane com pouco mais de dois e a Flávia com
sete meses.
Estando lá na colônia de férias, saí com o Dionizio Bazzo, meu colega de
trabalho para comprar alguns gêneros alimentícios numa mercearia que havia
distante uns quinhentos metros. As ruas eram ainda totalmente desertas, visto
não existir outras edificações. Havia bastante vegetação natural e um pouco
mais adiante no sentido Peruíbe outra colônia com diversas casas.
Eu e meu companheiro de trabalho Dionizio Bazzo fomos a uma mercearia
distante uns quinhentos metros comprar alguns gêneros alimentícios. A Marli,
filha de meu amigo quis ir junto e o Wilson Cláudio também. Saímos os quatro em
direção a tal mercearia dos Sargentos, mas logo após dobrar a primeira esquina
meu filho quis retornar. Então o Dionizio disse à filha que voltasse com o
menino, visto que ela era mais velha e já estava mais acostumada com o local.
Logo depois lá estava ela de volta conosco e, indagada pelo pai, explicou que o
menininho quis voltar sozinho.
Quando retornamos com as compras minha esposa perguntou-me pelo Wilson
Cláudio. Expliquei a seqüência dos fatos. Mas... Deus do Céu. O menino não
havia aparecido por lá. Escrevendo isso hoje, quarenta e dois anos depois,
ainda sinto um arrepio percorrer meu corpo.
Aí saiu todo mundo para procurar o menino. Naquelas casas logo adiante
as pessoas se irmanaram na busca e depois de quase duas horas o alivio: Lá
longe, vimos três homens, um deles com uma criança nos braços. Aquilo encheu
nossos corações de esperança. Fomos ao encontro e... era ele mesmo!.
Cheios de gratidão para com aqueles homens que nunca havíamos visto
antes e nunca mais vimos depois, quisemos saber como eles haviam encontrado o
menino. E aquele anjo em forma de gente nos disse:
Fácil: Vimo-lo chorando, perguntamos onde ele morava e ele disse que era
em Alumínio. Como na casa da colônia de férias tinha a placa com esse nome foi
fácil saber que ele tinha vindo de lá.
Coisas de crianças e de anjos. E de um pai que não teve a
responsabilidade necessária num momento que precisava tê-la.
DEUS NOS LIVROU NA SABOTAGEM
Em 1979 morávamos em Alumínio e resolvemos visitar nossos familiares em
Pouso Alegre, Minas Gerais. Trabalhei até as dezesseis horas na CBA e pegamos
estrada: eu minha esposa d. Claudineide e os filhos, estando o caçula Artur com
pouco mais de dois anos.
À época tínhamos um Corcel 71 cor de vinho bem conservadinho. Tomamos a
Raposo Tavares e chegamos à Marginal Tietê... bem na hora do rush. Quando
chegamos ao início da Rodovia Fernão Dias era quase nove da noite.
À época eu tinha apenas 38 anos e não tinha nenhuma limitação visual ou
de qualquer outro tipo. Tudo estava correndo bem, quando próximo da cidade de
Extrema, pouco depois da divisa entre São Paulo e Minas ocorreu o inesperado:
duas pedras de tamanho avantajado, haviam sido colocadas sobre a pista
asfáltica.
Embora tenha conseguido desviar delas, o fundo do carro foi atingido. De
imediato percebi que o motor “apagou”, não havia marcha, apenas a direção e os
freios estavam normais. Como era descida, fomos em frente até avistar casas ao
lado da rodovia e ali estacionamos o veículo.
Ainda estávamos a noventa quilômetros de nosso destino. O carro não
funcionava mesmo, então decidimos empurrá-lo mais para perto de uma cerca
existente e tentarmos continuar a viagem de ônibus. No outro dia viria como meu
cunhado pastor-mecânico resgatar o carro.
Passaram ônibus, mas não pararam. Um caminhoneiro parou, quis dar lição
de moral e seguiu em frente. Nós orávamos e até mesmo o caçulinha fazia isso.
Foi quando parou uma Kombi.
- O que aconteceu amigos?
