APRESENTAÇÃO
No dia
17 de dezembro nós comemoramos o Dia do Pastor Presbiteriano. Qual é a razão
dessa comemoração? E por que a fazemos nesse dia?
Muito
bem. Depois de ler a matéria desta postagem você ficará sabendo a resposta a
essas perguntas e muito mais.
Fizemos
uma transcrição da excelente biografia do Reverendo José Manuel da Conceição,
escrita pelo Reverendo Alderi Souza de Matos, historiador oficial da Igreja
Presbiteriana do Brasil.
Vale a
pena você investir um pouco de seu tempo para conhecer a fascinante trajetória
desse servo de Deus que dedicou sua vida inteiramente ao serviço do Mestre.
Além
da biografia, procuramos oferecer aos leitores um acervo de fotos antigas das
cidades mencionadas na matéria, seguindo a ordem em que tais cidades foram mencionadas
na trajetória do Reverendo José Manuel da Conceição.
Votorantim,
que não é mencionada porque naqueles tempos pertencia a Sorocaba, tem uma rua
com o nome do ilustre pastor. Por sinal a Igreja Presbiteriana, conhecida como
a “Igreja da Linha” está situada na rua que leva o nome do Reverendo Conceição.
É justo que coloquemos também uma foto da vizinha cidade.
Que o
Senhor o edifique no conhecimento e que o exemplo desse pioneiro do
presbiterianismo no Brasil sirva de estímulo para cada um de nós.
“Só a Deus toda a glória.”
Rev. José Manoel da Conceição
Alderi
Souza de Matos
"José
Manoel da Conceição nasceu na cidade de São Paulo em 11 de março de 1822, tendo
sido batizado treze dias depois. Era filho do português Manoel da Costa Santos
e da brasileira Cândida Flora de Oliveira Mascarenhas. Dois anos mais tarde, a
família mudou-se para Sorocaba, onde o menino foi criado e educado por seu
tio-avô, o padre José Francisco de Mendonça. Desejoso de seguir o sacerdócio
foi para São Paulo, onde freqüentou o curso anexo da Academia Jurídica e
estudou teologia (1840-1842). Conheceu o frei Joaquim do Monte Carmelo, que foi
seu amigo e defensor até o final da vida. Em abril de 1842 recebeu as ordens
menores da Igreja Católica, inclusive a de subdiácono. Pouco depois, ele e o
tio-avô apoiaram a Revolução Liberal, o que retardou a sua ordenação. Passou a
exercer as suas atividades religiosas em Ipanema, localidade próxima de
Sorocaba, onde foi instalada a primeira fundição de ferro do Brasil.
Desde os
dezoito anos travou contato com a Bíblia, descobrindo conflitos entre os seus
ensinos e certas práticas e doutrinas católicas. Certa vez, ao repreender o seu
professor de desenho, o francês Carlos Leão Baillot, por tê-lo visto andar na
igreja com o boné na cabeça, ouviu dele palavras que nunca esqueceu: “Menino,
aprende em tua Bíblia a distinguir a alegoria da religião. O fim da Bíblia é
ensinar-nos a amar a Deus sobre tudo e depois amarmo-nos uns aos outros como
bons irmãos, filhos de um só Pai que está no céu. Ouves, meu menino?”
Relacionou-se com protestantes e sentiu-se atraído por eles, levado pelo bom
testemunho de suas vidas religiosas. Em Ipanema, visitou a família inglesa
Godwin e as casas dos alemães, impressionando-se com a maneira respeitosa como
guardavam o domingo e com a prática da leitura da Bíblia e de livros
religiosos. Fez amizade com o médico dinamarquês Dr. João Henrique Teodoro
Langaard, com quem aprendeu alemão, história e geografia.
Em 1844 e
1845, Conceição foi sucessivamente ordenado diácono e presbítero da Igreja
Romana, sendo enviado para Limeira. Começou a pregar mensagens evangélicas e a
incentivar o povo a ler a Bíblia, sendo apelidado de “padre protestante”.
