Conheci o Sr. Claudino Batista Marra e
sua esposa dona Antônia Bueno Marra em junho de 1964 na cidade de Sorocaba, SP.
Na verdade fui à presença deles para pedir autorização para namorar a jovem
Claudineide, filha do casal, a qual eu conhecera alguns dias antes.
Recebida a autorização, passei a freqüentar a
casa deles aos domingos. Dona Antonia estava sempre presente,
porém sr. Claudino às vezes estava viajando a serviço, que incluía a pregação
da Palavra.
No dia 15-05-1965 na Igreja Presbiteriana
Filadélfia de Sorocaba senhor Claudino entregou-me sua filha no altar e os
Reverendos Abimael de Campos Vieira e Moisés Martins de Aguiar rogaram as
bênçãos de DEUS ao nosso casamento.
Convivi pouco tempo com meu sogro: apenas
quatro anos, uma vez que em 05-05-1968 aprouve ao Senhor chamá-lo aos páramos
celestiais. Sofria do mal de Chagas, que afetou seu sistema digestivo. Foi
sepultado no cemitério de Vila Formosa na capital paulista, mas d. Antonia fez
posteriormente seu translado para Astorga, acompanhada pelo filho mais velho o
querido Marra Junior, norte do Paraná, onde estavam sepultados os pais dela,
dos quais falaremos oportunamente.
Já com dona Antonia meu convívio foi
relativamente longo. Sempre nos demos muito bem e ela nos visitava
freqüentemente. Em 1973 ela achou por bem ir residir em Astorga,tendo em vista
que estava só agora em São Paulo e duas de suas irmãs residiam ali, o que fez
até 1995 quando, debilitada pelo peso da idade e enferma, eu e minha esposa
trouxemo-la para nossa casa em Mairinque, SP. Após tratamento com geriatra em
Sorocaba ela foi para a casa da filha Claudionir e seu esposo Reverendo
Nicodemo Lázaro Boldori em Volta Redonda. RJ.D. Antonia faleceu em 03-07-2001,
sendo sepultada em Barra Mansa, RJ. Em 2007 coube-nos (à filha Claudineide e
eu) transladá-la para Astorga. Acompanhou-nos nesta viagem o Presb. Carlos
Amendoeira e sua esposa dona Maria Luiza. Assim d. Antonia repousa junto
dos pais e do esposo onde aguarda a ressurreição dos justos. Como era submissa,
ficou como Sara junto à Abraão.
A CONVERSÃO DO VÔ
SEBASTIÃO
Em suas anotações d. Claudineide registra como
aconteceu a conversão do Sr. Sebastião Bueno de Freitas no sítio nos arredores
de Borborema:
“A mamãe, como as moças de sua época, aprendeu
também com a mãe a costurar, cozinhar, cuidar da casa, das hortas, dos pequenos
animais, lavar roupas, ordenhar as vacas, ser submissa mesmo que contra a
vontade, ser religiosa e isso graças ao bom Deus foi muito à vontade e com amor
e temor, bom pra ela e para todos nós. Ela contava que quando adolescente
ajudava o vovô Sebastião nas rezas e benzimentos, rezava o terço; a família
hospedava o padre quando vinha para batizar os catequizados; era muita festa
nas rezas e depois muita dança. Um dia passou por lá um colpoltor (vendedor de
Bíblias) conversou bastante com o vovô; ele com a bíblia em mãos (o que era
proibido, até pecado) não foi mais o mesmo homem. Quando o padre veio, recebeu
a mesma hospedagem e com ela muitas perguntas; orientou-o para que deixasse
isso (a Bíblia) de lado porque só traria confusão em sua cabeça e vida. Na
outra vez que ele veio foi a mesma coisa, e aquele padre teve a certeza que
perdera seu ajudante e então recomendou ao vovô Sebastião que se ele estava
gostando da bíblia que a lesse e seguisse. Ele já estava fazendo isso e é
impressionante como a Palavra de Deus é eficaz. Alguém que tinha métodos de
vida bem rudes, enérgicos, duros mesmo, não obrigou ninguém ir para o culto com
ele. A vó Graciana não gostou nada da história e dava uma ligeira sabotada
atrasando o almoço de domingo. Ouvi de várias tias que ele não dizia nada e ia
sem o almoço.