Contei-lhe todo o ocorrido. Ele fez questão de dar uma olhadinha no
carro e depois disse:
- Vamos embora. As crianças podem se deitar aí em cima desses panos
(peças de tecidos) e vocês vão aqui comigo. E foi o que aconteceu. Sentamos ao
lado daquele homem, o qual nos contou que ia da cidade de Itatiba com aquele
carregamento de tecidos da fábrica Argos justamente para Pouso Alegre. Não
faltou conversa até lá.
O homem, do qual não sei dizer o nome estacionou o veículo defronte a
casa de nosso cunhado, entrou, tomou um cafezinho e disse adeus. Nunca mais nos
vimos.
No dia seguinte, logo de manhã meu cunhado foi comigo até onde estava o
carro. Ele consertou o varão do câmbio que ficara torto com a pancada na pedra
e o duto de gasolina que se rompera e voltamos à sua casa.
Coisas de Crianças (de rapazes e de anjos que Deus coloca em nossas
vidas).
4 - COISAS DA MATURIDADE E DA CBA
DR. FIGUEIRÔA E A “RAIZ REDONDA”
Grande incentivador dos estudos, dos quais não abria mão para os menores que desejavam trabalhar na CBA, Dr. Figueirôa nos anos setenta passou a exigir dos profissionais das várias áreas de atividade na fábrica a prosseguir nos estudos, pois na grande maioria só tinham o antigo curso primário.
Certo dia um dos muitos trabalhadores foi ter com o diretor na casa dele para pedir uma promoção. No diálogo que se seguiu, o homem, questionado se estaria estudando, respondeu afirmativamente. E daí aconteceu este diálogo:
- Então jovem, que curso o senhor está fazendo?
- Cálculo Técnico no SENAI, com o prof. José Bento.
- E o senhor já sabe extrair a raiz quadrada?
- Xi, doutor. Nem a raiz redonda eu sei, quanto mais a quadrada!
Creio que ainda não foi dessa vez que saiu a promoção que o colega desejava!
CAÇANDO LEBRE
Era costume dos funcionários da
Administração chegar de cinco a dez minutos antes de recomeçar os trabalhos
após o horário de almoço. Formavam-se então pequenos grupos por afinidade e se
conversava de tudo um pouco.
Entre
os trilhos da ferrovia e o prédio onde trabalhávamos havia uma estreita faixa
de terra coberta de gramíneas e pequenos arbustos. Por baixo dessa vegetação
circulavam pequenos animais, predominando os coelhos ou preás.
Certo
dia, aproveitando os minutos que ainda restavam, dois ou três companheiros
resolveram caçar coelhos. E armados de alguns porretes, iniciaram a empreitada.
Deu treze horas, a maioria dos funcionários entraram e lá ficou um deles,
distraído e sem percepção de horário, desferindo pauladas na tentativa de
acertar um roedor.
Nesse ínterim chegou o Chefe do Escritório Sr. Paulo Dias, estacionou o Nash 52 ao lado do prédio e viu o funcionário na faina de acertar o preá.
Nesse ínterim chegou o Chefe do Escritório Sr. Paulo Dias, estacionou o Nash 52 ao lado do prédio e viu o funcionário na faina de acertar o preá.
Ele entrou, foi até o Sr.
Philemon, chefe do dito cujo e perguntou o que era aquilo lá fora e constatada
a falha funcional do rapaz, disparou a ordem:
- Três dias de gancho para ele.
- Três dias de gancho para ele.
Na pasta funcional do predador ficou arquivada a cópia da carta de advertência.
Nela, o motivo da disciplina: “Por estar caçando lebre em hora de serviço”.
ERA TUDO “CONVERSA FIADA”
Esta também nos foi contada pelo
próprio Dr. Figueirôa: Nos seus primeiros tempos como diretor da CBA ele ia
quase todos os dias a São Roque dirigindo a caminhonete azul com o logotipo da
fábrica estampada nas portas. Comprava um jornal, ia ao banco e fazia outras
coisas de rotina.
Numa dessas vezes, logo que
estacionou o veículo e começou a cruzar a praça da Matriz, um jovem senhor
emparelhou-se a ele, perguntando se poderia pedir-lhe um favor.
- Fala jovem. O que você quer?
- Sabe moço: pelo que estou vendo o
senhor é motorista lá na CBA e eu estou precisando trabalhar. Será que o senhor
me dá uma carona até Alumínio?