Preocupado com a situação, o bispo D. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade
passou a transferi-lo com freqüência de uma paróquia para outra: Piracicaba,
Monte-Mór, Limeira outra vez, Taubaté, Ubatuba, Santa Bárbara e por fim Brotas,
onde chegou em 1860. Nesses anos, Conceição traduziu para os editores
protestantes do Rio de Janeiro, os irmãos Laemmert, algumas obras que também o
influenciaram, como a Nova História Sagrada do Antigo e Novo Testamento,
traduzida em Ubatuba (1856). Esses editores faziam vir da Europa livros que ele
encomendava e lhe ofereciam outros, conhecendo as suas tendências reformistas.
No
primeiro semestre de 1863, Conceição escreveu ao novo bispo, D. Sebastião Pinto
do Rego, sobre as suas lutas espirituais e foi nomeado vigário da vara, um
cargo administrativo sem funções sacerdotais. Comprou um sítio junto ao rio
Corumbataí, perto de Rio Claro, para onde se mudou. No final do mesmo ano,
recebeu a visita do Rev. Alexander Latimer Blackford, missionário presbiteriano
que acabara de mudar-se para São Paulo e ouvira falar do padre que tinha idéias
protestantes. Seguiu-se uma correspondência assídua entre os dois, até que, no
dia 19 de maio de 1864, Conceição chegou a São Paulo para encontrar-se com
Blackford. Conheceu a esposa deste, Elizabeth, que o convidou sem rodeios a se
tornar protestante. Depois de várias palestras longas e proveitosas com o
missionário, o sacerdote voltou para casa no dia 24 decidido a abraçar a fé
evangélica. Na volta, passou por Campinas e levou a irmã Gertrudes do Amaral –
Tudica (1849-1923), com apenas quinze anos, que fora educada pela família
Bierrenbach. Foram para Rio Claro, onde Gertrudes se casou no início de junho
com José Rufino de Cerqueira Leite – Nhô Zé (1844-1907), irmão do futuro pastor
Antônio Pedro.
No dia 23
de setembro, Conceição tornou a ir a São Paulo e foi hospedado por Blackford.
Dois dias depois, um domingo, participou pela primeira vez de um culto
protestante. No dia 28, obteve uma audiência com o bispo e lhe comunicou que
estava deixando o sacerdócio e a Igreja Católica Romana. Uma semana mais tarde,
em 4 de outubro, partiu com o missionário para o Rio de Janeiro, deixando em
mãos de um amigo a carta de renúncia que devia ser entregue a D. Sebastião. Sua
chegada à capital do império causou sensação e quando pregou pela primeira vez,
no dia 9, a sala ficou repleta. Fez amizade imediata com o Rev. Ashbel
Simonton, que ainda sentia a morte da esposa ocorrida há três meses. No dia 23
de outubro de 1864, Conceição fez a sua pública profissão de fé e foi batizado
pelo Rev. Blackford. O Rev. Simonton proferiu breves palavras e o ex-padre
explicou aos presentes o passo que havia dado. A série de conferências que fez
foi o seu primeiro trabalho como evangélico. Sendo culto e eloqüente, a sua
conversão causou consternação no clero católico. Passou a colaborar com os
missionários na redação do jornal Imprensa Evangélica, cujo primeiro
número foi lançado ao público no dia 5 de novembro.
Pouco
depois, sem avisar, Conceição partiu repentinamente, regressando a Brotas, onde
viviam a irmã Gertrudes e seu esposo José Rufino. Debatia-se com uma grave
crise de consciência por causa da sua vida anterior. Depois de algumas viagens
com os missionários e de muitos esforços pacientes dos mesmos no sentido de
tranqüilizá-lo, superou o sentimento de culpa que o atormentava. Foi então, em
meados de 1865, que escreveu a sua bela e inspiradora Profissão de Fé
Evangélica. No dia 13 de novembro daquele ano, graças ao seu trabalho
evangelístico e à colaboração dos missionários, foi organizada a Igreja
Presbiteriana de Brotas, a primeira do interior do Brasil. Blackford recebeu
por profissão de fé onze pessoas da família Gouvêa e batizou dez crianças.
Conceição apresentou a mensagem e fez uma tocante oração de encerramento.