1959 - Tia Tereza esteve
em nossa casa em tratamento e eu ouvindo a conversa delas “lembranças”, fiquei
sabendo que a mesma e seu esposo tio Luis substituíram o vovô nas rezas e
benzimentos, e como a mamãe já era acostumada ia com eles do mesmo jeito: rezas
e bailes. Ela disse que aos 16 anos num baile depois da reza, dançando
(palavras dela) percebeu que o lance da dança ia além do prazer de girar e
valsar e saiu decidida. No dia seguinte que era domingo foi para a Escola
Dominical e culto com o vovô, e para a Glória de Deus, foi definitivamente. Um
a um os filhos todos foram e a vó Graciana também. O amor e temor devotado às
imagens transportaram-se para o Evangelho de Jesus e a hospitalidade recebia
agora jovens pregadores e pastores entre eles Reverendo Gutenberg de Campos que
depois casou a mamãe e o papai.”
VÔ SEBASTIÃO E VÓ
GRACIANA NO SERTÃO
São os pais de Antonia Bueno Marra. É a neta
Claudineide quem discorre a respeito do casal e parte da vida dele: “... fiquei sabendo que o vovô e a vovó foram para o meio do sertão verde,
mato fechado e sua primeira moradia não era nem de pau-a-pique. Ouvi que era
apenas de madeira, varas colocadas umas ao lado das outras, feito antes um rego
para fixá-las no chão e depois juntadas ou amarradas com cipó.
“A casinha da vovó era amarradinha com cipó, o café tava demorando, com certeza
não tinha pó!”. Não tinha pó de café porque ainda precisava derrubar o mato,
limpar tudo para plantar o café que levava sete anos para produzir. Hoje quando
o vapor do café e seu cheiro recendem da cafeteira na cozinha eu penso:
“Obrigada meu Deus, quanta diferença de um século!”.
O teto da
casinha, nunca fiquei sabendo como era, mas as paredes eu vi a mamãe fazendo a
réplica, agora em cercas no nossa terreno no Simus, já era muita diferença,
porque era para os animais.
Na última
vez que visitamos a tia Maria Júlia no sítio em Santa Fé, Wilson, eu e nossas
crianças em janeiro de 1985. A mamãe estava conosco. A prima Olgalina, que mora
em Maringá, e Vicente, seu irmão, ambos filhos de tia Maria Júlia também
estavam, e ouvi mais uma vez detalhes da vida dos avós inclusive o caso de que
algumas vezes os jovens do final do século 19 ouviam de noite o “miado” das
onças.
Quanto
aquela “dupla dinâmica” trabalhou não dá para imaginar. Suas expectativas,
sonhos, tristezas, medos, ansiedades e também graças à Deus alegrias,
realizações, satisfações porque o fato é que nossa mamãe Antonia Bueno Marra,
já conheceu um sítio com pomar, gado bovino, porcos, cavalos, muito frango,
plantação de tudo que fosse comum, usual e prioridade, vários empregados,
parentes morando juntos; a tia Anália, irmã da vó Graciana, tia Idalina, irmã
do vovô e a vó Joana, mãe da vó. Como já mencionei anteriormente, a mamãe dizia
que só compravam o sal, e o vovô não admitia comida fraca nem regulada (pouca)
para todos com certeza também os camaradas. Quando ele sentia que era o caso,
parava todos e tudo e iam escolher os animais de porte, preparar as carnes para
o consumo.[1] Mamãe e as tias contavam que as carnes
dos porcos eram preparadas fritas, defumadas transformadas em lingüiça, banha
para temperar as outras comidas, toucinho e guardadas em latas imersas na banha
não estragavam. As aves era seu preparo por conta das mulheres moças, preparo
tão fácil. As duas filhas Claudionor e Claudionir foram nascer no sitio aos
cuidados da vó Graciana.
UM HOMEM IDEALISTA
Claudino Batista Marra nasceu aos 08-08-1906 em
Itápolis, cidade situada na área central do Estado de São Paulo. Foi um dos
três filhos do casal José Maria Almeida Leite e Ermelinda Batista Marra. O nome
de seu irmão era Laudelino Batista Teixeira e da irmã Sebastiana Ponciana de Carvalho. Antonia nasceu aos 08-08-1916
numa cidade não muito distante de Itápolis – Borborema, na área rural onde os
pais Sebastião Bueno de Freitas e d. Graciana Maria Oliveira laboravam. A
família era numerosa, pois o casal teve oito filhos: Maria Julia, Tereza,
Aurélio, Guilherme, Benedito, Margarida, Antonia e Lázara.
