quarta-feira, 29 de agosto de 2018

WILSON DO CARMO RIBEIRO - MEMÓRIAS

APRESENTAÇÃO

         Nesta postagem reuni crônicas da vida real que abrangem desde a minha infância até os dias atuais. Muitas delas já estão no blog e foram publicadas no Facebook.
         Amigas e amigos generosos sugeriram que fosse escrito um livro, porém não acho que poderia fazê-lo.  Por isso fiz uma compilação de muitas delas e vos apresento neste popst.
         É um trabalho um tanto extenso, mas, claro, não precisa ser lido de uma tacada só. Tem ainda o leitor a faculdade de escolher aquelas que mais lhes chamar a atenção.
         Espero que apreciem.


1 - CRIANÇAS E PERALTICES



A ÉGUA GANHOU O PÁREO E EU, VINTE PICOLÉS

        
No primeiro semestre de 1951 eu estava abrigado na casa de parentes para poder cursar o terceiro ano do grupo escolar, visto que lá no sítio onde morava minha família só tinha até o segundo ano na escolinha do bairro.
         Minha mãe ia mensalmente a São Pedro do Turvo para ver-me. Usava como meio de locomoção nossa égua chamada Dourada, a qual tinha esse nome por causa da sua cor.
         Já meu querido tio Antonio, o qual eu chamava de Padrinho Tonho , tinha uma égua chamada Morena, com a qual ele foi me ver lá na sede do município num domingo.
         Em São Pedro tinha um campo de futebol que ficava próximo à igreja católica, sendo o Padre Marcílio um dos dirigentes do time. Mas eu gostava mesmo era da raia, constituída de duas pistas. Cada corrida era disputada por apenas dois animais e as apostas rolavam soltas.
         Antes de acontecer o páreo principal do domingo eram realizadas as corridas entre animais pouco conhecidos e foi aí que meu tio topou uma corrida contra um pangaré. O jóquei foi ele mesmo.
         Eu nunca torci tanto, pois amava muito meu tio e já andara várias vezes na garupa daquela égua. E não deu outra, a Morena chegou na frente. Meu tio faturou vinte cruzeiros, e, bondoso como era, deu a metade para mim!
         Com esse dinheiro, me abastecei de sorvete por vinte dias na volta da escola para casa de meus parentes hospedeiros e meu tio voltou com sua égua vencedora, vencendo as seis léguas até a Cabeceira Bonita onde ele e todos os meus queridos moravam.


A COMIDA A GENTE PAGA – A BEBIDA A GENTE LEVA
       
  Meu saudoso tio Laurindo Antonio Ribeiro, um dos três sócios do sítio onde nasci tinha um costume bastante engraçado. Quando ele viajava para uma cidade (São Pedro do Turvo, Campos Novos Paulista ou Santa Cruz do Rio Pardo) ele levava um virado de frango para a hora do rango.
         Sem nenhum constrangimento, entrava em um barzinho, pedia licença e mandava ver. Nem um refrigerante ele comprava, pois levava também uma garrafinha com café.
         Passados tantos e tantos anos que isso ocorria, percebi dia destes que a moda voltou. Estávamos almoçando em um restaurante no Shopping Panorâmico num domingo (a comida é boa e não é cara) e em várias mesas lá estava ela, a conhecida garrafa pet de dois litros levada de casa ou comprada em outro lugar.
         Isso acontece porque a bebida encarece muito a refeição, daí o jeitinho brasileiro entra em ação.
         Quando estava escrevendo esta crônica, minha esposa chegou e comentei com ela. Ouvindo a estória ela sorriu, e   arrematou:
- É! Mas já vi em alguns lugares, um aviso na parede: É proibido trazer bebida de fora. Babau colher de pau!

A MUDANÇA TREME-TREME
           
Em 1955 morávamos no município de Bernardino de Campos, SP, onde nossa família produzia tijolos para uma olaria pertencente à Fazenda Santa Hermínia que tinha sua sede na vizinha Ipaussu.
         Meu pai e o inseparável irmão dele, meu tio Antônio resolveram mudar-se para outra propriedade, cujo dono se chamava Eugênio José Xavier, distante apenas três quilômetros uma da outra.
         As duas mudanças foram colocadas na carreta de um tratorzinho e o tratorista não se preocupou em amarrar nada, de modo que eu, sendo ainda um adolescente, tive mais maturidade do que ele e disse-lhe que aquilo tudo iria despencar.
- Despenca não – respondeu ele. Minha mãe e minha tia Maria se acomodaram lá em cima da carga onde estavam alguns colchões feitos com palhas de milho, enrolados, parecendo rocambole.
         Não deu outra. Foi só o trator começar a subida pela estradinha de terra e no primeiro solavanco mais forte a carga veio toda abaixo. Minha mãe caiu abraçada a um colchão que amorteceu a queda e se feriu um pouquinho no supercílio. Já tia Maria não se machucou, ela que caiu abraçada a um violão do meu tio, marido dela.
         Esse foi apenas um dos muitos episódios daqueles que a gente fica sem saber se ri ou se chora, ocorrido em nossa vida à moda cigana! Depois disso ainda trabalhamos em outras duas olarias em Ipaussu, quando meu pai ficou sabendo que existia um lugar chamado Alumínio, onde existia uma grande fábrica.
         E assim viemos para Alumínio em fins de 1958 para iniciar uma nova fase em nossas vidas. É por causa disso que sou tão grato a essa pequena cidade sobre a qual não me canso de escrever.

A VISITA DO BISPO E O EXTRAVIO DO CAIPIRINHA

     Quando eu tinha uns 5 anos de idade, o bispo da Diocese de Assis foi à cidadezinha de Campos Novos Paulista, minha terra natal. Eu e meu mano Nilson fomos com nossos pais.
    
         A pequena urbe ficou fervilhando de gente que veio de todos os lados do município e também de cidades mais próximas. A igreja estava apinhada de gente, pois acontecia a cerimônia da crisma.
         Em determinado momento, sei lá porque, resolvi sair, desgarrando-me de meus pais. Quando me senti perdido no meio da multidão, não consegui localizá-los mais.
         Ia de lá para cá, chorando  desesperado. Foi aí que um senhor se aproximou e agachou na minha frente, perguntando-me o que estava acontecendo.
- Não consigo achar meus pais, respondi.
- Chora não. Vem comigo que eu vou te ajudar.
         Segurando minha mão, ele foi até o serviço de alto-falante instalado no coreto e pediu que fosse anunciado que um menino chamado Wilson estava ali, esperando pelos seus pais, Sr. Durvalino e dona Benedita.
         Não demorou muito e eles chegaram. Mamãe já estava lacrimejante e tendo agradecido muito a generosidade do bondoso desconhecido, levou-me de volta com eles.
         A sensação de sentir-se perdido é ruim demais!

CREDO! ABRAÇADO COM O DEFUNTO!


            O nome dele era Alicio, mas desde a mocidade passou a ser chamado de Danilo pois jogava futebol e lembrava de certa forma o jeito elegante de atuar do grande craque da Seleção Brasileira de 1950.
         Era o irmão mais novo de minha mãe, portanto meu tio e pude vê-lo jogando pela Esportiva Santacruzense. Depois jogou em várias equipes do interior paulista, passou pelo Criciúma de Santa Catarina e encerrou a carreira no C.A. Paranaense.
         Fez carreira na Polícia Civil e se aposentou como delegado na pequena e acolhedora cidade de Balsa Nova na região metropolitana de Curitiba. Lá ele conheceu a moça Irene, com a qual se casou e teveram a filha Andréa e os filhos Anderson e Alan, meus queridos primos.
         Mas vamos à história (ou estória?) engraçada que aconteceu com ele quando era adolescente lá em Santa Cruz do Rio Pardo sua cidade natal. Era comum naquele tempo, quando alguém falecia, transportar o caixão com o finado para sepultamento utilizando-se da carroceria de um caminhão. Junto, em pé, equilibrando-se como podiam, seguiam os acompanhantes.
         Foi numa dessas que o menino Danilo participava de um desses enterros. De repente o caminhão deu uma freada e muita gente caiu e nosso pequeno personagem lá se foi debruço sobre o caixão do finado. Os caídos se levantaram e, junto com eles, o assustado Danilo.
         No entanto o que não levantou foi o ânimo do garoto, pois naquela noite não conseguiu pegar no sono. Só conseguiu dormir quando recebeu permissão para se deitar no meio dos pais, meu saudoso vô João e a esposa de segundas núpcias dona Benedita Damasceno a quem carinhosamente eu chamava de comadre, pois era assim que minha mãe também a tratava.
         Coisas de rapazinhos  assustados.


MENINO ABUSADO, BUMBUM LAMBUZADO!
        
Um menino de onze anos morava com a família numa olaria no município de Santa Cruz do Rio Pardo, SP e de segunda a sexta feira ficava na cidade na casa de parentes para estudar.
         A responsável pelo tal era uma tia muito amada e também bastante brava chamada Leonina. Se aprontasse, ela dava um pitaco daqueles.
         Certo dia choveu de manhã quando o menino estava no Grupo Escolar, mas à tarde o sol apareceu, mas alguns lugares ainda havia lama.
         Os moleques da vizinhança, logo que almoçaram foram brincar de escorregar no quintal de um deles. Deslizavam com um pé na frente e, lógico, o outro atrás para dar sustentação ao corpo.
         Foi quando o tal sobrinho da dona Leonina se juntou ao grupo e ficou observando. Logo um deles gritou:
- Hei, voce ai. Não vai brincar aqui? (nada a ver com a música do Moacir Franco). 
- O menino encarou o desafio e foi logo fazendo pouco dos colegas.
- Escorregar desse jeito que vocês estão fazendo é muito fácil!
- Então mostra-nos como é que você sabe fazer.
- Eu escorrego com os dois pés juntos.
- Então faz, nós queremos aprender.
         O capirinha tomou distância e bem no meio da lama freou. O corpo foi para frente, porém na horizontal. O bumbum ficou que era só lama.
         Cabeça baixa, sob o som das gargalhadas dos demais lá foi o caipirinha encarar a Madrinha Nina (era assim que ele a chamava)
- Mas o que foi isso Wuiiiiiiisonnnn – ela pronunciava assim meu nome do moleque.
- Ai madrinha, escorreguei ali perto da esquina e caí, ainda bem que não me machuquei.
- Vai trocar essa calça e põe no tanque para a madrinha lavar.
Arre!

(Quanta saudade dela que se foi em 1993).


 CARREGA EU MANHÊ!

         No início da década de 1960 a família Ferrari morava num sítio que fica atrás e a certa distância da barragem de lama da CBA, mais no sentido do Bairro Itararé.
         Era uma família numerosa e hospitaleira e os moços e moças da Igreja Presbiteriana de Alumínio, que naqueles tempos funcionava num prediozinho onde veio a ser construído o terminal de ônibus da CBA. Ia até o sítio constantemente.
         Aquela família tinha como pai o Sr. Mário e mãe dona Benedita. Conceição, Daniel, Lenita, Ernestina, Antonio e Zilda eram os filhos. Passávamos muitos domingos à tarde na casa deles nos divertindo, principalmente cantando hinos.
         Certo dia houve um culto, porém num sábado à noite, de forma que muitos não jovens também se fizeram presentes. O pregador foi o saudoso presbítero Waldemar Machado, irmão do David e da falecida Tereza.
         Na volta, caminhando pela estradinha de terra tudo era festa, pois a maioria era jovem e para eles não existe cansaço. Porém para uma menina a coisa estava feia uma vez que ela era meio fofinha e a mamãe não agüentava carregá-la por muito tempo.
- “Carrega eu manhê”, choramingava a menina após andar um pouquinho. Diante da situação o pessoal começou a revezar, ajudando a mamãe na condução da menina, incluindo o pregador e o autor deste relato.
         Assim, chegamos a Alumínio, cada qual se dirigindo às suas respectivas casas. A mamãe cansada e a filhinha foram para a residência delas no início da Avenida Santiago.
         Agora quando vejo aquela menina, uma simpática senhora, mãe de uma bela filha e vovó de uma lindeza de menina, relembro aquele dia e aquela música tema da novela Irmãos Coragem que dizia: “Te carreguei no colo menina”.  
         Não tenho como não ter saudade da mãe dela, senhora já idosa que trabalhou comigo no prédio novo do Escritório da CBA, fazendo limpeza e cuidando das plantas ornamentais.
         Curiosos né? Querendo saber quem era a menina e a mamãe dela. Pois aí vai e faço isto como uma homenagem. O nome da mãe era Vitalina e o da menina é Aparecida, a nossa irmã e amiga de FACE e fora dele, a Cida Castro.

CAVALEIROS REFRESCADOS
        
Quando trabalhávamos numa olaria em Santa Cruz do Rio Pardo, meus irmãos José e Benedito com sete e seis anos respectivamente resolveram montar em pêlo num cavalo manso que vagueava pelo pasto há pouca distância de nossa casa.
         Dando pela falta dos dois, dona Benedita gritou pelo nome deles por mais de uma hora. Já imaginando que o pior pudesse ter acontecido, ei-los chegando vermelhos e muito suados devido ao sol causticante.
         Então ela mandou que fossem “descansar” no quarto e por algumas vezes perguntou se já haviam se refrescado.
         A resposta era negativa, até que o José achou que deveria por fim à novela.
- Já se refrescaram?
- Já. E aí o relho comeu solto.