Nos meses
seguintes foram recebidos na igreja vários familiares seus, inclusive Gertrudes
e José Rufino, bem como outros membros da família Cerqueira Leite. Desde fins
de 1863, Conceição vinha distribuindo folhetos e Bíblias em Brotas e expondo
suas dúvidas e novas convicções às famílias Gouvêa e Cerqueira Leite. Em abril
e maio de 1865 acompanhara o Rev. George Chamberlain em Brotas e em outubro e
novembro, o Rev. Blackford, pregando e ensinando na vila e nos sítios. Outro
irmão do ex-padre que veio a se converter foi Venceslau da Costa Santos (Nhô
Lau), nascido em 28 de setembro de 1846, que foi presbítero, residiu em Boa
Vista do Jacaré e outros locais, e faleceu na Fazenda Olivete, em Torrinha, em
junho de 1941. Era casado com Adelaide, filha de Remígio de Cerqueira Leite, um
dos irmãos de Antônio Pedro.
No dia 16
dezembro de 1865, os Revs. Simonton, Blackford e Francis Schneider organizaram
na cidade de São Paulo o Presbitério do Rio de Janeiro, composto das Igrejas do
Rio, São Paulo e Brotas. José Manoel da Conceição foi examinado acerca das suas
convicções e considerado apto. No dia seguinte, um domingo, pregou pela manhã o
sermão de prova sobre Lucas 4.18-19 e à tarde foi ordenado ministro do
evangelho. Blackford fez as perguntas de praxe e Simonton discursou com base em
2 Coríntios 5.20, saudando e exortando o novo pastor. Pouco depois da sua
ordenação, Conceição deu início às suas famosas viagens evangelísticas, que
eventualmente o levaram até Itapeva (sul de São Paulo), Brotas (oeste),
Campanha (sul de Minas) e Barra do Piraí (Vale do Paraíba). Visitou as cidades
e vilas onde havia sido pároco e muitas outras, plantando as sementes de
futuras igrejas. O Rev. George Landes, em um folheto sobre a evangelização do
Paraná, diz que certa vez Conceição visitou a vila de Castro, onde uma de suas
irmãs era professora, e pregou em Ponta Grossa.
Em 28 de
fevereiro de 1866, dois meses e meio após a ordenação, Conceição partiu de São
Paulo pela estrada do sul, passando por Cotia, Una, Piedade, São Roque e Sorocaba,
e retornou à capital. A seguir, foi novamente a Sorocaba, onde pregou por
muitos dias a auditórios sempre crescentes, e distribuiu Bíblias, folhetos e
muitos exemplares da Imprensa Evangélica. O primeiro culto foi realizado
na casa da família Bertoldo. A seguir, Conceição foi a Porto Feliz, Rio Claro e
Brotas, onde pregou na companhia de Schneider e Chamberlain. Após recuperar-se
de um problema de saúde, foi para Rio Claro, onde muitas pessoas o ouviram,
inclusive o vigário local. Esteve em Limeira, Campinas, Belém de Jundiaí
(Itatiba) e Bragança, onde Blackford foi encontrá-lo em 25 de maio. Pregaram a
auditórios de cem a duzentas pessoas, sem incidentes. Voltando a São Paulo,
tomou a estrada do Rio de Janeiro no início de junho, passando pela Penha, São
Miguel, Jacareí e São José dos Campos. Pregou a muitas pessoas no Hotel
Figueira, sendo essa possivelmente a primeira vez que a fé evangélica foi
anunciada naquela cidade. A seguir passou por Caçapava, Taubaté (onde fora
vigário), Pindamonhangaba, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena, Queluz, Resende,
Barra Mansa e Piraí, onde tomou o trem, chegando ao Rio em 29 de junho para a
reunião do presbitério, ao qual prestou relatório. Todo esse enorme trabalho
foi realizado em apenas quatro meses, sendo a maior parte do trajeto percorrida
a pé.
No ano
presbiterial de 1866-1867, após retornar a São Paulo, pregou nas cidades onde
já estivera e em muitas outras. Escrevendo em 30 de agosto, o aspirante ao
ministério Antônio Pedro afirmou: “O nome do padre José Manoel está espalhado
pelo universo; não há lugar onde se passe que não falem em seu nome”. Passou
dois meses em Brotas, que também recebeu a visita de Blackford, Emanuel Pires e
Schneider. Em janeiro e fevereiro de 1867, visitou vários pontos do Vale do Paraíba
na companhia de Blackford. Em março, seguiu para Minas Gerais na companhia de
Miguel Torres, visitando Ouro Fino, Borda da Mata, Pouso Alegre e Santana do
Sapucaí. Em Borda da Mata, pregou três vezes no sítio de Antônio Joaquim de
Gouvêa, parente dos crentes de Brotas. As sete reuniões realizadas em Pouso
Alegre foram muito concorridas. Em 23 de abril de 1867 o jornal Correio
Paulistano publicou a “Sentença de Excomunhão e Exautoração” contra o
ex-padre. No mês seguinte, os jornais publicaram a resposta do Rev. Conceição,
um verdadeiro manifesto evangélico. Em junho ele publicou a sentença e a
respectiva resposta em um livreto que teve grande divulgação. Seguiu então
novamente para o Rio de Janeiro. Tendo chegado pouco antes da reunião do
presbitério (11 a 16 de julho), pregou em Copacabana, São Cristóvão, Cascadura,
Maxambomba, Macacos e Serra, estações da estrada de ferro. Na reunião
presbiterial, leu um texto intitulado “O Brasil necessita da pregação do
evangelho?”