Claudino e Antonia foram apresentados pelo irmão dele, Laudelino,
conhecido como Lau, o qual já estivera no sítio algumas vezes com caravana de
evangélicos. Ela estava exercendo seus
dotes domésticos quando chegou o moço da cidade, que por certo impressionou a
jovem dez anos mais nova do que ele. Claudino tinha a formação de Guarda
Livros, o que equivaleria a um Contabilista nos nossos dias e trabalhava também
como Professor.
Casaram-se em 21-07-1934 e o oficiante
foi o Reverendo Gutemberg de Campos. Claudino treinou e capacitou a esposa
Antonia e ela passou a alfabetizar crianças. Em 10-07-1941 nasceu Claudino
Batista Marra Júnior em Valparaiso, SP e em 13-10-1945 nasceu Claudineide em
Andradina quando os pais residiam na pequena cidade de Alfredo de Castilho,
próximo dalí.
Como afirmei no início,
Claudino Marra era um idealista. Era acima de tudo, homem de ação. Por causa
disso, ainda solteiro e morando em Rio Claro, foi juntamente com seu irmão
Laudelino para frente de batalha na Revolução
Constitucionalista de 1932.
Não bastasse a
defesa do ideal que acalentava, sem saber o soldado Claudino iria contribuir
para que nos últimos anos de vida, a esposa Antonia viesse a receber uma pensão
paga pelo Governo do Estado de São Paulo, devida aos ex- combatentes.
Telegrafista, Claudino trabalhou na Estrada de
Ferro Araraquarense e na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Em função disso o
casal residiu por algum tempo em condições menos favoráveis, mas, como já foi
dito, as coisas haviam melhorado com o passar do tempo e em Castilho o casal
possuía casa com pequeno escritório, uma sala de aula e algumas casinhas
de aluguel.
Em Araraquara Claudino trabalhou em serviços de coletoria.
Em Araraquara Claudino trabalhou em serviços de coletoria.
RUMO ÀS
ALTEROSAS
Claudino Marra acalentava um sonho: trabalhar
na obra missionária na Igreja Presbiteriana do Brasil. Era calvinista convicto.
Não lhe satisfazia o fato de pregar nas igrejas metodistas, denominação na qual
chegou a ser provisionado. Era uma espécie de pastor leigo. (Não escolheu as
planícies verdejantes, mas visualizou as Alterosas inóspitas.) Seria imitador
de Calebe?
Entre as amizades desenvolvidas com pastores
presbiterianos em Itápolis, Rio Claro e em Campinas incluía-se o Reverendo José
Carlos Nogueira, que fora pastor do casal e era uma espécie de padrinho de
Claudino... Foi esse venerando pastor que convidou Claudino Marra para
trabalhar na Junta de Missões Nacionais.
Em abril de 1946 Claudino e sua família
foram de mudança para a Zona da Mata em Minas Gerais. Morando inicialmente em
Sabinópolis a família mudou posteriormente para Guanhães. O saudoso Reverendo
Júlio Andrade Ferreira em sua obra História da Igreja Presbiteriana do Brasil,
vol. 2 – (Casa Editora Presbiteriana, 2ª edição 1992), escreve à página 409:
“foi o início de uma preciosa sementeira de fé. Como acompanhar, porém, todas
as lutas e todas as vitórias de todos os missionários? Como saber das
resistências em Guanhães? Em Virginópolis? Em Peçanha? E não são os lugares
fechados acaso necessitados da cruz?”
Na obra já citada do Reverendo Júlio
Andrade Ferreira, mesmo volume, pág. 406 está o registro: Em 02-11-1939 a Junta
de Missões Nacionais foi organizada na Igreja Presbiteriana Unida, ainda como
Mista. Sim, porque era tríplice: Igreja Presbiteriana do Brasil, Missão de New
York e de Nashville. O objetivo era a evangelização do interior brasileiro.
No ano seguinte a Junta de Missões Nacionais foi
oficializada e o Reverendo José Carlos Nogueira foi seu primeiro Secretário
Executivo. Ele que fora pastor em Araraquara e em Rio Claro, era conhecido do
Sr. Claudino Batista Marra e de sua esposa, dona Antonia Bueno Marra.
Foi por aí que o sonho do ex combatente e ex
telegrafista, agora estabelecido como Guarda-Livros e Professor começou a se
realizar. Assim, em abril de 1946 a família Marra foi para Guanhães na Zona da
Mata em Minas Gerais. (Mat.19.27:”...eis que nós deixamos tudo e te
seguimos...”