AS AVENTURAS DE UM TORCEDOR POBRE EM IPAUSSU
           
Moramos no Município de Ipaussu, SP de 1956 a 1958 e me tornei torcedor fanático do time de futebol da cidade, o qual na época disputava o campeonato da Terceira Divisão da Federação Paulista de Futebol.
         Eu, como menor de idade que era, tinha direito a entrar gratuitamente, porém como era magro e muito alto, barravam-me na portaria. Por causa disso, o jeito era pular o muro do estádio.
         Por causa disso, certa vez um policial obrigou-me a sair de dentro do campo, porém eu pulei de novo e assisti ao jogo. Mas o maior sufoco foi em 1958 quando o Corinthians foi fazer um amistoso lá. A vigilância nessa ocasião estava redobrada.
         Como eu não conseguia entrar pela portaria, pois não tinha dinheiro, e vendo que se pulasse um guarda mandaria e meu retirar, resolvi subir em num monte de pedras que alguém fizera fora do campo na beira do muro. Pois não é que um policial me mandou descer e desfazer o monte de pedras?
         Confesso que nesse dia fiquei revoltado. Eu trabalhava como se fosse um adulto ajudando a fazer tijolos de segunda a sábado e não tinha como torcer pelo meu time sem passar por esses vexames!!
         Não desisti. Fui à portaria e fiquei esperando um descuido do porteiro. Os vestiários ficavam visíveis a quem estava por ali e quando o Corinthians entrou em campo sob intenso foguetório, o porteiro não resistiu a dar uma olhada, eu adentrei o do campo.
         E foi assim que pude conhecer alguns dos mais famosos craques do alvinegro que lá estiveram como o Luizinho Trujilo, o Rafael e o Roberto Bataglia. Outros famosos como Gilmar, Claudio e outros não estiveram presentes, pois o time da capital usou um mistão.
         O resultado foi 4 x 0 para os visitantes e eu nunca mais pulei o muro uma vez que logo depois nos mudamos para Alumínio.


BICICLETA DESENFREADA


Fazia pouco tempo que estávamos morando no Jardim Cruzeiro em Mairinque. Não eram muitas as casas habitadas no bairro e também não existia ainda o viaduto ligando o bairro ao centro da cidade.
A família do Sr. Jovelino de Oliveira Tomaz (falecido recentemente), assim como a nossa, era oriunda de Alumínio e nossos filhos eram muito amigos. Algumas das meninas da família Tomaz haviam ajudado em casa a cuidar das nossas, posto que eram mais velhas, principalmente a Azenate, de tão saudosa memória.
Assim era comum as nossas irem até a chamada gleba B para passar alguns momentos na casa da família Tomaz, que até hoje mora no mesmo local, lá nas imediações da farmácia do Luizinho. E foi no retorno de uma dessas visitas que ocorreu a pequena aventura que conto nestas linhas.
Depois de passar algumas horas em companhia de dona Maria e das filhas, a Eliane e a Flávia, minhas filhas de aproximadamente 11 e 13 anos resolveram retornar para casa. Pegaram a bicicleta e se puseram avenida afora, “morro abaixo”. A velocidade foi aumentando e as duas entraram em pânico: não conseguiam frear a “magrela”.
A Eliane, pernas mais compridas, sentada na garupa tentava diminuir a velocidade firmando os chinelos no asfalto o que de pouco adiantava. Foi quando elas viram crescer na frente delas aquele homem de braços abertos disposto a sofrer o choque do pequeno veículo desgovernado e fazê-lo parar. E ele conseguiu.
Quando nos vem à mente que lá à frente, depois da Avenida Mitsuke só havia a linha do trem num buracão enorme, há que se valorizar muito mais a corajosa ação daquele senhor que não levou em conta sua vida para salvar vida das duas meninas. O nome dele: Roque Aldigheri.
Coisas de Crianças. E de anjos que Deus envia..


CHUVA DE MARIMBONDOS

        
Nos ranchos cobertos por sapé onde funcionavam as olarias sempre havia algumas casas de marimbondos. Elas têm a forma aproximada de uma bola, cor acinzentada e os milhares de marimbondos negros e miúdos ficam lá dentro.
         A molecada se divertia assoprando canudinhos de papel com espinho de laranjeira na ponta – uma espécie de micro flecha. Eu não era exceção, só que era ruim de pontaria. Talvez um prenúncio da miopia que viria no futuro.
Naquela tarde eu estava sozinho dentro do rancho, assoprando meus dardos contra a moradia dos marimbondos. Não acertei o primeiro, então me aproximei mais. Nem o segundo nem o terceiro.     Então subi nunca carriola, fiquei bem próximo e assoprei com todo meu fôlego.
A resposta foi uma chuva de marimbondos que ferroaram meu pescoço, orelhas, lábios e tudo mais. Não chorei por honra da calça e para não dar vexame maior em casa.      


 CINCO CRUZEIROS DE TRÊS CANTOS
        
Na segunda metade da década de 1950 eu tinha uns dezesseis anos e morava em Ipaussu, interior de São Paulo. Fazíamos tijolos numa olaria situada às margens da rodovia que liga a cidade a Santa Cruz do Rio Pardo, onde moramos em anos anteriores
         Certo dia meu tio e padrinho Antonio perguntou-me se eu poderia ir até Ourinhos para receber dinheiro que ele havia emprestado a parentes. Com a permissão de meus pais, lá fui eu, sem conhecer nada sobre a cidade. A viagem foi através de um trem da Estrada de Ferro Sorocabana.
         Tio Antonio deu-me dinheiro suficiente para a ida, a volta e o uso de uma charrete, o transporte alternativo para ir e voltar até a casa que eu precisava ir.
         Ocorreu que o combinado entre credor e devedor falhou. Aí o dinheiro que eu tinha para comparar a passagem de volta era uma nota de cinco cruzeiros, a qual eu recebera de troco quando comprei a passagem de ida.
         Até aí, parecia não existir qualquer dificuldade, pois ainda sobraria um trocadinho. Ocorre que o vendedor dos bilhetes não aceitou a nota porque ela não tinha um dos cantos. Ai, ai, ai!
         Por alguns minutos fiquei sem saber o que fazer. O trem passaria dentro de pouco tempo e já estava anoitecendo. Apelei para o homem do guichê, expliquei-lhe que só tinha aquele dinheiro, mas ele não arredou pé. Comecei a pedir aos passageiros que estavam na plataforma de embarque para que trocassem a nota comigo, mas nada!
         Foi aí que um senhor, reconhecendo meu apuro levou-me até o guichê, comprou e deu-me a passagem, e desejou-me boa viagem. Foi mais um anjo em forma de homem que Deus colocou em minha vida num momento de dificuldade. 


ESSES TAMBÉM SÃO CORRUPTOS?
        
Em 1996 minha esposa professora Claudineide Marra Ribeiro estava lecionando na Escola Estadual Professora Maria de Oliveira Lellis Ito no Jardim Cruzeiro em Mairinque.
         Estava acontecendo a Bienal do Livro no Ginásio do Ibirapuera e organizou-se uma excursão de alunos da escola para conhecer o evento, sendo naturalmente acompanhados pelas professoras, sendo minha esposa uma delas.
         A certa altura, observou-se um reboliço no local onde estavam os alunos e suas mestras. É que o então Vice-Presidente da República Marco Maciel, acompanhado de assessores estava se aproximando. Foi aí que aconteceu o imprevisível. Um aluno, menino humilde e estudioso em voz bem audível sai com esta:
- Professora, esses aí também são corruptos?
         Sem comentários a professora colocou a mão no ombro dele e conduziu o para outro assunto, desviando-se de ter de dar uma resposta ao interessado aluno, pois naquele momento era impossível dizer qualquer coisa.
         Passados já vinte e três anos e já aposentada, a professora não esquece aquele episódio, sabendo que o menino, apesar da pouca idade, tinha ouvido e prestado atenção nos noticiários a respeito do assunto na época do ex Presidente Collor e seu ex- tesoureiro de campanha PC Faria.
          Uma bela lição!

A GALINHA QUE CAIU DO TELHADO E VIROU ALMOÇO
        
Morávamos e trabalhávamos numa olaria no município de Bernardino de Campos, interior paulista em 1956. Eu e meu falecido irmão Nilson tínhamos estilingues, com os quais caçávamos passarinhos após o término da tarefa na fabricação de tijolos.
         Num domingo de manhã, dia de folga, meus pais e irmãos mais novos estavam dentro de casa e minha mãe estava começando a preparar o almoço.
         Eu estava com meu estilingue a uma distância razoável da casinha de madeira e vi uma das muitas galinhas que tínhamos em cima do telhado, fazendo não sei o que lá.
         Não pensei duas vezes: pus uma bolinha feita com barro que secávamos ao sol, coloquei na “arma”, estiquei o máximo, mirei a galinha e soltei a estilingada. Na verdade não achava que iria acertá-la, mas para azar dela o “tiro” foi certeiro.
         Ela caiu próximo à porta da cozinha se debatendo e minha mãe, vendo aquilo chamou meu pai e mostrou o que estava acontecendo. Pensaram que a pobre tinha caído do telhado (como se galinha não fizesse pequenos vôos) e decidiram transformá-la em mistura para o almoço.
       Esse foi um dia do caçador, mas poderia ter sido o dia da caça se soubessem que fora eu o autor da façanha.
         
EXPLOSÃO AZUL 
        
Meu pai era caçador. Veados, pacas, capivaras e aves como perdiz e o inhambu eram seus alvos prediletos. Ele tinha uma espingarda que  utilizava em suas caçadas junto com os compadres nas incursões pelas matas do nosso pequeno sítio e adjacências    .
         Dentro de casa a arma estava sempre descarregada, porém eu sabia onde ele guardava a munição. Era dentro de uma sacolinha feita com couro de veado, a qual me foi dada quando fui matriculado na escola.
         Certo dia fiquei sozinho em casa e tive uma idéia: peguei um pouco de pólvora que ele guardava dentro de um pequeno chifre e coloquei-o sobre uma palha de milho seca e aberta, fazendo uma canoinha. Sobre a pólvora, coloquei um pouco de gasolina que ele usava para colocar no isqueiro, visto que era fumante.
         Daí então, incendiei a “invenção” colocando fogo na extremidade da  palha e afastei-me do “invento” .Quando o fogo chegou onde estava a pólvora ocorreu uma pequena explosão com o fogo de cor azul.

         Mais uma peraltice do mais velho de quatro irmãos. Se meu pai ficasse sabendo disso, ele me daria umas boas cintadas.

 LEMBRANÇAS DA ESCOLINHA LÁ NO SÍTIO
         
        Fui matriculado na Escola Mista Rural do Bairro Cabeceira Bonita, Município de São Pedro do Turvo em janeiro de 1949. Era uma edificação bem pequena, feita de madeira na qual funcionavam só a primeira e segunda série, com aulas ministradas por uma única professora simultaneamente
         De minha casa até a escolinha, havia uma distância de uns cinco quilômetros e o acesso era feito por estradinha só para caminhantes ou carroça. A escola ficava no meio de um pasto onde havia gado, com algumas vacas bravas quando estavam com suas crias novas.
         Éramos muito pobres e minha mãe fez meu uniforme usando sacos que portavam farinha de trigo e, depois de vazios, eram vendidos pelos comerciantes. A camisa era branca e a calça, com suspensório do mesmo tecido era tingida de azul com tinta da marca Guarani.
         Certo dia, retornando após a aula, eu e meu colega Gabriel, que morava num sítio entre o nosso e o da escola, tomamos uma chuva daquelas e, claro, ficamos totalmente molhados e assim chegamos em nossas casas.
- Fiico! (era assim que minha mãe me chamava) – Tira essa roupa molhada. Fiz o que ela mandou e... Surpresa!
Na camisa branca estava um x azul que a tinta do suspensório havia liberado.
         Sinceramente não me lembro como minha saudosa mãe se virou para que eu fosse de uniforme no dia seguinte.
        Coisas de crianças pobres de muito tempo atrás!

MAMÃE DURONA!

         Certo dia meus irmãos Nilson e José, mais novos que eu, chegaram da escola rural muito suados, pois a distância percorrida era grande e o calor era forte.
         Trouxeram um punhado de ovos que, segundo eles, estavam em um ninho lá no meio do pasto.
         Não tiveram tempo nem para terminar a explicação: mamãe os fez voltar e levar os ovos de onde não deviam ter saídos.
         Se eles levaram até o local exato, só eles sabem. Quer dizer, sabiam, pois já são falecidos.
        Que dureza!


O PINTINHO SACRIFICADO
        
Quando morávamos no pequeno sítio que tínhamos lá no interior paulista, meu pai estava todos os dias nas atividades da roça. Mamãe, muitas vezes o ajudava de forma que eu e meus três irmãos ficávamos sozinhos em casa. Digo três porque o caçula nasceu depois que nos mudamos de lá.
         Eu, sendo o mais velho (nos mudamos de lá quando tinha dez anos), liderava as “artes” e os maninhos ficavam esperando o resultado, em especial quando era alguma coisa de comer.
         Certo dia, mamãe foi lavar roupa na mina e ficamos sozinhos. Não de outra! Fui até um dos muitos ninhos das galinhas, feitos com taquara em forma de cestos que eram colocados no galinheiro, onde pequei um ovo para cozinhar.
         Dei o tempo que julguei necessário para o cozimento, retirei-o da água fervente e aguardei o ovo esfriar. Quando achei que estava pronto para saboreá-lo, fiz um buraquinho por onde retiraria o gostoso petisco com o cabo de uma colher, isto depois de colocar um pouquinho de sal.