- Claro meu jovem. Pode aguardar aí
que já já eu estarei de volta.
No trajeto de São Roque a Alumínio o
homem destampou a falar, acreditando ser papo de um motorista para outro. E
saiu com esta:
- Sabe companheiro: Eu acho que você
trabalha como eu em tabém gosto. Eu só dirijo. Esse negócio de por a mão na
massa não é comigo não. Tem colega aí que dirige, carrega, descarrega. “Tá loco
sô!”
O Dr. Figueirôa só na escuta. E veio
outro caso. E mais outro, até que chegando à esquina da Rua Alexandre
Albuquerque (onde foi construída a pracinha) o veículo parou e o candidato ao
emprego recebeu esta orientação daquele “motorista” baixinho, bigode meio
arrebitado e um topetezinho:
- Jovem: Vá até o Depto. Pessoal e
procure pelo senhor Paulo Dias. Ele vai arrumar uma vaga de motorista para
você.
- Muito obrigado “colega”.
O homem fez como lhe fora dito e em
pouco tempo estava guiando caminhão dentro da fábrica. Feliz da vida, afinal
era a maior fábrica da região.
Certo dia nosso personagem
estava com seu caminhão estacionado no Departamento de Extrusão, mais conhecido
dentro da fábrica como Prensas (local de trabalho de João Sabby, Itagiba de
Moraes, Mathias e tantos outros amigos). Estava em pé, absorto, vendo os
perfilados de alumínio sendo extrudidos quando avistou dois senhores baixinhos
vindo em sua direção. Um ele reconheceu: era aquele de bigode e topete que lhe
dera carona; Estava com uma mão no ombro do outro. Pareciam ser gente
importante dentro da usina. Olhou mais atentamente e não se conteve. Perguntou
a um dos homens que descarregava tarugos de alumínio do seu caminhão:
- Colega: Quem são aqueles dois
senhores que vem vindo ali?
- O de bigode é o diretor da fábrica,
Dr. Figueirôa. O outro é o Dr. Eurico gerente da parte elétrica.
- Aiiiiiiii meu Deus!
Correu ao encontro do diretor e
disse-lhe:
- Dr. Pelo amor de Deus, não acredite
em nada daquilo que eu falei naquele dia da carona.
- Que carona jovem?
- Na semana passada o senhor me
trouxe na sua caminhonete e eu falei uma porção de bobagem. Tudo conversa fiada
Dr. Eu não sou nada daquilo não!
- Jovem: Fica tranqüilo. É você mesmo
com teu trabalho que vai mostrar quem você realmente é. Aqui dentro da fábrica.
Ufa!
GRUDA AÍ – GUDRO NÃO!
Quem presenciou este fato e me contou foi o amigão e ex companheiro de trabalho David Alves Machado, o qual vou tentar reproduzi-lo. Aconteceu no início da década de 1960.
Lá no
escritório antigo da CBA o Sr. Paulo Dias, chefe daquele departamento mandou
chamar um empregado da CBA no escritório dele, anexo à Seção Pessoal.
O
colaborador, como se convencionou chamar os trabalhadores de uma empresa em
nossos dias, chegou ressabiado, adentrou o prédio e foi até o guichê do chefe e
de lá exclamou:
- “Seo” Paulo Dias: Eu sou fulano de tal (não sei qual
era o nome) . O senhor. Quer falar comigo?
- Quero sim. Pode dar a volta e entrar aqui. O homem já
assustado fez o que o Sr. Paulo ordenou e os dois ficaram frente a frente, tipo
aquele faroeste “Duelo ao Por do Sol”.
- O senhor assina esta Carta de Advertência aqui. Ordem
da Diretoria.
- Assino não.
- Assina sim.
O homem,
muito nervoso pegou o papel, rasgou em dois pedaços e jogou ao chão.
Sr. Paulo Dias:
Cata e gruda (com durex) esse papel.
- Gudro não. (o homem invertia a letra r (gudro ao
invés de grudo.
- Gruda sim.
- Gudro não.
Vendo que
não tinha jeito o chefe mandou o homem voltar ao trabalho, chamou um
funcionário que grudou o documento e duas testemunhas assinaram-no.