A VIDA EM GUANHÃES
Embora
tivesse apenas seis meses de idade e seis anos e meio quando retornou de
Minas, Claudineide sempre foi muito atenta a tudo o que se passava ao seu redor
e era observadora. Os fatos ocorridos foram mentalizados durante o desenrolar
de sua existência e passadas para o papel entre 2005 e 2007. Para descrever a
vida da família Marra em Guanhães entre 1946 e 1952 transcreveremos partes
desses escritos.
“ Sei que o papai tinha sob sua
responsabilidade abrir pontos de pregação, evangelizar sem cessar, dar
assistência a quem quer que fosse. Os reverendos Ludgero Morais e Boanerges
Ribeiro, talvez outros que eu não lembro, faziam depois todo percurso realizando
os atos pastorais, efetivando as congregações. Naquelas ocasiões todas as vezes
passavam pela nossa casa, e eu me lembro que achava tudo muito importante.
Ouvi o papai outra vez conversando com a mamãe e contando que havia passado por
uma trilha beirando a serra. Era um caminho novo para ele e que encurtaria
muito o percurso, mas jamais esquecerei que ele disse que (estou emocionada)
sentiu medo mesmo porque a trilha era tão estreita e pedregosa que um resvalo
da mula ambos rolariam pela ribanceira. E o papai chegou a ver ali restos de
algum fato certamente ocorrido; (no som daqui do quarto está tocando “Tu és
Fiel”, Glória a Deus) ao perceberem minha presença ouvi o papai dizer: “Vai
brincar Neidoleca”. Ainda ouvi que ele disse para a mamãe que nunca mais
passaria por lá porque não se pode tentar a Deus. Quando estudando Literatura
li no poema:
“A serra
do rola moça
não tinha esse nome não,
.................................., lembrei-me desse fato que nos leva a
Hebreus 11. Heróis da fé.
Em uma véspera de Natal como sempre fazia, o papai colocava discos para tocar
em uma vitrola de corda. O som era sofrível porque a medida que a corda ia
acabando a rotação diminuía, era dado corda de novo com uma manivelinha e a
rotação aumentava. Havia uma caixinha com agulhas pois a cada pequeno período
era preciso trocar a agulha senão de sofrível passaria a horroroso o som. Bem,
o papai perguntou-me nessa ocasião que hino eu gostaria que colocasse e eu
respondi: o hino do major. – Hino do major, não tem hino do major. - Tem papai.
– Como é ele? – Maajor, maajor, maajor, maajor! O papai começou a rir tanto,
tanto e eu não sabia por quê. É que o hino era: “Naatal, natal, natal, natal”
São gratas lembranças pessoais.
Lembro-me de conversas em casa a respeito de um senhor a quem chamavam de Nhô
Juca. Em sua propriedade (fazenda ou sítio) haviam iniciado uma congregação
Presbiteriana e ele insistia com o papai para que levasse a mamãe conosco até
lá. Lá fomos nós. Mas não todos.
O papai em um cavalo com o Marra
Júnior na garupa, a mamãe comigo na frente da sela e a bagagem era uma
boa carga para uma mula. Os pequenos ficaram com alguém de muita confiança, a
estadia foi bem pequena, mas o que não sai da frente é a lembrança da descida
que chegava ao rio com a casa do outro lado. A descida era tão forte que a
mamãe desceu do cavalo, levou-me no colo e puxava o cavalo pela rédea; eu não
era tão pequena e agora penso que talvez tenha sido uma visita de despedida. Muitos
cenários, costumes e falas que estavam lá no fundo vieram à tona ao assistir a
minissérie JK.
Em Guanhães morávamos em uma casa assobradada (o mesmo jeito da nossa casa em
Mairinque onde DEUS nos usou para iniciarmos outra igreja) a parte alta dava
para a rua e embaixo havia um salão onde se realizava o trabalho de
evangelização. Se o papai estivesse em casa ele o realizava e se estivesse no
campo missionário era mamãe que tomava a frente da mesma maneira. (A pregadora
ensinou e pregou até 1995, nessa época na rádio, bem longe de Guanhães
Da sacada da sala a gente via
tudo que se passava na rua. Havia um senhor que morava ao lado e todo dia ele
me cumprimentava: - Bom dia senhorita! Parece-me que era “Seu” Benedito e a
esposa Odila. Vez por outra passava uma tropa de muares e ao ouvir de longe o
cincerro da madrinha da tropa a gente ficava esperando para vê-los passar.