SURPRESA! – Dentro do ovo estava um pintinho cozido. Eu não sabia que naquela ninhada havia muitos pintinhos prontos para vir ao mundo!

NÃO ERA CRAQUE, MAS GANHEI DINHEIRO NO CABECEIO        
        
Já contei a estória das cobras no poço lá na olaria em Bernardino de Campos. Hoje vou contar outra, ocorrida na mesma olaria, o que mostra que eu era meio impetuoso.
         Certo dia, após o término das tarefas, eu, meu irmão Nilson e nosso pai Sr. Durvalino conversávamos animadamente com os filhos do patrão. Eles eram lavradores na mesma fazenda em que se localizava a olaria.
         A certa altura, peguei um pedaço de tijolo (pesando talvez umas cem gramas) e disse que iria jogá-la para cima e apará-la com a cabeça se alguém topasse pagar cinco cruzeiros. Era de certa forma, uma esdrúxula aposta. É bom que se esclareça que, com esse valor, eu compraria dez picolés.
- Eu pago para ver, disse um deles. Aí todos ficaram olhando para mim.
         Joguei o pedacinho de tijolo para o alto e cabeceei-o para espanto deles. No mesmo instante o sangue escorreu pela vasta cabeleira. Claro que minha mãe deu uma bronca danada, mas colocou querosene no local (remédio infalível) e tudo ficou numa boa.
         Ganhei um “galo” na cabeça, mas dessa vez saboreei dez picolés. Um porre!

NÃO ERA GUARANÁ!

         No início da década de 1980 o estafeta da Seção Pessoal da CBA Wilson Claudio recebeu a incumbência de levar alguns papéis ao Sindicato dos Metalúrgicos na Vila Santa Luzia.
         Feita a entrega dos tais papéis, o adolescente, que estava com muita sede, resolveu entrar do Bar do Artêmio Cerioni para beber alguma coisa que o saciasse.
         Aconteceu que outro funcionário da firma, adulto, também foi ao sindicato e, de passagem, viu o garotão, sentado à mesa e sorvendo gostosamente aquele líquido refrescante.
         Voltando ao seu local de trabalho, o contínuo, depois de algum tempo, foi abordado pelo Encarregado David Machado com uma carta de advertência.
- Wilson Claudio – Assina esta carta de advertência aqui. Ordem da chefia.
- Mas por quê?
- Leia.
         O garoto leu o que estava escrito como motivo da punição: “Por estar bebendo guaraná em horário de serviço em um bar na Vila Santa Luzia”
- Não vou assinar isso!
- Não? Por quê?
- Porque o motivo aí no papel está errado.
- Errado como?
- Não era guaraná. Era coca-cola. (!)   
  
O CAMINHÃO AMARELO E A SURRA DE CINTA 
        
Quando eu tinha uns oito anos e morava lá no sítio onde nasci, estava acostumado a ver os caminhões Ford de cor verde de uma fábrica de amido de Ribeirão do Sul (região de Ourinhos, SP) que buscavam mandioca que eram cultivadas por minha família e vendidas àquela indústria.
         Certo dia avistei um caminhão Volvo amarelo que estava chegando lá no sítio de um primo e compadre da minha mãe. A novidade era a cor diferente do veículo e ele fazia um ruído muito mais alto (este era movido a diesel e os que eu conheciam a gasolina).
- Mamãe, deixa eu ir lá no sítio do compadre Zé Emílio ver um caminhão diferente que chegou lá?
- Não.
         O não da dona Benedita foi ignorado e lá fui ver o tal caminhão. Até ajudei jogar as últimas mandiocas na carroceria do tal, quando ouvi um chamado que soava muito familiar aos meus ouvidos:
- Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicoooooooooooooooooo. Era minha mãe me chamando. Fiico era o diminutivo pelo qual ela me tratava. Mal despedi dos primos e saí em desabalada carreira pela estradinha de terra. Eis que na metade do trajeto lá estava ela com as mãos para trás.
- Oi Fiico, vamos para casa.
- Vamos.
         Pensei que ela iria dar-me a mão quando recebi a primeira cintada, seguida de mais não sei quantas. Correndinho e chorando, cheguei e sentei-me no chão num cômodo da casinha feita de pau-a-pique.
         Dali a pouco lá veio ela trazendo-me uma caneca com chá de hortelã e lágrimas escorrendo dos olhos. Correção e compaixão.     
        Não era ruindade da mamãe. Era assim naqueles tempos!

CAÇANDO TATU COM O CASCUDO
           
Meu irmão Benedito Ribeiro, falecido em Mairinque em 1995 com 48 anos de idade era carinhosamente tratado pelos amigos pela alcunha de Cascudo. Na verdade, não sei qual a origem do apelido.
         Formou-se na Escola Técnica Industrial Fernando Prestes em Sorocaba e foi admitido na Cia. Brasileira de Alumínio na primeira metade da década de 1960. Logo se tornou craque na área de mecânica. Sabia trabalhar como torneiro, ajustador e ferramenteiro.
         Fez carreira em indústrias do ramo em Osasco e depois de anos de trabalho por lá, veio trabalhar numa indústria mecânica chamada HASO no município de Mairinque, onde se tornou uma espécie de mestre em ferramentaria para usinagem de plásticos.
         Sempre foi muito companheiro e quando menino gostava de nadar com os colegas no tanque que existiu perto de onde hoje é a Prefeitura de Alumínio. Depois se tornou craque no jogo de sinuca e muitos apostavam nele e ganhavam.
Acrescente-se que nossa mãe, dona Benedita não via com bons olhos nada disso, mas as broncas dela de nada adiantavam. “Fica fria” mãe, era a resposta dele, não de forma deseducada, pelo contrário, sempre sorrindo.
         Gostava muito de pescar e mais ainda de caçar tatus e um dos locais prediletos para essa atividade era os arredores da represa de Itupararanga. Quando voltava dessas incursões, levava umas broncas da esposa dona Benedita, carinhosamente chamada por Baixinha por motivos óbvios.
         Certo dia no ano de 1977 quando ainda não havia muito rigor e fiscalização no que diz respeito a caça de animais silvestres, ele convidou nosso primogênito que à época tinha doze anos, o Wilson Cláudio para uma caçada e o menino topou sem saber bulufas sobre a aventura na qual estava se metendo.
         Já escuro, lá estava o tio Dito, como ele era tratado pelos sobrinhos, acompanhado por alguns colegas adultos já acostumados a essas epopéias.
         A caçada começou e os adultos todos correndo atrás dos pobres bichinhos. O Wilson Claudio não tinha as manhas nem a velocidade dos outros e ficava para traz, atolando nos brejos próximos à represa.
- Tio! Espera eu!
- Corre Wilson Claudio, não posso esperar senão o tatu escapa!
- Não agüento mais tio!
- Corre, senão você fica para traz. Aguenta aí e logo terminaremos o serviço.
         Com a roupa cheia de barro, carrapichos e alguns arranhões, o aprendiz de caçador chegou a nossa casa. Foi a primeira e última vez que o garoto saiu para caçar tatu com o tio Cascudo.
       Arre!

E OS PICOLÉS FORAM PARA O RALO!
        
Em 1952 eu e meu mano Nilson estávamos estudando em Santa Cruz do Rio Pardo, SP e nossa família morava num sítio há uns oito quilômetros de distância, onde faziam tijolos.
         No último sábado de cada mês eles e os outros oleiros iam à cidade receber seus pagamentos e fazer a compra do mês. Após as compras iam almoçar na casa de meu avô materno e a família dele.
         Era nessas ocasiões que eu e o saudoso mano ganhávamos um dinheirinho, que invariavelmente gastávamos comprando sorvete. E foi que aconteceu: ganhamos uma moeda de dois cruzeiros, que dava para comprar quatro picolés, que nós chamávamos de “palitos”.
         Logo que eles almoçaram e voltaram para o sítio, fomos comprar os sorvetes tão desejados. A rua tinha uma subida e, lógico, depois começava a descer até chegar à sorveteria.
         A alegria era tanta que meu irmão jogava a moeda, ela corria determinada distância no asfalto e parava. Ele foi repetindo o gesto até que a moeda foi para a beira da guia e logo adiante tinha uma “boca-de-lobo” para escoamento das águas das chuvas.
         Para nosso desespero ela caiu lá dentro e sumiu. Ficamos algum tempo sem saber o que fazer, porém o jeito foi voltar de cabeça baixa e esperar pelo mês seguinte para comprar os quatro picolés com outra moeda.
         Eita vida dura...

O RATINHO INSPIRADOR
        
Em 1952 eu e meu mano Nilson estávamos estudando em Santa Cruz do Rio Pardo, SP e nossa família morava num sítio há uns oito quilômetros de distância, onde faziam tijolos
         Éramos tão unidos e nos divertíamos tanto juntos que nós nos bastávamos: jogávamos malhas (com pedras), chutávamos bola de borracha, pescávamos, jogávamos bolinha de gude e caçávamos passarinhos.
         Ele sempre foi melhor que eu em quase todas essas diversões. Entretanto, quando perdia uma, ficava muito bravo e, via de regra, a brincadeira era interrompida.
         Certo dia estávamos voltando da escola para a casa de nosso avô materno, o qual nos abrigava, uma vez que nossos pais moravam no sítio onde faziam tijolos, tivemos uma surpresa: Vimos na calçada uma caixinha toda arrumadinha, como uma dessas que  se coloca um  presente para alguém.
         Rapidamente pegamos a caixinha e nos desviamos da rua principal para abrir o “presente” que havíamos encontrado. Atrás de um muro, desamarramos a fitinha, tiramos o papel que envolvia a caixinha e abrimos. Surpreeesa! Era um camundongo.
         Ao invés de ficarmos bravos com o ocorrido, tivemos uma idéia: Recompomos o papel e a fitinha e voltamos à rua principal, onde deixamos a caixinha e de certa distância, vimos quando um rapaz pegou-a e abriu-a ali mesmo. Ao ver o ratinho ele, envergonhado, atirou a caixinha com rato e tudo para bem longe.
         Absorvemos a idéia e várias vezes repetimos a pegadinha. Como não tínhamos rato, colocávamos cocô de cavalo. E nos divertíamos à bessa.

         Coisas de crianças (peraltas).


O DINHEIRO DO ENGRAXATE QUE A CHUVA LEVOU
        
Ele era um garoto muito ativo, parte de uma família numerosa que morava em Alumínio, bom de bola quase tal como o Osmar Andrade - eles têm aproximadamente a mesma idade. Nos tempos da antiga quadra da AAA ele fazia fila na molecada.
         Como ainda não tinha idade para ser admitido na CBA, engraxava sapatos o que era comum naqueles tempos em que a moçada gostava dos sapados brilhando.
         Do dinheiro ganho com seu trabalho ele tinha de entregar para ajudar nas despesas da família. Usando a cabeça, ele separava uma quantia e escondia dentro da boca-de-lobo na sarjeta ali nas proximidades do Grupo Escolar Comendador Rodovalho.
         Mas aí aconteceu que num começo de noite uma chuva torrencial caiu sobre Alumínio e o menino ficou desesperado. Não podia ir socorrer o dinheiro nem falar nada em casa. Coçava a cabeça, andava de lá para cá e, creio, até conteve algumas lágrimas.Foi lá no dia seguinte e confirmou que o dinheiro a chuva levou.

         Talvez seja por causa disso que o Silas Ribeiro, hoje com mais de setenta anos talvez não goste muito do nome daquele filme famoso “E o Vento Levou”. 
    
O TELEVIZINHO FRUSTRADO
        
Em 1959 morávamos na Vila Paulo Dias e trabalhávamos na olaria desse senhor dono das casas da referida vila. Éramos vizinhos dos Pistila, cuja família era mais numerosa do que a nossa.
         Naqueles tempos pouquíssimas famílias possuíam televisor e então existiam os chamados “televizinhos” que ia assistir os programas prediletos nas casas daqueles que deixavam.
         A família Dias na época era composta pelo próprio Sr. Paulo Dias, Chefe do Escritório da CBA com a esposa dona Jonadir e filhos, sua irmã Francisca, (ambos casados), o Toninho Dias ainda solteiro mais os pais, Sr. Jorge e dona Benedita Furquim Dias.
         Meu mano Nilson, dois anos mais novo que eu era um freqüentador assíduo da casa dos Dias e assistia dois programas de muito sucesso na época. Um era o Vigilante Rodoviário e o outro era o Rin Tin Tim.
         Ele insistia tanto comigo para ir também que um belo dia resolvi ir até lá. A sala estava cheia de adolescentes esperando começar um dos programas. Eu, ali, ressabiado.

         - Isto aqui não é cinema e todo dia essa molecada aqui... Era a Francisca, mais conhecida como Chica espaventando a gurizada. Não ficou um televizinho, e claro, incluindo eu, que acho que dei azar para os demais. Acho que posso dizer que fui um televizinho frustrado.


PERALTA SIM, PORÉM CORAJOSO!
        