Como a
sua saúde inspirava cuidados, os missionários o incentivaram a ir aos Estados
Unidos, o que ele fez no início de agosto, lá permanecendo quase um ano. Partiu
em 3 de agosto no navio Eclipse e chegou a Nova York em 12 de setembro.
Apresentou ao Dr. David Irving, secretário da Junta de Missões, uma carta de
recomendação de Simonton, e passou alguns dias com Chamberlain, que angariava
donativos para a construção do templo do Rio. Este o levou para conhecer as
igrejas portuguesas de Springfield e Jacksonville, no Illinois, nas quais Conceição
trabalhou durante oito meses e onde aplicou os seus conhecimentos de medicina.
Iria corresponder-se com essas igrejas até pouco antes do seu falecimento. As
mesmas haviam enviado ao Brasil o Rev. Emanuel Pires e logo enviaram os Revs.
Robert Lenigton e João Fernandes Dagama. Nessa estadia nos Estados Unidos,
Conceição fez a revisão de uma tradução do Novo Testamento para a Sociedade
Bíblica Americana e traduziu artigos e folhetos para a Sociedade Americana de
Tratados. De regresso a Nova York, Irving e Chamberlain o acompanharam ao vapor
Mississippi, no qual embarcou no dia 23 de junho de 1868, chegando ao Rio de
Janeiro em 20 de julho. No dia 1° de agosto, embarcou com Blackford e Schneider
para Santos, a fim de participar da reunião do presbitério em São Paulo (5 a 8
de agosto).
Após a
reunião presbiterial, Conceição tomou o caminho do sul, passando por Cotia, São
Roque, Sorocaba, Campo Largo, Alambari e Itapetininga. No início de outubro
retornou a São Paulo e foi para o Rio de Janeiro. Acompanhou Chamberlain no
vapor Parati ao litoral fluminense, visitando Angra dos Reis e Parati. Dali
subiram a serra, passando por Cunha e Lorena, onde houve perseguição. Seguiu
então para São Paulo, visitando as principais cidades e vilas do Vale do
Paraíba. Na capital paulista, foi hospedado pelos Revs. Pires e McKee. No dia
15 de janeiro de 1869 partiu para Atibaia, Bragança, Amparo e Socorro. Esteve
também em São José dos Campos e outros locais. Em julho voltou a São Paulo para
a 5ª reunião do Presbitério do Rio de Janeiro (12-18 de agosto), a última a que
compareceu. O trabalho havia mudado durante a sua ausência no exterior. A
ênfase era outra: não mais o febril desbravamento, mas a consolidação em torno
de alguns centros. Seu relatório foi considerado demasiado longo e recebido com
certo desinteresse.
A partir
de agosto de 1869, Conceição voltou a ser um solitário. Não se sentia atraído
pelas estruturas e formalidades eclesiásticas. Preferia continuar viajando e
pregando, apesar da saúde cada vez mais precária. Nunca mais teve companheiros
de estrada; nunca mais compareceu ao presbitério nem lhe prestou relatório.