Depois que já estava maiorzinha saia para a rua e brincava com as meninas do
meu tamanho: “Ciranda, cirandinha”, “Passa, passa treze”, “Balança caixão”,
“Terezinha de Jesus”, “Boca de forno”. O Claudino também descia e por sua vez
brincava com algum menino. A Claudionir dizia que não gostava e preferia ficar
lá em cima sentada olhando. Havia naquela mesma rua uma serraria,e a mais velha
para passear tinha que levar a Neide a tiracolo e foi lá que ouvi pela primeira
vez o Luiz Gonzaga cantando “Asa branca”. Achei muito bonito. Ouvi também
“Beijinho doce” (Cascatinha e Inhana).
Havia o armazém do Leôncio e quase todas as vezes que a gente ia lá com alguém[2] para buscar algo, estava tocando a
música, Cavalo Preto chamado Ventania com Tonico e Tinoco A caixinha de mate
leão era de madeira.
Lembro-me de ver o papai saindo cedo no meio da neblina para ir à praça colocar
discos na sua vitrolinha, era Semana Santa e os hinos eram sobre a Paixão de
Cristo.
Chupei minha chupeta até seis anos daí em diante durante um tempo só chupava a
tal de manhã, (desde a noite) até o mingau ficar pronto. “Era mingau de maizena
com leite puríssimo.”
Em Guanhães a casa da família
Marra localizava-se à Rua Getulio de Carvalho nº 506-A. No nº 506 funcionava o
salão de cultos, havendo um terreno vazio entre as duas edificações.
A FAMÍLIA MARRA EM
SOROCABA
Passados seis anos em Guanhães,
já não era mais possível à família Marra continuar morando naquela pequena
cidade da Zona da Mata mineira. Três filhos nasceram em Guanhães: Claudio Antonio, Claudirceu e Eliézer. Os mais velhos precisavam estudar e na
cidade só havia o antigo curso primário.
Assim, A JMN e seu missionário se
entenderam e a família Marra veio de mudança para Sorocaba, cidade distante cem
quilômetros da capital paulista e detentora de muitas indústrias têxteis a
ponto de ser chamada de “Manchester Paulista”.
Deixemos
que d. Claudineide fale como as coisas se desenrolaram: “Terras de cerrado, na
região que ganha esse nome em Sorocaba, no Jardim Simus onde crescemos cercados
de eucaliptos até onde a vista (do papai e da mamãe) alcançava, porque éramos
pequenos. Ali chegamos em Abril de 1952. A Claudionor estava fazendo 17 anos, a
Claudionir 13, digo fazendo, porque elas são aniversariantes do dia 24 de
abril, o Claudino ia fazer 11 anos no dia 10 de julho, eu, Claudineide 7 anos
no dia 13 de outubro, o Cláudio 5 anos no dia 4 de junho, o Claudirceu 4 anos
no dia 12 de agosto e o Eliézer 3 anos no dia 7 de novembro. O papai completava
naquele ano 46 e a mamãe 36. Faziam aniversário juntos no dia 8 de agosto.
Houve ano que era Dia dos Pais e aniversário dos dois no mesmo dia... Papai
viveu só mais 16 anos e lembro-me de uma estrofe que veio num cartão que era de
um Dia dos Pais:
“Eras meu
pai qual formiga trabalhavas o ano inteiro
para suster nossas vidas e encher
nosso celeiro.
À medida que vivemos como quem de
um sonho sai
Pela vida afora vemos, quanta
falta faz o papai.”
Veio
também de Guanhães conosco o Marcelo que ia fazer 12 anos no dia 28 de
agosto...