Nas crônicas que tenho publicado, várias pessoas tem me tachado de peralta, e, pensando bem, na verdade eu era. Morando no sítio, pouca gente, eram só os pais se ausentarem e eu achava um jeito de fazer alguma travessura.
         Mas a verdade é que eu sempre fui bastante corajoso (só tinha medo de assombração). Isto posto, vou contar um episódio de minha adolescência numa olaria lá no município de Bernardino de Campos.
         Como a olaria estava parada há algum tempo, o mato havia tomado conta do ambiente, inclusive da casa onde fomos morar. Próximo dela havia um poço, de onde se tirava água para abastecer a casa. Também o poço estava rodeado por mato e, pior, estava aberto e a tampa de madeira caída lá em baixo.
         Como era preciso alguém descer lá no fundo para resgatar a tampa, os adultos presentes (meu pai, meu tio Antonio, o patrão e vários dos seus filhos), ninguém se prontificou a realizar a tarefa.
- Eu desço lá, falei para espanto de todos. (Anda bem que minha mãe não viu!) Fizeram uma gambiarra com uma corda e um pedaço de eucalipto e lá fui eu içar a tampa.
         Amarrei a mesma numa outra corda. Puxaram-me para fora do poço e depois içaram a tampa. Terminado o serviço, cada qual tomou seu rumo.
         No dia seguinte mamãe pediu que eu e o mano Nilson tirássemos água do poço para ela lavar roupa. Como éramos pequenos, eu virava o cambito (aquela coisa parecida com manivela) para descer e subir o balde com a água e ele puxava o balde para despejar a água numa bacia.
         Quando o primeiro balde chegou à boca do poço e ele levou as mãos para pegá-lo, olha só o susto: uma cobra saiu desesperada e caiu fora, embrenhando-se no mato baixo ao redor da propriedade.
         Nos dias seguintes saíram mais algumas, o que equivale dizer que eu, o menino peralta de l4 anos, tinha descido (com certo exagero de expressão) em um “ninho de cobras.”
         Peralta, porém corajoso!

UM MENINO FEDORENTO
        
Eu era bem pequeno, talvez tivesse uns oito anos e morava no sítio, onde minha mãe criava muitas galinhas e havia muitos ninhos, muitos deles com ovos.
         Certo dia peguei um ovo, coloquei-o em cima de um pau seco e tentei acertá-lo com meu estilingue. Errei. Então fui chegando mais perto.
         Uma, duas, três vezes e nada. Cheguei mais perto ainda e aí acertei. O ovo estava choco e todo seu conteúdo espirrou na minha cabeça.
         Mamãe lavou-me numa bacia com água, não sem vomitar umas três vezes por causa do mau odor horrível daquele ovo. Ou seria do menino 
fedorento?


O FEIJÃO E O PESADELO
        
Eu era bem pequeno, talvez tivesse uns oito anos e morava no sítio, onde minha mãe criava muitas galinhas e havia muitos ninhos, muitos deles com ovos.
         Já era de tardezinha. Eu e meu falecido mano Nilson, já falecido, resolvemos brincar de colocar grão de feijão no ouvido. Ele colocou na parte de cima da orelha e eu, bobalhão, introduzi o feijão no ouvido mesmo.
         Quando eu quis remove-lo, ele foi mais para o fundo. Quando mais punha o dedo, mais ele afundava. Bateu o desespero, pois meu pai era bravo e, certamente, iríamos levar umas cintadas. Contar ou não contar para eles, eis a questão.
         Como não tinha outro jeito, chamei minha mãe e conte-lhe o ocorrido. Ela olhou, tentou retirar o feijão e nada! Aí ela contou o fato ao marido e os dois me deitaram na cama e ela usou uma agulha de fazer crochê e aí o feijão partiu-se ao meio. Tentaram a remoção com água e o feijão cresceu...
         Médico só existia em São Pedro do Turvo, distante 36 quilômetros e para lá foram minha mãe e meu tio Laurindo. Eu fui na garupa da nossa égua chamada Dourada.
         Passamos por um trecho de mata, isto já por volta das 20 horas, que diziam ser mal assombrada e realmente vimos algo inexplicável que não vou detalhar aqui para não alongar muito.
         Chegando à cidade, soubemos que o médico Dr. Martins era vereador e estava participando da sessão da Câmara Municipal. Lá fomos nós e quando terminaram os trabalhos ele nos levou ao seu consultório.
         Em poucos segundos, usando uma pinça, ele realizou o serviço. Voltamos no dia seguinte, tendo nós e o tio solícito pernoitado na casa de uma família conhecida.

         Ufa! Ao invés do “Feijão e o Sonho” o que aconteceu comigo foi o “Feijão e o Pesadelo”.          


 2 - RAPAZES "PAGANDO MICOS”

A SEMANA DO FRANGO FRITO
        
Em 1964 o Brasil estava vivendo os primeiros tempos do Governo Militar. Em outubro daquele ano os senhores Paulo Dias e Philemon de Medeiros, Chefe do Escritório e Chefe da Seção Pessoal respectivamente chamaram a mim e ao Jonas dos Santos, funcionário da Contabilidade para irmos até o escritório do Sr. Paulo, lá mesmo no antigo prédio da administração da CBA.
         Lá recebemos a informação que deveríamos fazer um treinamento em São Paulo durante uma semana para apreender operar a máquina Burroughs que iria substituir as calculadoras FACIT e as muitas máquinas de datilografia (tínhamos Olivetti, Remington, Underwood e outras mais). A nova máquina faria em 24 horas aquilo que todos os funcionários levavam a semana inteira para fazer.
         Não me lembro qual dos motoristas da CBA nos levou ao Escritório Central na Praça Ramos de Azevedo, onde fomos apresentados ao Diretor Sr. Oswaldo Batista Campos Ele foi conosco à Av. São João nos apresentar aos responsáveis pelo tal treinamento. Informou-nos o hotel onde ficaríamos hospedados e quanto à alimentação poderíamos ficar à vontade, sempre pedindo as notas fiscais.
         Tudo correu como o programado e nos horários de almoço e de jantar íamos sempre ao mesmo restaurante, próximo ao local de treinamento. Frango assado num dia frango frito no outro, frango xadrez, frango...

         Foi aí que resolvemos experimentar alguma coisa diferente. Pedimos não me lembro o que e o Jonas não gostou. E se saiu com esta:
- Wilson: Você fique à vontade, mas eu vou chamar o garçom e pedir frango frito.
Arre!


ESTÁ NERVOSINHO? VAI COMER TOMATE!
           
Durante dois anos trabalhei como operador de ponte rolante na CBA – seção Laminação de Papel.
          Numa semana estava trabalhando no turno das 16 às 24 horas, quando então se jantava tirando vinte minutos para engolir o rango.           
         Quando chegaram as marmitas (no meu caso era um caldeirãozinho de alumínio), desci pela escada de ferro circular junto à coluna do prédio, que tinha aproximadamente vinte quinze metros de altura. Coloquei o embornal no ombro e comecei a subida, quando então arrebentou a alça do embornal e a comida se esparramou escada abaixo.
         Muito bravo, desci e pisei em cima da vasilha, joguei-a com tudo num tambor de lixo e voltei lá para cima ao meu posto de trabalho. A barriga roncava e eu, sem nada para comer...
         Fui salvo por um colega que tirava uma hora de janta e era vegetariano. Na quitanda do Tico Botti ele foi comer suas verduras e a meu pedido comprou meia dúzia de tomates os quais comi com  um pouquinho de sal.

          Talvez seja por isso que até hoje gosto tanto de tomate!

EU E A LAMBRETA 
        
No final de 1963 resolvi comprar uma lambreta, a qual veio de São Roque, pilotada por um vizinho e eu na garupa. Estava eufórico e quase não consegui dormir naquela noite
         Nunca tinha pilotado nada parecido, mas logo peguei o jeito e saí pela cidade exibindo meu bonito veículo de fabricação italiana na cor vermelho e branco.
         Dei algumas caronas logo no dia seguinte, o que era uma temeridade, pois minha habilidade era muito pouca para isso, como se constatou mais tarde.
         Numa dessas inconseqüências, fui à igreja Metodista em Mairinque no domingo à noite levando o José como garupeiro. Como a luz traseira estava queimada, ele usou um farolete para fazer as vezes do equipamento obrigatório.
         No início do ano seguinte lá íamos nós dois novamente na lambreta, desta vez subindo pela rua principal da Vila Brasilina com a finalidade de abastecer a possante no posto existente na Vila Pedágio. No final da subida tentei mudar a marcha mas não consegui e a lambreta ganhou velocidade na descida que saía na rodovia. Caímos: eu me ralei bastante e tive ligeiro desmaio. Com ele, tudo bem.
         Retornamos empurrando a lambreta e ao chegarmos em casa a preocupação era que a mamãe não me visse com os sangramentos na roupa. Chegamos bem de mansinho para colocar a lambreta no lado dos fundos da casa.
- Meu Deus do céu, o que foi isso, meus filhos!
- Nada, não,mamãe.
          Após outras duas quedas, resolvi vender a lambreta e comprar alguns móveis. Fiz coisa parecida como aquele sujeito indeciso que disse:  “Não sei se caso ou se compro uma bicicleta.”

PITACO NO APRENDIZ DE JORNALISMO        
        
Em 1967 devido a aposentadoria e mudança do Sr. Pérsio Barreiro de Alumínio para São Paulo, meu chefe Sr. Philemon de Medeiros, de saudosa memória, convidou-me a ser correspondente do jornal Diário de Sorocaba em Alumínio. O relacionamento dele com o jornal estava no fato de dona Esther, com quem ele se casara, havia sido funcionária do jornal
         Aceitei o desafio e comecei a enviar as notícias. Certo dia uma senhora perguntou-me se eu poderia fazer uma “reportagem” para enviar ao jornal, dizendo que o médico que atuava no posto de saúde em Alumínio não atendia bem as crianças, e que isso havia ocorrido com o menino dela.
         Redigi a nota, enviei ao jornal e este publicou. No dia seguinte tocou o telefone da Seção Pessoal e quem atendeu disse-me que dona Noêmia do Posto de Saúde queria falar comigo.
         Foi só o tempo de colocar o fone no ouvido, dizer alô e recebi uma série de palavras de advertências, correções e outras coisas mais. Era o dito médico que não vou citar o nome dele por questões éticas e porque ele não merecia o mal que involuntariamente eu havia feito.
Dizia ele ao telefone que eu estava difamando o serviço dele e que se quisesse poderia processar-me por  calúnia e difamação.
         Escutei tudo e só conseguia falar “sim senhor” de vez em quando, até que, terminada a surra de palavras ele desligou. Ufa!
         Dali em diante, sempre que alguém me procurava para fazer uma denúncia ou coisa parecida no jornal eu dizia. Está tudo bem. Eu faço e você assina um documento se responsabilizando pelas conseqüências. Mesmo assim, vou conferir o outro lado da questão.
         Daí em diante foi só alegria. Trabalhei até 1985, passei a receber um cachê e aprendi muito em termos de redação, ética e outras coisas mais relacionadas ao jornalismo.
         Tive o prazer de ser membro da Associação Sorocabana de Imprensa e só parei porque tinha feito nesse período desde o ginasial até a faculdade e não tinha mais tempo, visto que trabalhava na CBA durante o dia e lecionava à noite em três cidades diferentes.
         Coisas de gente que deseja aprender e progredir na vida. Às vezes levamos umas pancadas!.

O CAIPIRA, O SOLDADO E SEU FUZIL
        
Em dezembro de 1958 minha família chegou de mudança em Alumínio, oriunda de Ipaussu, pequena cidade do nosso interior. Inicialmente, o propósito era trabalhar na CBA, porém as coisas tomaram outro rumo.
         O Sr. Paulo Dias, desejando expandir sua vila, construiu uma olaria e contratou meu quando ficou sabendo que ele era oleiro. Então nossa família produziu tijolos durante parte de 1959 e ele construiu as tais casas.
         Ainda nesse mesmo ano meu pai foi admitido na CBA, indo trabalhar na Turma Volante 1, chefiada pelo Engº Renê Casale e tendo o falecido Luiz Gonzaga Falcão como encarregado do escritório da seção.
         Em outubro o Sr. Paulo Dias, tendo eu atingido a maioridade, chamou-me para trabalhar na fábrica. Decepção! Não passei no exame médico (Dr. Eno) porque tinha varizes numa das pernas, resultante do esforço demasiado dispendido na adolescência.
         Procuramos o Hospital das Clínicas e lá estivemos umas seis vezes sem conseguir o intento. Dona Benedita Dias foi comigo e minhã mãe, sendo que nenhum de nós tinha ido a São Paulo antes.
         Mais três vezes (eu ia sozinho, de trem) e consegui a operação na Santa Casa no Largo do Arouche. Mas para isso, tive de pernoitar numa pensão lá bem pertinho para estar às cinco da matinha e pegar a senha para fazer a consulta.
         Aí é que vem o engraçado em tudo isso. Estava eu passando defronte o antigo e temido DOPS, depois DEOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e, distraído, ví um cano atravessado na altura do meu pescoço!
         Simplesmente tentei puxar aquilo para baixo para poder passar! Céus! Era um soldado sentinela com seu fuzil, postado numa das portas daquele prédio sombrio que ficou temido depois do movimento militar de 1964. O soldado, impassível, limitou-se a manter a arma na posição que estava. Então curvei-me, passei e só depois dei conta da bobagem que tinha feito.