A Carta de
Advertência foi para o prontuário e fim de papo, grudada e não gudrada.
NO TELEFONE DA CBA – DEU EMPATE!
Por causa
disso ocorreram algumas cenas hilariantes, como esta que vou narrar. Existiam
versões um pouco diferentes para os fatos, então vou escolher uma delas.
Consta que
certo dia o telefone do escritório da Expedição tocou e certo funcionário,
daqueles que gostam de fazer umas gracinhas foi atender: Colocou o fone ao
ouvido e então se seguiu este diálogo:
- Alô, quem está falando? (era o Dr. Figueirôa querendo
falar com o Sr. Bello), mas o funcionário não reconheceu a voz e respondeu,
tentando imitar a voz do diretor:
- É o Dr. Figueirôa.
- Então empatou. Aqui também é ele. Vai logo chamar teu
chefe rapaz.
Sim senhor, já estou indo!
UUUIII!
DESENHAR O BICO DO PATO – COISA DIFÍCIL!
Dificilmente o Dr. Figueirôa ia ao
seu escritório sem antes atender, primeiro na garagem de sua residência e
depois num giro pela fábrica, principalmente nas áreas em ampliação. A
construção civil era seu xodó. Via de regra atendia assessores durante esse
giro, entre os quais, eu.
Muitas coisas eram faladas como tendo
sido ditas ou feitas pelo Dr. Figueirôa, principalmente por seu modo direto e
enérgico de se expressar. A palavra preferida dele ao se dirigir às pessoas era
“jovem”, Isso não dependia da idade do interlocutor.
Vou aqui narrar um acontecimento que
foi confirmado por ele em um dia que
estávamos reunidos, estando presentes os senhores Honorato Nogueira, Mário
Miranda Amaral, Philemon e Sergio Schmidt num escritório dentro da usina.
Trata-se da bastante comentada história que
vamos chamar de “O Bico do Pato. Consta que o Dr. Figueirôa chegou ao
porão da antiga Sala dos Fornos 32 kA e lá estava um trabalhador desenhando um
pato no pilar, usando um pedaço de giz.
Com exceção do bico, o resto do pato
estava desenhado. Mas o tal do bico não ficava bom e o rapaz apagava e
desenhava novamente.
Sem perceber que estava sendo
observado pelo diretor da fábrica, o moço prosseguia na sua tentativa, quando
ouviu aquela voz característica pronunciada pelo chefe maior:
- Jovem: Está difícil fazer o bico do pato né?
Vai para casa treinar três dias para aprender a fazer o bico da ave. E
não teve choro!.
O HOMEM "É MUITO BRABO"
Contava o Dr.
Figueirôa que em 1955 logo que assumiu a direção da fábrica correu
entre os trabalhadores a notícia de que o novo comandante era um homem muito
bravo. E realmente havia um respeito muito grande pelo nome daquele mineiro de
Ouro Preto, de bigode com as pontas um pouco retorcidas.
Num dos giros pelo
interior da usina o Dr. Figueirôa foi à uma área de expansão da Alumina e lá
estava um trabalhador dentro de uma vala, jogando terra para fora com uma pá.
Como a vala já estava funda, o diretor se achegou à beira da mesma e olhou lá
para baixo e aconteceu o seguinte diálogo:
- Jovem: Você está gostando do
trabalho?
- Sabe moço, não posso conversar com o senhor porque me disseram que tem
um diretor novo aí que é brabo que é uma coisa. E mandou terra para cima,
cobrindo as botas do diretor.
PÉ QUEBRADO E GANCHO PARA A MOÇADA
Creio que foi na década de 1970 que aconteceu o fato que vou narrar aqui. Aconteceu no pátio do Almoxarifado Geral da CBA, onde alguns funcionários jogavam uma bolinha depois do almoço.
Na CBA tem
uma máquina enorme chamada Moinho de Bolas, cuja função é moer o minério de
bauxita, transformando-o em pó. Essa operação é realizada por bolas de ferro de
vários tamanhos que vão se revirando dentro do moinho misturadas com a bauxita.
Pois bem.
Alguém do Almoxarifado teve a “brilhante” idéia de, no momento do bate-bola pós
almoço, fazer uma brincadeira com algum colega. E fez.