...O papai e a mamãe conforme
João escreveu no Apocalipse porque Jesus declarou, moram na cidade Celestial
cercados de tudo maravilhoso que a nossa imaginação não alcança, e que
contrasta totalmente com essa rua em que viemos morar. Sem valetas causadas
pelas enxurradas, sem falta de luz, porque o próprio Jesus é o Sol da Justiça,
sem falta de água porque Ele é a Fonte da Água Viva e a praça daquela cidade é
de ouro puríssimo: “Jamais se contou ao mortal.”[3]
As terras de cerrado no Jardim Simus já sofriam a descaracterização, tendo em
vista que uma indústria em Sorocaba fazia o plantio de eucaliptos para uso da
lenha nos fornos. As plantas no seu habitat natural são tão persistentes que
quando ocorria o corte, as naturais brotavam e assim tivemos contato com as
guabirobas, pitangas do campo, ariticum, barbatimão, muita barba de bode, em
cujas moitas as galinhas gostavam de fazer ninhos e às vezes saiam de lá com
ninhadas lindas, sapé, arranha-gato, coqueiros de indaiá tinham uma cabeça com
palmito que era o máximo, jalapa, japecanga, cambará. Na barroca que começava
perto da nossa casa, descia para leste, me lembro bem das imbaúbas e da
cantoria dos sapos. Eu prestava muita atenção nas coisas que a mamãe contava os
nomes, mas mesmo assim muitas eu não lembro. Gostava do barbatimão e como era
uma menina sozinha no meio dos moleques, adotei aquela árvore como amiga e
confidente e suas folhas redondas me pareciam moedas, conversei muito com ela,
digo conversei porque tinha certeza de ouví-la. [4]. “Cresci e a pobre da minha amiga ficou lá no
lugar e no passado”.
NA ASSOCIAÇÃO
EVANGÉLICA BENEFICENTE
Claudino
Marra não deixou de trabalhar numa obra relacionada com o Reino de Deus. Sua
função agora era ir às igrejas evangélicas e pregar a Palavra. Depois da
pregação ele discorria sobre a Associação Evangélica Beneficente e a obra que a
entidade realizava. Em cada igreja estabelecia um agente que ficava incumbido
de recrutar colaboradores, receber mensalmente deles e repassá-los ao Sr.
Claudino, eu fui um deles, que por sua vez fazia a prestação de contas com a
diretoria da AEB em São Paulo.
Em Sorocaba já funcionava o Hospital Evangélico,
tendo como entidade mantenedora a AEB. Hoje é um dos maiores e mais modernos
hospitais da cidade e continua vinculado à Associação Evangélica
Beneficente.
Os filhos mais velhos constituíram seus lares. Cláudio Antonio, agora com
dezessete anos e muita vontade de estudar fora para São Paulo, onde estava
estudando e trabalhando. Assim, em 1967 Claudino Marra e d. Antonia mais os
filhos menores Claudirceu e Eliézer se mudaram para a capital paulista e
alugaram uma casa na Vila Prudente, aonde a família, incluindo o Claudio
Antonio Marra passou a residir.
A doença manifestou-se no ano seguinte após um infarto no inicio do mesmo ano,e
em maio de 1968 o ex combatente e homem a serviço do reino de Deus deixou-nos,
indo morar com o Pai que ele tanto amou e procurou servir.
Algum tempo depois d Antonia, sentindo-se sozinha em São Paulo, resolveu
ir de mudança para Astorga onde ainda residiam duas irmãs dela e lá
permaneceu até 1995, sempre evangelizando e testemunhando de Jesus. Ela, que
lera a Bíblia inteira cinqüenta e seis vezes recebendo por isso uma homenagem
da Sociedade Bíblica do Brasil, pregava em seus últimos tempos através de um
programa evangélico que era transmitido por uma emissora da cidade.
OS HERDEIROS DE
CLAUDINO E d. ANTONIA
A
primogênita do casal, a Claudionor foi casada com Orlando de Oliveira, que
faleceu em 1976. Ela é pedagoga aposentada e o casal teve os filhos Nali e
Levi. Ela é professora aposentada e ele delegado de polícia.
Claudionir
foi casada com o Reverendo Nicodemo Lázaro Boldori, pastor a muitos anos da 3ª
Igreja Presbiteriana Independente de Volta Redonda, RJ. Ela faleceu em 2008. O
casal teve os filhos Marcos e Marilisa. Ele é pós graduado em Administração,
trabalhando na área de segurança em informática e ela é Psicóloga.
Claudino Batista Marra Júnior é autodidata e atua como tradutor de
inglês/português, tendo traduzido diversas publicações evangélicas inclusive
para Editora Cultura Cristã .É casado com Marlene Ribas Marra e são pais
de Sômer e Adriane. Ele concursado na SANEPAR (companhia que cuida do
abastecimento de água no Paraná) e ela é comerciante.