          Segui meu caminho, fui operado, trabalhei na CBA trinta e um anos, estou aposentado há vinte e sete e escrevendo estas recordações para compartilhar com vocês.

O GREVISTA        

Por participar de uma greve na CBA  em março de 1964, meu mano  Nilson foi despedido da fábrica, o que causou grande reboliço em casa. Nossa mãe ficou furiosa e, passados alguns meses, lá foi ela pedir nova chance ao Dr. Figueirôa, diretor da empresa, homem tido por muitos como muito bravo.
         Orientada que deveria voltar posteriormente trazendo um memorando e em companhia do filho, dona Benedita assim o fez. Coube-me fazer o tal documento, o qual entreguei-o  à nossa genitora no momento que me preparava para escovar os dentes após o almoço.
         Lá foi ela na casa do diretor com o filhão a tiracolo. Como era costume dele, antes de entrar para almoçar, o Dr. Figueirôa atendia uma porção de gente na garagem que ficava na parte da frente da casa.
         Se achegando a ele, mamãe cumprimentou-o e estendeu-lhe o memorando dobrado. Ele pegou o documento e, ao abrí-lo, percebeu que alguma coisa branca  e pastosa grudara em sua mão. Era creme dentalque l que eu havia colocado na escova lá em casa e acabou aderindo ao memorando.
          Ele chacoalhou a mão, esfregou-a no muro e autorizou a readmissão do arrependido grevista, isto depois de dar um sermão que tinha entre seus dizeres aquela frase:” Cuidado jovem, pau que nasce torto se endireita enquanto é novo”
         Arre!

O RANGIDO DA ASSOMBRAÇÃO
        
Em 1956 nossa família trabalhava numa olaria em Ipaussu, e eu gostava muito de caçar passarinhos depois do término dos serviços. Eu e meu mano tínhamos nossos estilingues e usávamos bolinhas feitas de barro que ficavam secas e se prestavam muito bem à finalidade
         Certo dia, entramos por um cafezal da fazenda vizinha, nos separamos e eu adentrei um capão de mato onde existiam árvores bastante altas. Sem perceber, fui me distanciando cada vez mais e a certa altura, ouvi um estranho e assustador rangido.
         Como tinha muito medo de assombração, esqueci-me dos passarinhos e, em desabalada carreira, só parei quando cheguei em casa. É bom que se diga que tive de passar entre os fios de arames de duas cercas de divisa rasgando a roupa e ficando com as marcas de alguns arranhões.
         Em fins de 1958 nossa família veio de mudança para Alumínio e, após fazer tijolos para o Sr. Paulo Dias em boa parte do ano seguinte, fomos admitidos para trabalhar na CBA, ou seja, inicialmente meu pai e depois eu.
         O tempo passou e eu já moço, em certa ocasião voltei de Sorocaba à noite, usando um ônibus da Viação Cometa. Desci no trevo e fui caminhando pela Av. Senador José Ermírio de Moraes, que naquela época tinha mão única e não era asfaltada. Seu leito era de paralelepípedos.
         Poucos metros abaixo da famosa paineira ouvi novamente aquele rangido que me assustara tanto nos meus tempos de adolescente lá no interior. Assustei-me de início, porém logo entendi de onde vinha o tal rangido: Eram galhos que roçavam uns nos outros por causa do vento nas copas das árvores.

         O medo da assombração na existia mais há muito tempo e aquele “mistério” ficou desvendado. Imaginei na ocasião: sorte dos passarinhos lá na mata de Ipaussu, onde o caçador foi posto para correr e nunca mais voltou àquele lugar. 


SELINHO RELÂMPAGO!

         Em 1965 eu estava noivo da moça Claudineide e ela foi com o pai  a São Paulo fazer compras para seu  enxoval.
         Eu estava sabendo que ela estaria no trem que passaria às 6 h 30 minutos na estação de Alumínio, localidade onde eu morava com minha família e trabalhava na Cia. Brasileira de Alumínio, onde adentraria ao trabalho às sete horas.
         Quando o trem parou na estação, lá estava eu na espreita: entrei rapidamente, dei um selinho relâmpago nela, apertei a mão do seo Claudino Marra e saí antes que o trem se pusesse em movimento.

         Selinho com sabor de aventura!

11 MANDAMENTOS?
       
 “Os Dez Mandamentos”, épico norte-americano estava fazendo o maior sucesso nos idos de 1962. Morávamos em Alumínio e o filme estava em cartaz no cine São José em São Roque, distante quinze quilômetros
         Resolvemos ver o filme. Para ir, tudo fácil, pois havia ônibus a cada duas horas. Maravilhoso, o filme, no entanto muito longo motivo pelo qual os exibidores proporcionavam um intervalo à platéia. Por tudo isso, a sessão terminou depois das vinte e três horas.
         Fomos ao ponto de ônibus e... o último havia partido às vinte e duas. Dinheiro para táxi ninguém tinha, de forma que o jeito foi botar o pé na estrada. Eu e os manos Nilson e José, mais nosso amigo Waldomiro Alves, iniciamos a jornada de volta. No vigor da mocidade, corremos em muitos trechos e por volta das três da matina chegamos em casa na Vila Paulo Dias.
         Todos tínhamos de entrar as sete no trabalho e o tempo de sono foi minúsculo para meus manos e o amigo. Eu, como tinha algumas horas extras m haver, entrei um pouco mais tarde.
         Levei pequena repreensão do chefe, o saudoso Sr. Philemon.
Por causa disso, o David Machado, o Dionizio Bazzo e outros tiraram sarro de mim, dizendo que, ao invés de dez,assisti “Os Onze Mandamentos”.

PASSE DE ÔNIBUS PARA NAMORAR (!)


O saudoso Dr. Figueirôa valorizava a formação da família e fazia o que podia para ajudar as pessoas bem intencionadas a realizar o intento. Um exemplo é o caso das moças que trabalhavam na fábrica e, quando decidiam casar-se, eram dispensadas, recebendo o Fundo de Garantia, com o qual compravam seus enxovais.        

         Mas o que vou contar aqui, creio, poucas pessoas sabem. Moços que moravam em Alumínio e acabavam arrumando namoradas em Sorocaba, que foi o meu caso entre vários outros, ganhavam passe de ônibus para voltar de Sorocaba junto com os operários que entravam em serviço à meia noite nos domingos!
         Dessa forma, eu participava da Escola Bíblica Dominical na Igreja Presbiteriana nas manhãs de domingos, isto quando os trabalhos ainda eram realizados lá no prediozinho aonde foi construído o Terminal Rodoviário da CBA muitos anos depois. Almoçava e seguia para Sorocaba para namorar a moça Claudineide.
         Lanchava na casa dela e depois participávamos do culto na Igreja Presbiteriana Filadélfia na Av. São Paulo. Após o culto, voltávamos namorando até a casa dela na Vila Assis.
         O ônibus da CBA saía do Jardim do Canhão às 23 horas. Eu namorava até que faltasse apenas quinze minutos e daí... Pernas para as tenho”!
         Para os dias de hoje a cena soaria como muito engraçada: um rapaz muito magricela, de terno e gravata, portando uma bíblia e às vezes com um guarda-chuva, correndo feito um maratonista para embarcar no ônibus.
         Às vezes não dava tempo de ir até o “Canhão”, porém de uma forma muito camarada o motorista parava o coletivo para mim.
        Saudade do “Chocolate”, do Zé Messias e outros que trabalhavam com os ônibus naquele horário lá nos idos de 1964 e 1965.


POR QUE MATARAM ESSE CARA? 
        
Estávamos no final dos anos setenta e eu estava dando aula de História do Brasil na Escola Municipal de Ensino Supletivo em Alumínio, no antigo prédio do GE Comendador Rodovalho.
         Na véspera do feriado de 21 de abril, como era de costume, haveria festa cívica com desfile pelas ruas da cidade, com carros enfeitados, grupo de escoteiros, discursos e tudo mais. Desfilavam também atletas representando a Associação Atlética Alumínio, pois nesse dia se comemora a fundação do clube azul e branco de tantas glórias.

         Caprichei na aula sobre Tiradentes.  Sem falsa modéstia, consegui impactar boa parte da classe ao discorrer sobre os motivos e o martírio de Joaquim José da Silva Xavier lá em Vila Rica, sendo pendurado na forca e seu corpo esquartejado para servir de exemplo para outros que intentassem contra a Coroa lusitana.

Terminada a aula, coloquei-me à disposição para tirar possíveis dúvidas que houvesse. Foi aí que um dos alunos (e eram todos adultos) se manifestou:

- Oi professor

-Fala Romão: qual é a dúvida?
- Eu só queria saber uma coisa.
- Diga.

- Por que mataram esse cara?

SAPATOS DIFERENTES

Estávamos morando em Mairinque e no ano de 1985, veja o que me aconteceu:
Trabalhando como Assistente Administrativo (o Gerente era o Sr. Philemon), eu o assessorava em um sem número de tarefas, incluindo a participação em reuniões com as chefias dos vários departamentos da fábrica, anotando tudo e fazendo um relatório.
Como eu mantinha dois pares de sapatos debaixo da cama, sendo um para trabalhar na fábrica e outro para dar aulas no Supletivo Municipal, aconteceu que paguei um “micaço” daqueles por causa disso e por ser descuidado.
Certo dia, eu que havia entrado em serviço às 8 horas e lá pelas 10, notei algo de estranho em meus pés: Estava com um sapato esporte marrom e um social preto! E daí?
Daí o jeito foi ligar para o falecido Alirton na Divisão de Segurança e pedir um para de botinas emprestado, o que ele atendeu de imediato. Um estafeta levou-me um daqueles sapatões cor de abóbora com biqueira de aço...
Harre!

SOCORRO! TEM FUSCA AFUNDANDO NA PRAIA!   
     

Em janeiro de1976 fomos à casa de praia da AAA em Itanhaém, valendo-nos do fusquinha que havia comprado dois anos antes. Eu, minha esposa,nossas três crianças e um sobrinho adolescente.
         Optamos em ir pela BR 116, chegando por Peruíbe, seguindo dalí para Itanhaém pela beira-mar. Não demorou para ver que tinha feito uma burrada, uma vez que em certos lugares aqueles riozinhos que desaguam no mar estavam altos e quase cobriam os peneus do carango.
         Creio que foi no dia seguinte, resolvemos ir com o carro na praia, mesmo estando alí bem perto na casa antiga. Estacionei o carro numa certa distância e passamos parte da tarde tranquilos lá, com as crianças se divertindo, minha esposa vigiando-os e eu, para variar, tirando uma soneca.       
         A certa altura minha esposa voltou com as duas meninas e eu fiquei com os meninos na praia. A água do mar foi subinho e quando demos conta, estava chegando no carro. Corremos para tirá-lo,mas o beginho começou a patinar a afundar na areia.
         Então pedi que o sobrinho corresse até a casa e chamasse os homens que estavam lá para me ajudar a sair daquela enrascada. Não demorou nada e entre outros surgiram o Dionizio Bazzo, o Antonio Roberto Miranda (Purguinha) e o carro foi colocado a salvo.
         Aí aconteceu que o motor não pegou, nem na chave nem no tranco. O Purguinha, eletricista que é, fez tudo o que podia, mas não teve jeito. Empurramos o carro até a casa da AAA.
         No dia seguinte fui a Itanhém, comprar um jogo de velas novas que foram colocadas no talzinho.
         Desde então fiquei devendo esse favor ao amigos de trabalho e em especial ao Purguinha, hoje meu amigo bem presente no FACE!

UM VEREADOR DEBAIXO DA MESA
           
Tive o privilégio de ser vereador no Município de Mairinque, quando Alumínio ainda não havia emancipado, de forma que me sentia representante do povo das duas comunidades. Foi no período de 1989 a 1992.
         Cada vereador tinha sua mesa (ou escrivaninha) e uma cadeira giratória. De vez em quando a gente tinha de beber um pouco de água da garrafinha que ficava sobre a mesa.
         Foi numa dessas que, ao esticar o braço para pegar o copo, a cadeira foi para trás e eu para debaixo da mesa. Foi uma risada geral, tanto dos colegas como das pessoas que estavam acompanhando a sessão. Quem estava usando o microfone na tribuna parou de falar e deu um tempinho para que o encabulado edil se recompusesse.
         As sessões eram transmitidas pela Rádio Universal de São Roque e acompanhadas pelos jornalistas Pelica do MK Notícias e Célia Canto do Jornal de Alumínio. Esta, sempre muito gentil, logo que deu o intervalo aproximou-se e me disse: “Sr. Wilson, fica tranquilo, pois em respeito à sua figura, não vou postar a foto da cena no meu jornal. Eu agradeci.
         Logo que me recuperei do inusitado acontecimento saí com esta para disfarçar o vexame: “Desculpem a vergonha que passei”.