Viu alguém
que estava chegando, rolou a bola e disse: chuta... Foi aquela “emendada”. A
bola não saiu do lugar e o funcionário caiu, constatando que o pé estava
quebrado.
Chamada a
ambulância e socorrido o craque-vítima, todos os que presenciaram a cena,
assustados, voltaram aos seus postos de trabalho. O assunto, claro foi parar no
Depto. Jurídico e nas mãos do Dr. Figueirôa.
Resultado
do jogo: Gancho para uma porção de gente que direta ou indiretamente participou
daquele “inesquecível” jogo.
QUE SITUAÇÃO VEXATÓRIA!
A empresa
contratada para fazer a terraplenagem instalou uma privada daquelas que eram
muito usadas antigamente, também conhecidas como “casinha”, feitas de madeira e
no assoalho um buraco quadrado para a passagem do material descartado pelos
usuários.
Aconteceu
que certa ocasião, o operador da máquina esqueceu-se da referida casinha e deu
uma ré com tudo, mandando a privada e o usuário para longe...
Consta que
não houve nenhum ferimento no operário. O que não se sabe é se ele tinha
terminado de fazer sua necessidade fisiológica.
Coitado!
“SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ”
Na década de 1960 lá no escritório antigo da
CBA um senhor foi pedir emprego na CBA e orientaram-no que falasse com o Sr.
Paulo Dias, Chefe do Escritório.
Como havia
vaga de Ajudante, o candidato foi enviado ao setor de testes. O funcionário
José Geraldo de Almeida Rodrigues (sobrinho da saudosa professora Therezinha
Souza Arruda Bello) deu os testes e algumas explicações ao candidato a emprego.
Numa folha,
o examinando deveria resolver as quatro operações básicas de aritmética, ou
seja, somar, subtrair, multiplicar e dividir. Tudo bem simplezinho. Na outra
folha, deveria ser redigida uma cartinha simples à CBA pedindo o emprego e
dando o motivo porque o cidadão desejava fazer parte da empresa.
Passado
algum tempo estava tudo pronto e o homem avisou o funcionário. Este levou os
papéis até sua escrivaninha, conferiu as operações e depois leu a carta. Ele,
funcionário, era meio sisudo, mas não conseguiu deixar de rir ao terminar de
ler a cartinha.
O conteúdo
da mesma era mais ou menos assim: Sr. Paulo Dias: Eu sou casado e tenho mulher
e filhos para tratar. Por isso quero trabalhar na CBA, prometendo ser um bom
funcionário e receber meu dinheiro no final de todo mês O motivo é “Porque saco vazio
não para em pé”
Fez exame médico, foi
admitido e a vida seguiu em frente.
O DIA EM QUE ALUMÍNIO PERDEU O DR. FIGUEIRÔA
Foi no dia 13 de
junho de 1985 que o Dr. Figueirôa faleceu. Eu havia entrado em serviço às oito
horas e pouco depois recebi a mais inesperada ligação telefônica da minha vida
profissional. Era o Sr. Philemon de Medeiros, Chefe do Escritório informando-me
que o Dr. Figueirôa havia falecido naquela manhã, ou mais precisamente, que
morrera enquanto dormia.
Em seguida ele
instruiu-me sobre o que eu deveria fazer a partir daquele momento: Ir ao
gabinete do falecido no 4º andar do edifício da Administração e de lá comunicar
o fatídico acontecimento a todas as quarenta e duas chefias de departamentos da
fábrica. Em seguida ligar para os jornais e emissoras de rádio da região.
Não sei o porquê,
mas minha primeira ligação foi para o Engenheiro Dirceu Guimarães, o qual
demorou a acreditar no que estava ouvindo. Quando cheguei ao último nome da
lista, as informações já haviam corrido e se cruzado pelos meandros da grande
usina.
O velório foi na
Igreja Matriz de São Francisco de Paulo, a qual ficou literalmente tomada pelos
colaboradores, amigos e admiradores do grande homem que foi Antonio de Castro
Figueirôa.
No dia seguinte seu corpo foi levado ao Cemitério
da Saudade. Estava encerrada uma era na administração da Cia. Brasileira de
Alumínio.