Marra Júnior, como ele gosta de ser chamado é tradutor voluntário já há vários anos para o site de
teologia Calvinista www.monergismo.com. Seus E-mails: claudino@monergismo.com, marrajunior@ibest.com.br e marrajunior1@hotmail.com,
Claudineide é professora aposentada, casada com o
Presbítero Emérito Wilson do Carmo Ribeiro. São filhos deles: Wilson Cláudio
(micro-empresário), Eliane (psicóloga), Flávia (assistente social) e Artur
(publicitário).
Claudio Antonio é Doutor em Ministério
(D.Min) pelo Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississipi, EUA.
Bacharel em Teologia e em Comunicação Social, é professor de Homilética
no Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, SP, Editor da Editora
Cultura Cristã e autor do livro A Igreja Discipuladora, além de ensaios e
artigos na revista Servos Ordenados.
Foi casado com d. Arlinda Madalena Torres Marra,
falecida em 2008, e o casal teve os filhos Claudio Jr. e Iesarella. Ele é
professor de Educação Física e ela tem formação em designer gráfico. Cláudio
casou-se em segundas núpcias com a professora Sandra Salum, mestra em
Língua e Literatura Portuguesa e Inglesa.
Claudirceu é administrador de empresas e de seu casamento com Júlia nasceram os filhos Viviane (falecida em 2011), Yara e Anderson Heber. Ambos desenvolvem atividades comerciais.
Eliézer é pastor presbiteriano, tendo atuado nos últimos
anos no Estado do Rio de Janeiro. A esposa Sônia é professora e a filha
Marielli administradora de empresas.
Entre os bisnetos, profissionais de diferentes áreas: Rodrigo André: Médico Oftalmologista; Nicole: Pedagoga e Cassiane: Repórter de Televisão,
Entre os bisnetos, profissionais de diferentes áreas: Rodrigo André: Médico Oftalmologista; Nicole: Pedagoga e Cassiane: Repórter de Televisão,
CONCLUSÃO
Esta narrativa mostra de alguma
forma a trajetória de um casal que teve origens humildes, que batalhou muito na
vida, serviu ao Senhor com inteireza de coração e criou os filhos no temor do
Senhor. Não deixou herdades nem dinheiro, porém a eles podemos aplicar o que
diz Apocalipse 14.13: “Então ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem aventurados os
mortos que desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que
descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham.”
ACERVO DE FOTOS
Claudino: O Guarda- livros
Antônia - A moça que dedicou sua
vida à família à evangelização
Claudino e Antonia com as primeiras filhas:
Maria, que faleceu na infância e Claudionor
Com Claudionor, Claudionir e Claudino
Encontro de presbiterianos em Rio Claro.
Na foto fornecida pela irmã Clélia Temple de Almeida,
viúva do Rev. João de Almeida ela assinala: nº 1 - Rev. José Carlos Nogueira;
2 - Rev. Naftali Vieira; 3 - Rev. Modesto Carvalhosa;
4 - Rev. Armando Amorim. Claudino Marra está indicado com a seta.
Encontro de Metodistas em Bauru. Claudino Marra,
que serviu a essa igreja está indicado pela seta.
Rev. José Carlos Nogueira, 1º Presidente da Junta de
Missões Nacionais e que levou Claudino Marra para
trabalhar no Campo Missionário de Guanhães,
MG em 1946. Ele foi Presidente do Supremo
Concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil
O Missionário Claudino Marra em
ação no seu campo de trabalho na
região de Guanhães, MG
Tiro de Guerra em Guanhães (foto feita da
janela da casa da família Marra (final dos anos 40)
Corpo Clínico e Administrativo da Santa Casa
de Misericórdia de Guanhães (nesse hospital
nasceu Eliézer, o caçula da família Marra em 1949)
(foto Internet)
Casa em que a Família Marra veio a residir no Jardim Simus em Sorocaba
após o retorno de Guanhães. Foto de 2009, com o Rev. Cláudio Marra
posando em frente da mesma (por sinal muito parecido com o pai)
Claudino Marra e d. Antônia em comemorando
Bodas de Prata (Sorocaba, SP - 1959)
Claudino Marra conduz ao altar a filha Claudineide. Ela
descreveu a história da família e o esposo Wilson publicou
(foto de 15-05-1965 - Igreja Presbiteriana Filadélfia de Sorocaba)
Noivado da filha Claudionir com o jovem Nicodemo Lázaro Boldori. Ele
viria a ser pastor da I.P. Independente do Brasil. Indicado pela seta
o Rev. Ludgero Machado Moraes, um dos pastores que visitavam o campo
missionário de Guanhães.