UM VELHOTE PRESO NO SÓTÃO
        
Faz pouco tempo, resolvi ir ao sótão da nossa casa. Coloquei uma escada, que não era a mais apropriada, e lá fui eu mexer não me lembro mais no que. Lá ficam guardados sobras de materiais da reforma de nossa moradia.
         Quando chequei ao topo da escada e sentei-me na janela que fica entre a laje e o telhado, sem querer bati com um dos pés na escada e ela caiu. Uau!
         Ocorre que não costumo portar celular e não tinha como ligar para minha esposa nem para as casas contíguas. Gritar por socorro não adiantaria de nada uma vez que os muros são altos.
         E daí como ficou a situação? Como eu poderia sair de lá? Pular da altura de mais de três metros não era a melhor opção, até porque não sou doido. Quero manter intacto meu velho esqueleto.
         Passado mais ou menos uma hora, aquela que há mais de cinquenta anos me socorre na hora dos apuros, minha esposa dona Claudineide chegou, entrou dentro de casa e eu gritei lá de cima:
- Benhê. E ela:
- Onde você está?
- Aqui!
- Aqui onde?
 - No sótão.
E lá foi ela colocar a escada para que seu velhote arteiro pudesse descer! Ufa!

CARAMBA! ESQUECI MEU CARRO!

Corria o ano de 1983, eu estava residindo em Mairinque, trabalhando na Cia. Brasileira de Alumínio das oito às dezessete horas e na Escola Municipal de Ensino Supletivo das dezenove às vinte e duas horas como Orientador Pedagógico, atendendo as seções de Mairinque e Alumínio.


Nos dias em que eu atendia a escola em Alumínio, tinha de vir de carro uma vez que após o expediente na fábrica eu ia até Mairinque, nove quilômetros distante e após banho e janta retornava para a jornada na escola, nessa época já funcionando no novo prédio do “Comendador Rodovalho” nos altos da Vila Paulo Dias.

Pois bem: Saí conversando com o saudoso amigo e companheiro de trabalho Célio da Silva, embarcamos e seguimos conversando. Foi só quando o ônibus passou por uma lombada quase defronte ao Supermercado São Roque que dei conta que havia deixado o carro lá perto da portaria da fábrica. E aí? Teria de voltar a Alumínio e entrar às dezenove horas no Supletivo.

O SOS veio através do Sr.Alcyr Pires de Campos, esposo da professora Helena Manes, companheira de trabalho. O casal deu-me carona até onde estava minha Caravan lá perto da Portaria da CBA e a partir daí as coisas seguiram seu curso normal.
Mas antes de terminar é bom acrescentar que fui reincidente: Quando ainda morava em Alumínio deixei a “Brasília” lá na fábrica e só caí na real quando cheguei em casa e vi a garagem vazia...
Coisas de coroas esquecediços!

O MARIDO QUE NÃO SABIA O QUE ERA DOCE FOLHEADO
       
Corria o ano de 1970, eu estava estudando em Sorocaba, fazendo o último ano de Técnico em Agrimensura no Liceu Pedro II, e minha esposa dona Claudineide estava grávida.
         Certa tarde, antes de eu ir pegar o ônibus da CBA que levava e trazia os estudantes para Sorocaba ela me disse que estava com vontade de comer um doce folheado. Ela não era cheia de “vontades” quando estava grávida. Disse lhe que compraria e levaria para ela.
         Eu conhecia muitos doces, pois meu pai fazia-os muito bem e ganhava um dinheirinho vendendo-os nas festas juninas no bairro em que morávamos: Doce de leite, de coco, de cidra, de abóbora, de amendoim e outros mais.
         Já minha esposa crescera em Sorocaba, tinha hábitos mais apropriados, aprendidos no seio de sua família. Conhecia comidas diferentes, doces e aí o tal doce folheado, do qual eu nunca tinha visto nem ouvido falar.
         Passei no Restaurante Scherepel, fui à vitrine e quando a atendente perguntou o que eu desejava deu “branco total”. Não me lembrei de jeito nenhum o nome do doce e, perto da meia noite cheguei em casa de mãos abanando e ela acordada esperando o tal doce.
- Me perdoa bem. Amanhã sem falta eu trarei.
- Está bem. Fazer o quê.
         Eu deveria escrever o nome do doce para não haver dúvida no dia seguinte, porém não fiz. Ela explicou-me detalhadamente como era e disse-me que falasse para a atendente o nome e ela me venderia o objeto do “desejo”.
         Fui à vitrine, vi uma porção de coisas que eu não conhecia, achei que não precisava perguntar nada e mandei ver:
- Me dá um doce daquele ali.
- Ela olhou-me meio sem jeito e atendeu meu pedido.
         Fui para casa feliz da vida visto que estaria satisfazendo o desejo da minha amada. Peguei o saquinho com o “doce” dentro e entreguei-lhe. Ela, com olhos brilhantes, antecipando o sabor do “folheado”, me agradeceu.
         Alguém já viu ou ouvir falar que TORRADA é um doce folheado?

COISA DE IDOSO; QUANDO FALTA O SONO
        
Conheço certo idoso (setenta e sete anos) o qual começou a trabalhar aos doze, ajudando os pais nos serviços de olaria. Por causa disso, tinha de levantar as cinco da matina.
         Com o passar dos anos, trabalhando na indústria, sempre levantou cedo e dormia tarde porque dava aulas à noite em três cidades na região de Sorocaba.
         Tendo se aposentado e trabalhado mais quatro anos, ficou muito aliviado quando se mudou para uma chácara e levantava quando queria. A idade havia avançado e, por recomendação médica, passou a dormir umas duas horas todas as tardes.
         O costume de dormir tarde permaneceu e, também por recomendação médica há muitos anos, utiliza medicamento para que o sono seja tranqüilo. Tudo bem.
         Acontece que algumas vezes alguma coisa não dá muito certo e o homem acorda lá pela quatro da madrugada e perde o sono. Aí ele espera mais ou menos uma hora e se o sono não chega ele toma mais um pedacinho do comprimido, o que faz com que o estoma fique dolorido.
         Então ele levanta e ataca a geladeira, come alguma coisa e volta à cama e só acorda lá pelas nove da manhã.
Está chato este relato, né?
         Pois então veja essa: Hoje ele acordou, abriu os olhos (claro) e achou que estava vendo coisas na TV que fica próxima da cama.
         Para se levantar, virou para o outro lado e deu conta que a TV estava desligada e na parede do outro lado. Ui! Aí ele se lembrou das doideiras dos tempos de UTI em 2013 no hospital.
         Há sim: Mais ou menos como diria Roberto Carlos, “Esse idoso sou eu”.

COM A ÁGUA DA ENCHENTE PELO PEITO
        
Corria o ano de 1988, eu trabalhava como Assistente da Gerência Administrativa na CBA e havia sido eleito vereador à Câmara Municipal de Mairinque para a legislatura de 1989 a 1992.
         Quem mora em Alumínio, Mairinque e São Roque deve se lembrar daquele trechinho da Rodovia Raposo Tavares quase defronte a Vila Nova Mairinque, o qual ficava alagado todas as vezes que ocorria uma chuva mais forte.
         Meu filho Wilson Claudio trabalhava na Cooperativa de Crédito em Alumínio e havia comprado uma Fiat Panorama, até ali o melhor carro que possuíra.
         Certo dia toca o telefone perto das dezessete horas, eu atendo e:
- Pai?
- Oi filho. Tudo bem?
- Tudo bem. Ao invés do senhor ir embora para Mairinque hoje no ônibus, o senhor toparia ir comigo para experimentar meu carro novo? Fulano e beltrano também irão.
- OK. Espero-te ali em frente a casa do Grego.
         Às 17 horas e 10 minutos embarcamos na possante e saímos, portanto cinco minutos antes do ônibus da Transvida, terceirizada da CBA.
         Foi pimba!. Chegando ao tal trecho, passavam ônibus e caminhões, mas os carros pequenos, neca!
- Pai, eu vou arriscar.
- É melhor não, olha aquele encostado no meio da água lá na frente.
         Não adiantou meu argumento. Ele engatou uma primeira, acelerou e foi até certo ponto. O motor apagou, entrou água no carro e todos desceram para empurrar a dita cuja. Quando já estávamos quase saindo do lado de lá veio o ônibus da com o os colegas da CBA, (lembro bem que um deles era o Umberto Franceschi  e os demais usuários, na maioria me conheciam. Não de outra!
- Aí vereador! Vê se agora ajuda resolver esse problema! Foi uma zoeira daquelas. O ônibus foi embora e nós empurramos a Panorama até sair no asfalto seco.
         Eu e todos os companheiros de Câmara tentamos resolver, não só esse, mas outros tantos problemas no município, porém o assunto só ficou resolvido quando o DER- Depto. Estadual de Estradas de Rodagem, com sede regional em Itapetininga entrou em ação.
         Hoje passo muito raramente por lá e não sei dizer se ainda alguém fica parado no meio da chuva das  enchentes...    

EI FUMACEIRA!
        
De dezembro de 1958 a maio de 1965 morei com minha família na Vila Paulo Dias. Éramos vizinhos “parede-e-meia” da família Pistila (Sr. Ângelo, dona Nair e a filharada.)
         Em 1959 trabalhamos para o Sr. Paulo Dias, fazendo tijolos, com os quais ele construiu várias casas na parte alta da vila que leva o nome dele.
         Em janeiro de 1960 fui admitido para trabalhar em três horários na CBA, seção Laminação de Papel. Quando fazia o turno das 24 às 8 horas, tinha de dormir durante o dia.
         Certo dia, eu estava dormindo, quando não mais que de repente acordei com um estrondo! Assustado, não tive tempo nem de levantar-me e a casa se encheu de fumaça misturada com cinza!
         Explicando o ocorrido: O Sr. Durval, pai do Nilton Baiano morava um pouco mais abaixo no centro da vilinha e se pôs a soltar rojões para festejar a vitória em uma batalha judicial no Nordeste, de onde a família tinha vindo.
         Ocorre que uma das bombas foi cair justamente dentro do nosso fogão a lenha, entrando pela chaminé, que era daquelas feitas com manilha de barro.
         Moral da história: Com o susto, perdi o sono, tive de tomar outro banho de bacia e só bem mais tarde fui completar minhas horas de repouso.
Arre! 

“GUARDA NO PATO”
        
Na década de 1990 veio pregar na Igreja Presbiteriana de Mairinque um presbítero residente em São Paulo, a convite de um dos irmãos da nossa igreja.
         Foi quando aconteceu que a certa altura do sermão ele quis contar uma ilustração compatível com o texto que estava expondo e logo que ele terminou  a dita cuja, houve gargalhada geral entre os presentes. E a cada vez que o homem falava no  nome de um objeto da ilustração o povo gargalhava de novo.
         Creio que ele já contara muitas vezes essa ilustração em outras igrejas e nunca tivera tanto riso. Então você deverá estar curioso para saber que objeto era esse e eu vou te contar o que era.
         Na estória contada pelo presbítero, casamento um casamento e os noivos ganharam um pato de louça, com uma abertura em cima para servir como porta-objeto. Os nubentes no  princípio não gostaram muito do mimo, mas resolveram guardá-lo em algum canto do dormitório.
         Não demorou muito e o tal pato começou mostrar a que tinha vindo:
- Querida: Onde ponho este recibo de pagamento?
- Põe no pato.
- Querido: Onde coloco estas moedas miúdas que não gosto de carregá-las na bolsa?
- Põe no pato.
         E assim foi. Era ele falar põe no pato e o pessoal gargalhava. Eu em especial tive uma crise de riso incontrolável e houve um efeito cascata. E um irmãozinho muito querido chamado Ailton Mota era alvo dos olhares a cada gargalhada.
         Ocorre que por saber imitar com perfeição o Pato Donald, o irmão que mora nos nossos corações ganhara o apelido de Pato! Daí a conexão inevitável...
         Abraço do tamanho do mundo a você Ailton Mota, o nosso sempre querido “Pato”. 

LADRÃO DE CARRO?

O que vou narrar aqui aconteceu comigo em Sorocaba há uns três anos mais ou menos. Mas já havia acontecido antes, pois de vez enquanto fico como a Magda do “Sai de Baixo” que certa vez disse: Quem estou, aonde sou?
            A primeira vez aconteceu em São Roque, próximo à sede do jornal O Democrata. Entreguei um escrito na redação e voltei para pegar meu carro, na época um Fusquinha branco. Não conseguia introduzir a chave para abrir a porta e quando comecei a coçar a cabeça um senhor, dando risada falou:
- Ei companheiro. O seu carro é o que está atrás. UI! Agradeci e dei no pé, ou melhor dizendo, apertei o pé no acelerador após pedir desculpas e agradecê-lo.
            Mais inusitado ainda ocorreu aqui mesmo em Sorocaba, onde moro. Fui a um culto na Igreja Presbiteriana de Sorocaba, onde, aliás, casei-me com dona Claudineide há mais de 53 anos.
            Os carros ficam estacionados numa rua que passa no lado do fundo da igreja e suas demais dependências.
Pois bem, acabado o culto, fui até onde presumi que havia estacionado meu Uno branco introduzi a chave, abri a porta e sentei-me.
            Achei estranho porque o banco estava bem à frente e eu uso bem para traz devido minhas pernas compridas. Ajustei-o, pus a chave no contato e a mesma não quis girar...
            Claro, não era meu possantinho! Talvez fosse de alguma irmã na fé baixinha! Saí de fininho e nem me lembrei de voltar o banco na posição que estava.         
            Coitada da proprietária do carro deve ter pensado que algum ladrão tentara levar seu veículo e deu muitas graças a Deus pelo “livramento”.            Ainda bem que foi só mais uma lerdice minha!