Tornou-se um estranho para os próprios amigos, que raramente sabiam onde ele se
achava. Era afligido periodicamente por sérias crises de depressão, que foram,
no dizer de um autor, o seu “espinho na carne”. Em 21 de setembro de 1869,
escreveu de São Paulo à irmã e ao cunhado dizendo-se doente “com umas feridas
grandes e dolorosas” e impossibilitado de viajar. Em 6 de março de 1870
ministrou a Ceia na Igreja de São Paulo em companhia do Rev. McKee e no dia 14
oficiou no sepultamento do Rev. William D. Pitt. Em julho de 1872 esteve no Rio
de Janeiro; em agosto e setembro foi visto em Queluz e depois em Caldas,
Campanha e outros pontos de Minas; de outubro a dezembro andou por Areias e
Mambucaba, no litoral de São Paulo. No primeiro semestre de 1873, esteve em
Queluz, São Paulo, Rio de Janeiro, Piraí, Campo Belo e Caraguatatuba, entre
outros locais. Tornou-se uma figura lendária nas estradas. Em muitos lugares,
enfrentou tremendas perseguições e injúrias. Em Pindamonhangaba, um homem foi
ouvi-lo para insultá-lo, mas a prédica versou sobre o Filho Pródigo e ele
chorava a ausência de um filho querido. Numa fazenda, o dono o interrompeu,
perseguiu-o pela estrada com um chicote e açulou os cães contra ele, deixando-o
gravemente ferido. Em 1872, na cidade de Campanha, foi apedrejado por uma turba
e deixado como morto na estrada.
O Rev.
Conceição exerceu o seu ministério de maneira sacrificial e abnegada. Seu método
era ir de vila em vila e de casa em casa, pregando, lendo e expondo a Bíblia.
Vivia como um nômade, pregando em toda parte e experimentando toda sorte de
privações, que lhe prejudicaram a saúde. Passava a noite em qualquer lugar que
lhe oferecessem e, em sinal de reconhecimento, servia de enfermeiro a algum
doente ou prestava pequenos serviços, como varrer e lavar. Alimentava-se de
maneira frugal e o seu único vestuário era o que lhe cobria o corpo. Nas longas
peregrinações, ocupava as horas vagas escrevendo a lápis sermões, traduzindo
artigos e fazendo anotações curiosas sobre tudo o que observava. Quando se
demorava por algum tempo em algum local onde podia dispor de comodidade,
passava a limpo os seus sermões, hinos, notas e traduções, empregando em tudo
muito método, clareza e uma bela caligrafia. Todos esses papéis ele levava
consigo embrulhados em um pano, até poder dar-lhes o destino apropriado,
enviando uns aos amigos e outros à redação da Imprensa Evangélica. Tinha
uma presença nobre e atraente, voz harmoniosa, grande eloqüência e pureza de
vida. O pouco que possuía, dava aos pobres.
Na
reunião do presbitério em agosto de 1873, decidiu-se que Conceição devia fixar
residência no Rio de Janeiro para cuidar da saúde. Em dezembro, ele finalmente
dirigiu-se só e a pé para aquela cidade, onde o Rev. Blackford alugara uma casa
aprazível em Santa Teresa para ele descansar. Perto de Piraí, indo à estação da
via férrea, anoiteceu e ele buscou abrigo numa casa à beira da estrada. Um
policial, vendo-o descalço e mal-vestido, o levou preso como indigente. Nos
três dias que passou na prisão, gastou os seus últimos recursos, tendo de
seguir a pé para a capital. Ao aproximar-se da cidade, às quatro horas da tarde
do dia 24, caiu desfalecido à beira do caminho, na estrada da Pavuna. Foi
levado para a enfermaria militar do Campinho, onde recebeu carinhosa
assistência. Mudaram-lhe as roupas e lhe deram um caldo; só respondia com
monossílabos e movimentos da cabeça. Pediu para “ficar só com Deus”. Naquela
madrugada, 25 de dezembro de 1873, o Rev. Conceição morreu enquanto dormia. O
major Augusto Fausto de Souza, diretor da enfermaria militar, e o subdelegado
Honório Gurgel do Amaral coordenaram os preparativos para o enterro. Ia ser
sepultado como indigente quando chegou o futuro candidato ao ministério Cândido
Joaquim de Mesquita, enviado pelo Rev. Blackford em busca de notícias. No mesmo
dia, o Rev. Conceição foi sepultado condignamente no cemitério da matriz de
Irajá.