Se existia e existem
ainda hoje aqueles que viam no Dr. Figueirôa uma figura por demais austera, é
inegável sua influência na formação do homem integral. Para ele, o tempo que
usava no atendimento aos estudantes ou familiares deles não era algo perdido,
mas investimento nas vidas daqueles rapazes que se formaram se
profissionalizaram e constituíram suas famílias, edificaram o patrimônio
próprio e hoje reconhecem, como faço eu, a importância daquele homem nas nossas
vidas.
O Engenheiro José
Netto do Prado, que estava dirigindo outra empresa do Grupo Votorantim (Níquel
Tocantins) retornou a Alumínio e assumiu a Diretoria Industrial da CBA.
Eu fui fazer parte
da Gerência Administrativa, chefiada pelo Sr. Philemon. Em novembro daquele ano
foi inaugurado o prédio novo da Administração.
5 - OUTRAS
O ALUMINENSE DORMINHOCO
Este fato que vou narrar tinha mais de uma versão. Afinal existe aquele adágio de “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Um sujeito,
morador de Alumínio, aproveitando uma folga na CBA foi a São Paulo, usando para
essa viagem ônibus da Viação Cometa. Foi logo de manhã e voltou à noite.
Quando o
coletivo chegou na agência em São Roque, ele que dormira boa parte da viagem,
resolveu ficar esperto, temendo dormir de novo e passar direto pelo trevo da
entrada de Alumínio. Pois não agüentou. Dormiu e quando percebeu, o ônibus se
aproximava de Brigadeiro Tobias, onde ele desceu.
Não demorou
muito e veio outro “Cometa”. Nosso amigo embarcou e sentou-se, na intenção de
ficar bem desperto, senão o que aconteceria?
Pois
aconteceu! Dormiu de novo e quando acordou estava em Pantojo, onde “apeou! Como
não tinha mais ônibus o jeito foi botar o pé na estrada e caminhar até
Alumínio, aonde chegou cansado e, o pior, sem sono!
Arre!
O ESCORPIÃO MORREU, MAS EU FIQUEI BEM
Havia
reformas em casas na vizinhança e muito provavelmente tenha vindo de uma delas
um escorpião amarelo, o qual adentrou nosso quintal, onde não deixamos qualquer
tipo de coisa que possa abrigar esses animaizinhos perigosos.
Ocorreu que
eu havia molhado meu par de sapatos caseiro e coloquei-os para secar lá ao sol.
Nesse mesmo dia caiu uma árvore nas imediações e atingiu a rede de energia
elétrica de tal maneira que ficamos no escuro por mais de vinte e quatro horas.
Como de
costume, na hora de ir dormir, busquei os sapatos lá fora, visto que à noite
uso-os como chinelos. Depois de algumas horas de sono, necessitei levantar-me
para ir ao banheiro.
Sentei-me
na cama, calcei o pé esquerdo e senti uma dorzinha no dedão. Aí o “inteligente”
ao invés de acender a luz e virar o calçado para derrubar o que tivesse dentro,
enviou a mão, achando que fosse uma pedrinha meio cortante.
Ui! - Outra
picadinha! Acendi a luz, virei o sapato e de lá saiu um escorpião amarelo. Eu e
minha esposa capturamos o bichinho, pusemo-lo numa vasilha plástica com tampa e
acionamos o Resgate, visto que nosso carro não estava disponível.
A picada
de escorpião, na maioria das vezes, causa poucos sintomas, como vermelhidão,
inchaço e dor no local da picada, entretanto, alguns
casos podem ser mais graves, causando sintomas
generalizados, como enjôo, vômitos, dor de cabeça, espasmos musculares e queda
da pressão, havendo, até, risco de morte. (Internet)
Fomos ao
Hospital Regional onde duas atenciosas médicas me atenderam prontamente.
Mostrei-lhes o local das picadas, avermelhados e um pouco inchados. Elas viram
também o bichinho e uma delas encolheu-se pedindo que fechasse a vasilha e
chamou o enfermeiro para levar o talzinho.
- Sr. Wilson: Não temos antídoto. Está doendo muito?
Respondi que não e ela mandou aplicar uma injeção de Dipirona e que eu me
acomodasse numa poltrona apropriada e
ficasse em observação durante duas horas. Assim foi feito e como nada tivesse
alterado no meu quadro clínico, ela me deu alta e voltamos para casa.