3 -  COISAS DE GENTE E DE ANJOS




QUINZE DIAS DE LOUCURA                                                                              
           
Em julho de 2013 fui internado na Santa Casa em Sorocaba com uma violenta arritmia causada pela doença de Chagas e acabei sofrendo uma parada cardiorrespiratória, sendo reanimado por choques elétricos e outros procedimentos médicos apropriados.
         Fiquei internado quinze dias na UTI e mais uma semana num quarto. Na UTI, devido o grande número de medicamentos aplicados, acabei ficando totalmente “gagá”, o que é normal nessas ocasiões visto que cada medicamento tem seus efeitos colaterais.
         Eu pensava que via tanta coisa ruim acontecendo naquele ambiente que não tenho como descreve-los aqui. Meu cérebro inventava coisas horríveis e criava cenas que uma mente sadia jamais seria capaz de produzi-las.
         Fiquei cinco dias “fora do ar” e quando acordei foi que fiquei sabendo onde estava e o motivo de estar entubado e monitorado por uma porção de instrumentos.
         Desnecessário se faz falar da dedicação de minha esposa e demais membros da família, mas quero destacar o profissionalismo da equipe médica e de enfermagem e, mais precisamente um deles chamado Lucas Manelli. Naquela época ele era Auxiliar de Enfermagem, mas hoje é Enfermeiro Padrão.
         Esse jovem senhor, sempre ao cuidar de minha higiene corporal (eram sempre dois) ele me perguntava se eu queria ouvir algumas músicas. Ele sabia que eu estava muito deprimido.
 Eu respondia que sim e ele colocava o fone do MP3 no meu ouvido para que eu me alegrasse com algumas canções.  Uma delas me marcou muito e se chama “Deus Vai Fazer”.
         Nunca me esquecerei desse fato e desde aquela época nos tornamos amigos. Amigos daqueles que guardamos no lado esquerdo  do peito como diz o poeta. Gostaria que vocês ouvissem a canção que está aí no vídeo, independente de religião ou qualquer outra coisa.


CHORA NÃO, MENINO!  
        
Morávamos no Jardim Cruzeiro em Mairinque. Eu trabalhava na CBA, minha esposa d. Claudineide lecionava em escolas estaduais e os filhos estudavam. O caçula Artur, à época do fato que vou narrar, também brincava visto que era um pré-adolescente de treze anos.
       Certo dia coincidiu de chegarmos juntos – eu e minha esposa, lá pelas dezoito horas e nossa filha Eliane veio toda assustada ao nosso encontro. Percebemos que algo de anormal estava ocorrendo e ela colocou-nos a par da situação.
         Explicou que ela estava trabalhando na cozinha quando ouviu o Artur chamar pelo nome dela lá no começo da escada. Um dos braços dele esvaia-se em sangue e ele estava com o rosto branco como quem iria desmaiar. Ela correu, pegou uma toalha, envolveu o braço dele e pediu socorro na casa da     nossa vizinha mais próxima.
Para não alongar muito: fomos à Beneficência Hospitalar e encontramos o Artur deitado, com a cabeça recostada no colo da professora Doroti Antunes e um médico aplicando os últimos de algumas dezenas de pontos no braço do garoto. Quando ouviu nossa voz, quis chorar, mas se conteve quando recebeu carinhosas e encorajadoras palavras da vizinha benfeitora.
         Um terreno com areia para construção, cujo muro vizinho tinha cacos de vidro havia sido a causa do acidente. Porém o registro aqui é feito, não para criticar alguém, mas sim para deixar lavrada a gratidão à nossa vizinha da qual temos o prazer de desfrutar de sua amizade até hoje.
         Dia destes recebi a foto da professora Doroti Antunes para colocar na “Pequena História do Município de Mairinque” que escrevi. Lá ela está porque faz parte da História da Educação em Mairinque. Mas ao ver a foto dela não pude deixar de relembrar do dia em que ela foi anjo por um dia em nossas vidas. Quem levou o Artur ao hospital naquele dia foi o André Zaparolli.

Doroti e André: Um beijo meu, de d. Claudineide e do Artur nos seus corações. 


DOCE DE FIGO

Estávamos em setembro de 1965 e minha esposa Claudineide, então com vinte anos de idade estava grávida, esperando nosso primeiro filho que viria a se chamar Wilson Cláudio. Morávamos numa casinha da CBA à Rua Álvaro de Menezes, parede-e-meia com nossos amigos Jasiel e Ruth Ferreira, muito próximo ao estádio da Associação Atlética Alumínio.
Num determinado domingo à tarde haveria um culto de evangelização da Igreja Presbiteriana de Alumínio e o Coral Ebenezer daquela igreja cantaria como parte do culto. O regente era o presbítero Gediel de Moura, de saudosa memória.
Logo após o almoço uma febre muito alta tomou conta do organismo da jovem gestante. Não tinha nenhuma dor nem qualquer sintoma que pudesse levar à constatação que houvesse uma infecção.
Bem!
- Oi. O que foi benzinho.
- Estou com vergonha de dizer mas estou com uma vontade tão grande de comer figo em calda!
- É?
- É sim.
- Então vou comprar.
Procurei no bar do Sr. Pedro (que viria a ser o bar da AAA). Não tinha o tal doce. Havia três armazéns em Alumínio, o do SESI, o do Sr. José Cerioni e o do Sr. Paulo Dias. Mas era domingo e eles estavam fechados. E a febre não cedia.
Foi aí que tive uma idéia: fui bater à porta da casa do Sr. José Cerioni (não me lembro se ele já era falecido nessa época). Quem tocava o estabelecimento eram os filhos dele Benedito, Artêmio e o genro Enio Fabiani, casado com a dona Bida. O prédio abrigava o armazém e a residência deles (os que citei menos o Benedito). Mais tarde o Artêmio teria seu bar e dona Bida seu bazar. O Ênio morreria num acidente automobilístico na Rodovia Raposo Tavares, altura de Mailasque.
Logo que bati à porta da residência ela se abriu. A esposa do Sr. Cerioni, dona Ines (não é Inês) veio atender. Cumprimentei-a e expliquei-lhe a delicadeza da situação.
- Vem comigo moço. Vamos ao armazém para ver se tem lá. Percorremos vários corredores e atravessamos diversos cômodos até que chegamos ao armazém. Fomos olhando nas prateleiras e... lá estavam as latas: figo em caldas!
- Vou levar. Quanto é minha senhora?
- Não sei não. Leva e depois você passa por aqui para acertar com os meninos.
Abri a tampa da lata usando uma faca de cozinha como meu pai fazia lá na casa dele. e entreguei-a à minha jovem esposa. Ela comeu ali mesmo, quase todo o conteúdo da lata..
Parece que aquele doce era a coisa mais gostosa do mundo. E talvez tenha sido mesmo nas condições dela. De imediato a febre foi embora e nós fomos ao Cine Alumínio participar do culto. E agora lendo o que escrevi ela diz que não enjoou de doce de figo.
No dia seguinte passei no armazém para acertar a conta e dona Ines perguntou-me se a febre da esposa havia passado. E acrescentou:
- É moço, com essas coisas não se brinca!
Demos graças a Deus e ficamos eternamente gratos à dona Inês, aquela amável e atenciosa senhora que  naquele dia foi um anjo de Deus em nossas vidas.

MORRENDO NAS ÁGUAS DO RIO IAPÓ

Rolava o ano de 1971 e resolvemos visitar o cunhado Claudino Marra Júnior na cidade de Castro no sul do Paraná. Ainda não tínhamos carro, porém meu mano José, sim. Ele com a esposa Josita, o filho Marco Antonio, eu, minha esposa Claudineide e nossos filhos Wilson Cláudio, Eliane e Flávia, esta, um bebezinho.
A cidade de Castro é cortada pelo rio Iapó, afluente do Iguaçu. É bastante caudaloso, piscoso e muito atraente para os banhistas, existindo uma prainha muito bem conservada pela municipalidade.
Eu não sabia nadar, porém resolvi brincar no rio. Distraidamente fui me deixando levar mais para o meio, onde a profundidade foi aumentando. Minha esposa e minha cunhada olhavam nossas crianças se divertindo ora na beiradinha da água ora na areia da prainha.
Meu irmão, que à época era um homem jovem e magro, sabia nadar muito bem, porém não estava dentro da água; sorvia uma bebida geladinha e conversava à beira do rio.
Como disse, eu permanecia em pé no meio das águas: até certo ponto estas batiam em minha cintura, Dali há pouco no peito. Em dado momento percebi que estavam batendo na altura do pescoço e pensei que deveria retornar. Dei um passo nesse intento, porém não encontrei chão. Desequilibrado, tentei novamente e nada! Percebi que já estava na horizontal e começando a afundar.
- Socorro! A voz já saiu meio rouca visto que estava bebendo água. Percebi o esforço de um rapaz que estava ali por perto em me alcançar e soltei o corpo. Logo percebi que outros braços juntaram-se ao do rapaz e conseguiram resgatar-me, levando-me para terra firme onde minha esposa e as crianças assustadas davam graças a Deus pelo livramento.
Eu tinha noção da besteira que havia cometido e ouvia uma voz dizendo que me deixassem por um pouco que ele iria tentar levar-me novamente às águas que era para eu não ficar traumatizado. Ele insistiu, porém eu quis colocar minha roupa e sair daquele lugar.
Além do rapaz, que depois vi que era bem mais baixo do que eu, os braços que me resgataram das águas foram de meu próprio irmão José. Ele é seis anos mais novo do que eu, está aposentado, mas trabalhando muito apesar das dificuldades com o seu excesso de peso. Ele sabe que o amo muito e oro por ele todas as noites. Sabe da gratidão que tenho por ele ter salvado minha vida há mais de quarenta anos. Porém esta crônica escrevo-a para testemunho de minha gratidão. A ele e àquele rapaz que nunca mais o vi. Foram anjos usados por Deus para resgatar-me das águas, possibilitando-me continuar minha vida junto de minha esposa, daqueles filhos que já tínhamos e do Artur que viria seis anos depois.

CRIANÇA EXTRAVIADA NA PRAIA

Em 1971 fomos à casa de praia da Associação Atlética Alumínio pela primeira vez. Não tínhamos carro e a viagem foi feita de ônibus, via São Paulo e Santos. Éramos eu, minha esposa d. Claudineide e os três primeiros filhos: Wilson Cláudio com cinco anos, Eliane com pouco mais de dois e a Flávia com sete meses.

Estando lá na colônia de férias, saí com o Dionizio Bazzo, meu colega de trabalho para comprar alguns gêneros alimentícios numa mercearia que havia distante uns quinhentos metros. As ruas eram ainda totalmente desertas, visto não existir outras edificações. Havia bastante vegetação natural e um pouco mais adiante no sentido Peruíbe outra colônia com diversas casas.

Eu e meu companheiro de trabalho Dionizio Bazzo fomos a uma mercearia distante uns quinhentos metros comprar alguns gêneros alimentícios. A Marli, filha de meu amigo quis ir junto e o Wilson Cláudio também. Saímos os quatro em direção a tal mercearia dos Sargentos, mas logo após dobrar a primeira esquina meu filho quis retornar. Então o Dionizio disse à filha que voltasse com o menino, visto que ela era mais velha e já estava mais acostumada com o local. Logo depois lá estava ela de volta conosco e, indagada pelo pai, explicou que o menininho quis voltar sozinho.

Quando retornamos com as compras minha esposa perguntou-me pelo Wilson Cláudio. Expliquei a seqüência dos fatos. Mas... Deus do Céu. O menino não havia aparecido por lá. Escrevendo isso hoje, quarenta e dois anos depois, ainda sinto um arrepio percorrer meu corpo.

Aí saiu todo mundo para procurar o menino. Naquelas casas logo adiante as pessoas se irmanaram na busca e depois de quase duas horas o alivio: Lá longe, vimos três homens, um deles com uma criança nos braços. Aquilo encheu nossos corações de esperança. Fomos ao encontro e... era ele mesmo!.

Cheios de gratidão para com aqueles homens que nunca havíamos visto antes e nunca mais vimos depois, quisemos saber como eles haviam encontrado o menino. E aquele anjo em forma de gente nos disse:

Fácil: Vimo-lo chorando, perguntamos onde ele morava e ele disse que era em Alumínio. Como na casa da colônia de férias tinha a placa com esse nome foi fácil saber que ele tinha vindo de lá.

Coisas de crianças e de anjos. E de um pai que não teve a responsabilidade necessária num momento que precisava tê-la.

