APRESENTAÇÃO
A
Vila Industrial pertencente à Companhia Brasileira de Alumínio surgiu junto com
o início das obras de construção da usina no início da década de 1940 na então
localidade de Rodovalho.
A
finalidade das edificações era abrigar os trabalhadores que laboravam de forma
acelerada, fazendo escavações, terraplenagens e outras obras, utilizando-se das
máquinas e ferramentas disponíveis na época.
As casas
eram em geral pequenas, com aproximadamente sessenta metros quadrados, contendo
dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro. Garagem era impensável naqueles
tempos que só os “ricos” possuiam automóveis.
Com o
passar dos anos e o início da produção do metal em 1955, casas maiores foram
construídas e a vila passou a ter basicamente quatro áreas que agrupavam as
residências dos trabalhadores: a dos profissionais, a dos encarregados, a dos
chefes e técnicos e a dos engenheiros.
Com exeção
desta última, em que as edificações tinham uma cor externa em tom cinza escuro,
todas as demais tinham uma cor externa padrão: amarelinho claro. Por dentro as
cores poderiam variar, de acordo com o gosto do usuário. Essa era uma das
muitas coisas estabelecidas pela empresa e executada através da Diretoria
Industrial, na pessoa do Engenheiro Antonio de Castro Figueirôa.
Existia uma
seção que fazia parte do Depto. de Obras que tinha como nome SEMACHIR (Seção
de Manutenção Civil, Hidráulica e Instalações Elétricas Residenciais). Essa
seção foi durante muito tempo chefiada pelo Sr. Mário Lourenço, um prático que
estava entre os mais antigos empregados da fábrica.
A VILA PASSA POR UMA ATUALIZAÇÃO
Aproximadamente na metade da
década de 1970 muitos trabalhadores começaram a adquirir seus automóveis:
Fuscas, Brasílias, Chevettes, Variants, etc. Aí então surgiu a necessidade de
se construir as garagens mas a quase totalidade das casas eram geminadas e não
havia espaço para isso.
Naquelas
que havia espaço as garagens foram construídas. Outra solução foi a construção
de garagens coletivas em determinadas áreas. Outra coisa que ocorrera algum
tempo antes fora a construção de um terceiro dormitório. Aliás, é bom que se
diga que muitas delas foram edificadas originalmente com um dormitório a mais.
A empresa
cobrava um aluguel simbólico que servia apenas para fazer a manutenção nos
imóveis. Aliás, nenhum morador podia fazer qualquer reparo na moradia. Tinha de
avisar a seção que cuidava dos imóveis e ela mandava os profissionais para
realizar o serviço.
“Ganhar”
uma casa na CBA significava sinal de prestígio e, como nos primeiros tempos só
existia a Vila Paulo Dias, que pertencia à pessoa de mesmo nome, mudar-se para
a Vila Industrial era uma realização pessoal para o chefe de família e sua
prole. Com o passar do tempo esses moradores, pleiteavam uma casa maior ou
melhor localizada e a Diretoria deliberava sobre o assunto, tendo um
funcionário para coordenar tudo o que se relacionava com vila.
ALGUMAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS
Em
1972 quando era Auxiliar de Encarregado na Seção Pessoal fui designado para ser
o Coordenador das casas da vila, o que fiz até o final de 1973. Embora fosse
subordinado ao chefe da Seção Pessoal, pela natureza de minha função mantinha
contato quase diário com o diretor da empresa. Isso foi muito bom para o
prosseguimento de minha carreira profissional na indústria.
Por
recomendação do diretor, Dr. Figueirôa, eu ia até a casa dele e o aguardava
para descermos juntos na caminhonete que o levava para dentro da fábrica. “É
para aproveitar o tempo” dizia ele. Na frente de sua casa muitas pessoas eram
atendidas, entre as quais pais ou mães pedindo emprego ou readmissão para os
filhos, conceção de casa na vila e outras coisas mais. Ali também ele assinava
mensalmente os boletins dos estudantes candidatos à admissão na fábrica, quase
em sua totalidade filhos de empregados.
Como tinha
formação em Engenharia Civil e de Minas e Metalurgia, o diretor tinha um xodó
pelas obras em andamento e eu acabava acompanhando-o naquelas enormes
edificações até chegar ao escritório dele no quarto andar do prédio da
Administração. Alí, entre telefonemas e ordens aos seus auxiliares ele
despachava os memorandos e resolvia os assuntos pendentes que eu lhe apresentava.
UM CASO PARA NÃO SER ESQUECIDO
Nós,
funcionários da Administração tínhamos uma hora de almoço. Saíamos do nosso
trabalho e íamos até nossas casas na vila para a refeição. Isso demandava vinte
minutos de ida e volta, sobrando portanto quarenta minutos para a refeição,
fazer um afago na esposa e nos filhos e tentar ver alguma coisa na televisão.