No dia
seguinte, no retiro que nossa igreja estava realizando em uma escola aqui de
Sorocaba, nosso pastor Dilermando assim se expressou para contar o fato aos
presentes:
- Quero dizer a vocês que nosso presbítero Wilson foi
picado por um escorpião durante a noite. Ele está aqui com a d. Claudineide.
Tudo bem com ele, mas escorpião morreu. Ufa!
O REGIME DO DAVID MACHADO
Para continuar escrevendo as crônicas sobre Alumínio e sua gente, às vezes preciso pedir ajuda a algum ex-companheiro de trabalho e desta vez a ajuda veio do nosso estimadíssimo David Alves Machado.
São três
episódios ocorridos na década de 1960 e vou começar pelo caso do próprio David.
Logo que ele se casou, começou a engordar muito e o médico orientou-o a fazer
um regime e, obediente, começou o tal regime.
Passado
algum tempo, logo que chegamos para o trabalho ele disse-nos que havia perdido
uma boa quantidade de peso. Aí alguém perguntou como era esse regime e ele
explicou:
- Para começar, na hora do café, eu comia oito
torradas e agora como só quatro...(!) Foi só risada na seção.
A GRÁVIDA, A LARANJA E O LOIRINHO
Estávamos no segundo semestre de 1965 e minha
esposa d. Claudineide estava grávida, esperando nosso primeiro filho, o qual
viria a se chamar Wilson Claudio.
Certo dia,
ela teve de ir à Vila Paulo Dias, onde moravam meus pais e, ao passar pelo
belíssimo pomar de cítricos da família Cerioni, carregado com laranjas
madurinhas, não conseguiu conter a vontade de apanhar uma.
Como havia
uma cerca de arame, ela estava pensando em bater à porta da família do Sr.
Benedito/Dona Lourdes Cerioni para pedir uma daquelas saborosas frutas.
Não foi
necessário porque ela viu sair de casa um menino loirinho e, chamando-o,
perguntou se ele apanhar uma daquelas laranjas para ela.
- Claro, dona. Ele apanhou o fruto e quando ia entregá-la
a jovem mulher grávida, a mãe dele, dona Lourdes viu a cena e mandou que ele
fosse buscar uma faca e descascasse a laranja. Ele descascou-a e entregou-lhe. Ela
saboreou-a sentindo ser a melhor laranja que já havia chupado.
Foi assim
que nosso filho não nasceu com cara de laranja e aquele menino loirinho entrou
para a história de nossas vidas. O nome dele: Donizeti Cerioni.
PIONEIRISMO COM PICADA DE JARARACA E FLECHADA NO BUMBUM.
Meu avô
paterno Joaquim Antonio Ribeiro, mais conhecido como Florenção deixou a família
trabalhando nas lavouras de café na região de Ourinhos e ingressou como Vigia
nos serviços da expansão da ferrovia.
Na sua
função estava a vigilância dos demais trabalhadores que faziam o desmatamento e
assentamento dos trilhos e caçar animais que serviam de alimentação para os
trabalhadores.
Ocorre que
eram freqüentes os confrontos com indígenas que habitavam a região. Aí vinham
flechadas para um lado e balas de carabinas para o outro e meu avô estava nessa
luta.
Depois de
certo tempo ele veio rever a família e um sobrinho dele de nome Elias,tanto
insistiu para ir junto que meu avô concordou que ele fosse lá para aqueles
sertões bravios.
Aí
ocorreram dois incidentes que quero compartilhar com quem ler esta narrativa. A
primeira é que meu avô, que só pôs calçado nos pés no dia do se casamento, foi
picado por uma jararaca. A assistência médica disponível era precária, porém
meu avô foi salvo, não sem perder quase toda a carne do pé afetado, que tempos
depois estava regenerado.
A segunda
ocorrência foi com o sobrinho dele, que no meio de uma batalha entre índios e
trabalhadores da ferrovia acabou levando uma flechada, que penetrou fundo em
suas nádegas, parte mais conhecida atualmente como bumbum (para não dizer
aquele nome que soa meio chulo).