O bispo
D. Pedro Maria de Lacerda soube do ocorrido e repreendeu com veemência os
sacerdotes responsáveis pelo sepultamento, que alegaram não saber que se
tratava do excomungado José Manoel da Conceição. Três anos mais tarde, antes de
vencido o prazo legal de cinco anos, seus ossos foram exumados e transferidos
para São Paulo, sendo sepultados ao lado do túmulo de Simonton, no Cemitério
dos Protestantes. Sua lápide tem dois versículos que bem descrevem o seu
ministério: “Não me envergonho do Evangelho de Cristo” (Rm 1.16) e “Me alegro
nos sofrimentos por seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). O diretor da
enfermaria militar, major Fausto de Souza, anos depois veio a converter-se e
escreveu uma biografia desse herói da fé, publicada na Imprensa Evangélica de
janeiro e fevereiro de 1884, na forma de suplemento, sob o título “Ex-padre
José Manoel da Conceição”.
Em sua
homenagem, a instituição fundada em 1928 pelo Rev. William A. Waddell em
Jandira, nos arredores de São Paulo, recebeu o nome de Instituto José Manoel da
Conceição, nome esse preservado atualmente no seminário presbiteriano situado
no bairro do Campo Belo, na capital paulista. Em Votorantim, cidade próxima de
Sorocaba, a igreja presbiteriana está em uma avenida que leva o seu nome, na
qual também se encontra o seu busto. Como bem apontou o seu biógrafo, Rev.
Boanerges Ribeiro, a maior contribuição do ex-sacerdote foi a proposta de um
modelo brasileiro para a reforma da vida religiosa do seu país. Outro
estudioso, Paul E. Pierson, um ex-missionário no Brasil, também destacou as
características de Conceição que o qualificavam para fazer uma síntese entre o
cristianismo evangélico e a cultura brasileira, em contraste com os seus
colegas estrangeiros e mesmo brasileiros."
SOBRE O AUTOR DA BIOGRAFIA
SOBRE O AUTOR DA BIOGRAFIA
Graduou-se em teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas (1974), sendo também bacharel em Filosofia pela Universidade Católica do Paraná (1979) e em Direito pela Escola de Direito de Curitiba (1983). Após vários anos de ministério no Paraná, fez seu mestrado em Novo Testamento (S.T.M.) na Andover Newton Theological School , em Newton Centre, Massashusetts, EUA (1988) e seu doutorado em História da Igreja na Boston University School of Theology (1996).
Em 1997, o Dr. Alderi veio trabalhar no CPAJ, onde também atua como co-editor da revista teológica Fides Reformata. É historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Ebénezer de São Paulo e articulista conhecido em diversos periódicos acadêmicos e populares. Acaba de publicar seu primeiro livro, "Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900): Missionários, Pastores e Leigos do Século 19", tendo também dois novos títulos em preparação.
GALERIA DE FOTOS
Votorantim - SP:: A Igreja Presbiteriana está situada
à Av. Reverendo José Manoel da Conceição
(Foto do Rev. Manoel Peres Sobrinho - foto abaixo))
Rev. Manoel Peres Sobrinho
Pastor "filho" da IP de Votorantim
São Paulo - SP: Cidade onde Conceição nasceu
Sorocaba - SP: Onde veio morar
Fábrica de Ferro de Ipanema: Contato com
os europeus e primeiras influências protestantes
Piracicaba - SP
Taubaté - SP
Brotas - SP
Rio Claro - SP
Itapeva - SP
Barra do Pirai´RJ - SP
Castro - PR - SP
Ponta Grossa - PR
Ibiúna - SP
Piedade - SP
São Roque - SP
Porto Feliz - SP
Caçapava - SP
Taubaté - SP
Pindamonhangaba - SP
Aparecida - SP
Guaratinguetá - SP
Lorena - SP
Queluz - SP
Rezende - RJ
Barra Mansa - RJ
Piraí - RJ
Rio de Janeiro - RJ
Ouro Fino - MG
Borda da Mata - MG
Pouso Alegre - MG
Santana do Sapucaí - MG
Santos - SP
Campo Largo (Araçoiaba da Serra) - SP
Alambari - SP
Itapetininga - SP
Angra dos Reis - RJ
Parati - RJ
Amparo - SP
Socorro - SP
São José dos Campos - SP
Nova York - USA
Caldas - MG
Caraguatatuba - SP
Campanha - MG
SOBRE O AUTOR DA POSTAGEM
Wilson do Carmo Ribeiro, 72 anos é presbítero,
integrando atualmente o Conselho da Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba, SP. É
industriário aposentado e pedagogo.
E-mail: prebwilson@hotmail.com