No meu caso
específico no período em que coordenei as casas da Vila Industrial ocorria de
pessoas, quase sempre senhoras, irem até o portão de minha casa, na chegada ou
na minha volta ao escritório. Geralmente saía em cima da hora, ou seja, dez
minutos para “ir morro acima” da Rua Álvaro de Menezes até a Seção Pessoal. Não
podia atrasar sequer um minuto para marcar o cartão de ponto, caso contrário
tinha de prolongar o período de trabalho por mais meia hora, o que era
impensável pois, retornando para casa após o expediente, tinha de banhar-me,
jantar e ir à faculdade em Sorocaba, distante vinte e cinco quilômetros.
Certo dia,
faltavam os tais dez minutos e saí porta afora para retornar ao batente após o almoço e lá vinha uma senhora
que tinha uma casa autorizada para mudar e ela queria tratar sobre detalhes que
diziam respeito à minha participação no processo. Com gestos, tentei fazê-la
entender que não poderia falar com ela ali, senão “rodava” para marcar meu
cartão de ponto.
O que
aconteceu a partir daí foi uma verdadeira tragicomédia: eu quase correndo para
não perder a hora e ela andando o mais depressa que podia e tentando fazer com
que eu parasse para ela explicar-me o que desejava.
Cheguei ao escritório,
marquei meu cartão e, resfolegante, esperei por ela ali mesmo na entrada do
prédio. A pobre também estava cansada, lógico. Aí, sem qualquer discussão ela
disse o que desejava e eu dei-lhe as explicações, encerrando o assunto. Eu fui
para minha escrivaninha e ela voltou à sua casa.
UMA VILA COLORIDA – UMA PARTE DEMOLIDA
Não
sei dizer quando as cores externas das casas da Vila Industrial da CBA foram
liberadas mas o fato é que, vendo-as hoje, percebemos que aquela vila
monocromática não existe mais. Em parte não existe por causa do visual
multicolorido e em parte porque são as casas que ruíram – foram demolidas para
dar lugar a estacionamentos de carretas e automóveis ou para um processo de restauração ambiental.
Uma coisa é
certa: Eu, como todos os que moraram na Vila Industrial em Alumínio guardamos
doces lembranças, como se expressa sempre um dos muitos amigos que temos nas
redes sociais: “Tempo bom que não volta mais.”
ACERVO FOTOGRÁFICO
(Casas da Vila Industrial: fotos de Carlos Alberto Gonçalves)
Trevo de entrada para Alumínio
Vista aérea da Vila Industrial da CBA
Engº Antonio de Castro Figueirôa
Diretor Industrial da CBA (1955-1985)
Diretor Industrial da CBA (1955-1985)
Mário Lourenço
Chefe do SEMACHIR
Chefe do SEMACHIR
Setor onde moravam engenheiros
Moradia de Chefias e Técnicos
Moradia de Encarregados e outros
profissionais
Moradia de profissionais
As mesmas casas com cores padronizadas nas
décadas anteriores e coloridas atualmente
Rua Brandt de Carvalho
Rua Moraes do Rego
décadas anteriores e coloridas atualmente
Rua Brandt de Carvalho
Rua Moraes do Rego
Estacionamentos onde existiam casas
Restauração ambiental
SOBRE O AUTOR
Wilson do Carmo Ribeiro é industriário aposentado, pedagogo e presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil. Trabalhou na CBA 31 anos, morou na Vila Industrial 15 e coordenou-a por 2 anos.
E-mail: prebwilson@hotmail.com
Parabens! Belissima materia! abraços.
ResponderExcluirObrigado Pr Marcos Godinho. Seu pai Marcilio Godinho teve importante participação nessa História da Vila Industrial como Coordenador por muitos anos.
ResponderExcluirOi Wilson,
ResponderExcluirMuito bacana o seu blog! Estou encontrando várias informações importantes para minha pesquisa.
Estou interessada em saber mais sobre as casas da Vila Industrial. Você tem mais documentos e fotos delas? Ou pode me contar um pouco mais sobre a construcão das casas?
Atenciosamente,
Ana Maria A. B. Pereira de Magalhães
Boa noite Ana Maria: Obrigado pelo comentário. Devo informa-la que não tenho nenhum documento a respeito de meus trabalhos sobre a cidade de Alumínio. Tudo o que tenho escrito é por causa da vivência que tive com a localidade a partir de fins de 1958, morando 22 anos lá e trabalhando 31 anos na CBA. Nunca perdi contato com a comunidade, tanto com as pessoas que se mudaram de lá como as que permaneceram. Uma das postagens que contém muitas fotos é:http://wilson-ribeiro.blogspot.com.br/2013/08/cidade-de-aluminio-um-resgate-da-memoria.html
ResponderExcluirSe vc. quiser outras informações que eu possa darr, use meu e-mail: prebwilson@hotmail.com