Consta que
o coitado foi tratado lá mesmo, tendo a flecha sido removida, mas ele teve de
ficar mais de um mês sem deitar de costas e sem poder andar.
Na próxima
visita de meu avô à família em Campos Novos Paulista seu sobrinho veio junto e
nunca mais falou em trabalhar onde havia índios ou jararacas.
DINHEIRO DO PAGAMENTO SÓ NAS MÃOS DAS MULHERES!
Assim, em
janeiro de 1993 assumi o cargo comissionado de Chefe da Seção Pessoal e
Zeladoria, que exerci até o final de 1994. Em 1995 e passei a exercer o cargo de Diretor Especial
Executivo.
Voltando ao
início, não me recordo bem se foi em 1993 ou 1994, aconteceu um fato inusitado,
pelo menos para mim. Recebi uma ligação do vigário Padre Bóris, informando que
alguém achara uma carteira com certo valor em dinheiro e pelos documentos, o
dono da carteira era funcionário municipal.
Agradeci-o
pela informação e disse-lhe que enviaria um funcionário para buscar a carteira
lá na casa paroquial. Assim foi feito: o padre e o funcionário conferiram o
valor e os documentos que estavam na carteira, assinaram um documento com uma
via para cada um e a carteira foi parar em minhas mãos.
Logo que vi
a foto, reconheci o funcionário, excelente trabalhador como gari, inclusive
passava na rua em que eu morava todos os dias fazendo a coleta de lixo.
Comuniquei o fato ao Chefe de Gabinete e ele orientou-me que chamasse o
funcionário e lhe entregasse a carteira e que ele assinasse também um documento
comprobatório.
Para
resumir este relato, o que acontecia era o seguinte: nos dias de pagamento
mensal feito pela Prefeitura os trabalhadores deixavam o serviço um pouco mais
cedo. Recebiam na Nossa Caixa/Nosso Banco, faziam suas compras e iam para suas
casas.
Mas como em
toda regra existe exceção, alguns ao invés de ir ao supermercado iam a um bar,
ficavam embriagados e alguns dormiam na calçada, perdendo a noção de tudo,
inclusive da carteira com quase todo o dinheiro do pagamento.
Para
solucionar o problema a administração municipal adotou o seguinte critério:
Aqueles funcionários que costumeiramente se embriagavam nos dias de pagamentos
foram aconselhados a levar as esposas e repassar a elas o dinheiro, ficando com
algum trocado para custear a “branquinha.”
Ninguém
chiou e o problema acabou!
NARIZ, AI MEU NARIZ!
Certo dia
apareceu um servidor que trabalhava no Horto Florestal dizendo que precisava
abrir uma guia de acidente no trabalho, assunto que eu conhecia bem visto que
na CBA fiz isso durante vários.
Perguntei-lhe
o que acontecera com ele e a resposta foi que havia tropeçado quando estava a
caminho do trabalho e batera com os olhos em um muro. Realmente em volta dos
dois olhos estava roxo.
Seguindo o
protocolo, encaminhei-o ao Dr. Fernando Cavalcanti Silva, médico da Prefeitura
para dar o parecer dele. Passados uns vinte minutos o rapaz estava de volta,
portando o papel com o parecer do médico, o qual estava em um envelope
grampeado.
Abri o
envelope e lá estava escrito: Sr. Wilson: não se trata de acidente do trabalho.
Como ele conseguiu bater com os dois olhos no muro sem ferir o nariz?
Segurei o
riso, e como não havia outro jeito, li para ele o que médico escrevera. Ele se
levantou, agradeceu-me pela atenção e foi embora.
Realmente o
nariz é sempre o primeiro a chegar quando se bate com o rosto em alguma parede
ou mesmo no chão.
CONCLUSÃO
Este trabalho pode ser melhorado através de críticas construtivas e sugestões. É assim que tenho feito com todas as postagens publicadas em meu blog.
Portanto, se você tiver qualquer contribuição a fazer, poderá entrar em contato comigo através do e-mail indicado no final desta publicação.
SOBRE O AUTOR DA POSTAGEM
É presbítero emérito da Igreja Presbiteriana do Brasil, frequentando atualmente a Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba.
E-mail: prebwilson@hotmail.com
Bastante Interessante!!!
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