Esta foto foi dedicada por d. Antônia Bueno Marra
a seus familiares em comemoração aos 50 anos
de sua conversão ocorrida em 20-01-1933
Dona . Antônia com as filhas Claudionor, Claudionir e
Claudineide em Mairinque, SP (agosto de 1986)
Dona Antonia com filhos, genro, netos e bisneto
(Mairinque, SP 1986)
d. Antonia pregando no Dia da Bíblia na Igreja
Assembléia de Deus em Astorga, PR/ 12/12/90
Comemorando o centenário de Claudino Marra
os filhos, netos e bisnetos se reuniram para agradecer
pela vida dos pais em Araçoiaba da Serra, SP.
A filha Claudionir, já muito enferma não pôde participar
mas na montagem ela aparece na foto de 2006.
OS PASTORES DA FAMÍLIA
Rev. Cláudio Antonio Batista Marra
(filho)
Rev. Nicodemo Lázaro Boldori
(genro)
Marra Júnior (filho) é tradutor de inglês português
de obras evangélicas, em especial as calvinistas.
ACERVO DOCUMENTAL
Bíblia do Vô Sebastião, editada em Nova
Iorque em 1902
Anotação feita pelo vô Sebastião numa folha interna de
sua bíblia–fez a profissão de fé em Sertãozinho, SP em 21-05-1933
Data de nascimentos dos filhos anotadas
pelo vô Sebastião numa folha interna da Bíblia
Recibos: dízimo em Borborema e de oferta feita pelo
vô Sebastião pró construção do templo da Igreja
Presbiteriana de Astorga Pr. (1935)
Cópia da Certidão de Casamento
de Claudino Batista Marra e
Antonia Bueno de Freitas
SOBRE OS AUTORES
Claudineide Marra Ribeiro nasceu
em Andradina, região noroeste do Estado de São Paulo aos 13 de outubro de 1946.
Foi com a família para Guanhães
com apenas um ano de idade e veio para Sorocaba com seis. Muito atenta a tudo,
guardou na memória aquilo que conseguiu observar. Posteriormente, em conversas
com os pais, irmãos mais velhos e parentes, organizou as idéias e passou-as
para o papel. E foi a partir dessas anotações que foi possível descrever esta
bela história de vida de um casal que acima de tudo amou profundamente a Deus e
procurou pregar a Sua mensagem.
Claudineide começou a trabalhar
na indústria têxtil ainda adolescente em Sorocaba, onde fez os estudos básicos,
os quais foram concluídos depois de seu casamento. Concluiu também os estudos
médio e superior tornando-se professora de Língua e Literatura Portuguesa.
Aposentou-se após ter trabalhado no Ensino de 1º e 2º graus vinte e nove
anos em escolas do Governo do Estado de São Paulo.
Seguindo o exemplo dos pais,
sempre esteve envolvida com as atividades relativas ao ensino nas Igrejas
Presbiterianas em que foi membro: Filadélfia de Sorocaba, Alumínio, Mairinque e
Araçoiaba da Serra. Sempre presente também nas atividades realizadas pelas
mulheres presbiterianas. Em julho/2011 participou como voluntária de uma ação
missionária em Poço Verde, sertão de Sergipe.-Nossa Missão - site: www.nossamissao.com.br Atualmente participa com o esposo como
membros na Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba.
Wilson do Carmo Ribeiro é natural
de Campos Novos Paulista, interior do estado de São Paulo. Como a família
morava na área rural só concluira o antigo curso primário. Fez supletivo de
primeiro grau, colegial e o curso superior de Pedagogia, atuando na área
educacional durante quinze anos paralelamente às suas atividades na
Cia.Brasileira de Alumínio onde laborou durante 31 anos. Teve participação
política em Alumínio e em Mairinque como Vereador e é presbítero na IPB desde
1976.
Neste mesmo blog, criado em
outubro de 2010 publicou entre outros trabalhos:
- Primórdios do Presbiterianismo
em Sorocaba;
- O Presbiterianismo em Mairinque;
- História da Igreja
Presbiteriana de Araçoiaba da Serra;
- História da Igreja Presbiteriana
Rocha Eterna de Sorocaba
- Cidade de Alumínio - Fatos e
Fotos de Sua História.
A Deus toda a Glória.
Wilson: E-mail: prebwilson@hotmail.com
Claudineide e Wilson. No recorte,
ela aos sete anos