DEUS NOS LIVROU NA SABOTAGEM
 
Em 1979 morávamos em Alumínio e resolvemos visitar nossos familiares em Pouso Alegre, Minas Gerais. Trabalhei até as dezesseis horas na CBA e pegamos estrada: eu minha esposa d. Claudineide e os filhos, estando o caçula Artur com pouco mais de dois anos.
À época tínhamos um Corcel 71 cor de vinho bem conservadinho. Tomamos a Raposo Tavares e chegamos à Marginal Tietê... bem na hora do rush. Quando chegamos ao início da Rodovia Fernão Dias era quase nove da noite.
À época eu tinha apenas 38 anos e não tinha nenhuma limitação visual ou de qualquer outro tipo. Tudo estava correndo bem, quando próximo da cidade de Extrema, pouco depois da divisa entre São Paulo e Minas ocorreu o inesperado: duas pedras de tamanho avantajado, haviam sido colocadas sobre a pista asfáltica.
Embora tenha conseguido desviar delas, o fundo do carro foi atingido. De imediato percebi que o motor “apagou”, não havia marcha, apenas a direção e os freios estavam normais. Como era descida, fomos em frente até avistar casas ao lado da rodovia e ali estacionamos o veículo.
Ainda estávamos a noventa quilômetros de nosso destino. O carro não funcionava mesmo, então decidimos empurrá-lo mais para perto de uma cerca existente e tentarmos continuar a viagem de ônibus. No outro dia viria como meu cunhado pastor-mecânico resgatar o carro.
Passaram ônibus, mas não pararam. Um caminhoneiro parou, quis dar lição de moral e seguiu em frente. Nós orávamos e até mesmo o caçulinha fazia isso. Foi quando parou uma Kombi.
- O que aconteceu amigos?
Contei-lhe todo o ocorrido. Ele fez questão de dar uma olhadinha no carro e depois disse:
- Vamos embora. As crianças podem se deitar aí em cima desses panos (peças de tecidos) e vocês vão aqui comigo. E foi o que aconteceu. Sentamos ao lado daquele homem, o qual nos contou que ia da cidade de Itatiba com aquele carregamento de tecidos da fábrica Argos justamente para Pouso Alegre. Não faltou conversa até lá.
O homem, do qual não sei dizer o nome estacionou o veículo defronte a casa de nosso cunhado, entrou, tomou um cafezinho e disse adeus. Nunca mais nos vimos.
No dia seguinte, logo de manhã meu cunhado foi comigo até onde estava o carro. Ele consertou o varão do câmbio que ficara torto com a pancada na pedra e o duto de gasolina que se rompera e voltamos à sua casa.
Coisas de Crianças (de rapazes e de anjos que Deus coloca em nossas vidas).


4 - COISAS DA MATURIDADE E DA CBA


DR. FIGUEIRÔA E A “RAIZ REDONDA”


Grande incentivador dos estudos, dos quais não abria mão para os menores que desejavam trabalhar na CBA, Dr. Figueirôa nos anos setenta passou a exigir dos profissionais das várias áreas de atividade na fábrica a prosseguir nos estudos, pois na grande maioria só tinham o antigo curso primário.
Certo dia um dos muitos trabalhadores foi ter com o diretor na casa dele para pedir uma promoção. No diálogo que se seguiu, o homem, questionado se estaria estudando, respondeu afirmativamente. E daí aconteceu este diálogo:
- Então jovem, que curso o senhor está fazendo?
- Cálculo Técnico no SENAI, com o prof. José Bento.
- E o senhor já sabe extrair a raiz quadrada?
- Xi, doutor. Nem a raiz redonda eu sei, quanto mais a quadrada! 
Creio que ainda não foi dessa vez que saiu a promoção que o colega desejava!

CAÇANDO LEBRE
          
Era costume dos funcionários da Administração chegar de cinco a dez minutos antes de recomeçar os trabalhos após o horário de almoço. Formavam-se então pequenos grupos por afinidade e se conversava de tudo um pouco.
         Entre os trilhos da ferrovia e o prédio onde trabalhávamos havia uma estreita faixa de terra coberta de gramíneas e pequenos arbustos. Por baixo dessa vegetação circulavam pequenos animais, predominando os coelhos ou preás.
       Certo dia, aproveitando os minutos que ainda restavam, dois ou três companheiros resolveram caçar coelhos. E armados de alguns porretes, iniciaram a empreitada. Deu treze horas, a maioria dos funcionários entraram e lá ficou um deles, distraído e sem percepção de horário, desferindo pauladas na tentativa de acertar um roedor.
         Nesse ínterim  chegou o Chefe do Escritório Sr. Paulo Dias, estacionou o Nash 52 ao lado do prédio e viu o funcionário na faina de acertar o preá.
         Ele entrou, foi até o Sr. Philemon, chefe do dito cujo e perguntou o que era aquilo lá fora e constatada a falha funcional do rapaz, disparou a ordem:
- Três dias de gancho para ele.
      Na pasta funcional do predador ficou arquivada a cópia da carta de advertência. Nela, o motivo da disciplina: “Por estar caçando lebre em hora de serviço”.

ERA TUDO “CONVERSA FIADA”

Esta também nos foi contada pelo próprio Dr. Figueirôa: Nos seus primeiros tempos como diretor da CBA ele ia quase todos os dias a São Roque dirigindo a caminhonete azul com o logotipo da fábrica estampada nas portas. Comprava um jornal, ia ao banco e fazia outras coisas de rotina.
Numa dessas vezes, logo que estacionou o veículo e começou a cruzar a praça da Matriz, um jovem senhor emparelhou-se a ele, perguntando se poderia pedir-lhe um favor.
- Fala jovem. O que você quer?
- Sabe moço: pelo que estou vendo o senhor é motorista lá na CBA e eu estou precisando trabalhar. Será que o senhor me dá uma carona até Alumínio?
- Claro meu jovem. Pode aguardar aí que já já eu estarei de volta.
No trajeto de São Roque a Alumínio o homem destampou a falar, acreditando ser papo de um motorista para outro. E saiu com esta:
- Sabe companheiro: Eu acho que você trabalha como eu em tabém gosto. Eu só dirijo. Esse negócio de por a mão na massa não é comigo não. Tem colega aí que dirige, carrega, descarrega. “Tá loco sô!”
O Dr. Figueirôa só na escuta. E veio outro caso. E mais outro, até que chegando à esquina da Rua Alexandre Albuquerque (onde foi construída a pracinha) o veículo parou e o candidato ao emprego recebeu esta orientação daquele “motorista” baixinho, bigode meio arrebitado e um topetezinho:
- Jovem: Vá até o Depto. Pessoal e procure pelo senhor Paulo Dias. Ele vai arrumar uma vaga de motorista para você.
- Muito obrigado “colega”.
O homem fez como lhe fora dito e em pouco tempo estava guiando caminhão dentro da fábrica. Feliz da vida, afinal era a maior fábrica da região.
Certo dia  nosso personagem estava com seu caminhão estacionado no Departamento de Extrusão, mais conhecido dentro da fábrica como Prensas (local de trabalho de João Sabby, Itagiba de Moraes, Mathias e tantos outros amigos). Estava em pé, absorto, vendo os perfilados de alumínio sendo extrudidos quando avistou dois senhores baixinhos vindo em sua direção. Um ele reconheceu: era aquele de bigode e topete que lhe dera carona; Estava com uma mão no ombro do outro. Pareciam ser gente importante dentro da usina. Olhou mais atentamente e não se conteve. Perguntou a um dos homens que descarregava tarugos de alumínio do seu caminhão:
- Colega: Quem são aqueles dois senhores que vem vindo ali?
- O de bigode é o diretor da fábrica, Dr. Figueirôa. O outro é o Dr. Eurico gerente da parte elétrica.
- Aiiiiiiii meu Deus!
Correu ao encontro do diretor e disse-lhe:
- Dr. Pelo amor de Deus, não acredite em nada daquilo que eu falei naquele dia da carona.
- Que carona jovem?
- Na semana passada o senhor me trouxe na sua caminhonete e eu falei uma porção de bobagem. Tudo conversa fiada Dr. Eu não sou nada daquilo não!
- Jovem: Fica tranqüilo. É você mesmo com teu trabalho que vai mostrar quem você realmente é. Aqui dentro da fábrica.
Ufa! 

GRUDA AÍ – GUDRO NÃO!
        
Quem presenciou este fato e me contou foi o amigão e ex companheiro de trabalho David Alves Machado, o qual vou tentar reproduzi-lo. Aconteceu no início da década de 1960.
     Lá no escritório antigo da CBA o Sr. Paulo Dias, chefe daquele departamento mandou chamar um empregado da CBA no escritório dele, anexo à Seção Pessoal.
         O colaborador, como se convencionou chamar os trabalhadores de uma empresa em nossos dias, chegou ressabiado, adentrou o prédio e foi até o guichê do chefe e de lá exclamou:
- “Seo” Paulo Dias: Eu sou fulano de tal (não sei qual era o nome) . O senhor. Quer falar comigo?
- Quero sim. Pode dar a volta e entrar aqui. O homem já assustado fez o que o Sr. Paulo ordenou e os dois ficaram frente a frente, tipo aquele faroeste “Duelo ao Por do Sol”.
- O senhor assina esta Carta de Advertência aqui. Ordem da Diretoria.
- Assino não.
- Assina sim.
         O homem, muito nervoso pegou o papel, rasgou em dois pedaços e jogou ao chão.
 Sr. Paulo Dias: Cata e gruda (com durex) esse papel.
- Gudro não. (o homem invertia a letra r (gudro ao invés de grudo.
- Gruda sim.
- Gudro não.
         Vendo que não tinha jeito o chefe mandou o homem voltar ao trabalho, chamou um funcionário que grudou o documento e duas testemunhas assinaram-no.
         A Carta de Advertência foi para o prontuário e fim de papo, grudada e não gudrada.

NO TELEFONE DA CBA – DEU EMPATE!
        
Não é exagero afirmar que muitas pessoas gostavam de imitar a voz característica do Dr. Figueirôa, Diretor Industrial da CBA de 1955 a 1985 o qual tinha o hábito de tratar seus interlocutores usando a expressão: “Jovem”
         Por causa disso ocorreram algumas cenas hilariantes, como esta que vou narrar. Existiam versões um pouco diferentes para os fatos, então vou escolher uma delas.
         Consta que certo dia o telefone do escritório da Expedição tocou e certo funcionário, daqueles que gostam de fazer umas gracinhas foi atender: Colocou o fone ao ouvido e então se seguiu este diálogo:
- Alô, quem está falando? (era o Dr. Figueirôa querendo falar com o Sr. Bello), mas o funcionário não reconheceu a voz e respondeu, tentando imitar a voz do diretor:
- É o Dr. Figueirôa.
- Então empatou. Aqui também é ele. Vai logo chamar teu chefe rapaz.
Sim senhor, já estou indo!
 UUUIII!

DESENHAR O BICO DO PATO – COISA DIFÍCIL!

Dificilmente o Dr. Figueirôa ia ao seu escritório sem antes atender, primeiro na garagem de sua residência e depois num giro pela fábrica, principalmente nas áreas em ampliação. A construção civil era seu xodó. Via de regra atendia assessores durante esse giro, entre os quais, eu.
Muitas coisas eram faladas como tendo sido ditas ou feitas pelo Dr. Figueirôa, principalmente por seu modo direto e enérgico de se expressar. A palavra preferida dele ao se dirigir às pessoas era “jovem”, Isso não dependia da idade do interlocutor.
Vou aqui narrar um acontecimento que foi  confirmado por ele em um dia que estávamos reunidos, estando presentes os senhores Honorato Nogueira, Mário Miranda Amaral, Philemon e Sergio Schmidt num escritório dentro da usina.
 Trata-se da bastante comentada história que vamos chamar de “O Bico do Pato. Consta que o Dr. Figueirôa chegou ao porão da antiga Sala dos Fornos 32 kA e lá estava um trabalhador desenhando um pato no pilar, usando um pedaço de giz.
Com exceção do bico, o resto do pato estava desenhado. Mas o tal do bico não ficava bom e o rapaz apagava e desenhava novamente.
Sem perceber que estava sendo observado pelo diretor da fábrica, o moço prosseguia na sua tentativa, quando ouviu aquela voz característica pronunciada pelo chefe maior:
- Jovem: Está difícil fazer o bico do pato né?
Vai para casa treinar três dias para aprender a fazer o bico da ave. E não teve choro!.

O HOMEM "É MUITO BRABO"

      Contava o Dr. Figueirôa que em 1955 logo que assumiu a direção da fábrica correu entre os trabalhadores a notícia de que o novo comandante era um homem muito bravo. E realmente havia um respeito muito grande pelo nome daquele mineiro de Ouro Preto, de bigode com as pontas um pouco retorcidas.
Num dos giros pelo interior da usina o Dr. Figueirôa foi à uma área de expansão da Alumina e lá estava um trabalhador dentro de uma vala, jogando terra para fora com uma pá. Como a vala já estava funda, o diretor se achegou à beira da mesma e olhou lá para baixo e aconteceu o seguinte diálogo:
- Jovem: Você está gostando do trabalho?
- Sabe moço, não posso conversar com o senhor porque me disseram que tem um diretor novo aí que é brabo que é uma coisa. E mandou terra para cima, cobrindo as botas do diretor.

PÉ QUEBRADO E GANCHO PARA A MOÇADA    
        
Creio que foi na década de 1970 que aconteceu o fato que vou narrar aqui. Aconteceu no pátio do Almoxarifado Geral da CBA, onde alguns funcionários jogavam uma bolinha depois do almoço.
         Na CBA tem uma máquina enorme chamada Moinho de Bolas, cuja função é moer o minério de bauxita, transformando-o em pó. Essa operação é realizada por bolas de ferro de vários tamanhos que vão se revirando dentro do moinho misturadas com a bauxita.
         Pois bem. Alguém do Almoxarifado teve a “brilhante” idéia de, no momento do bate-bola pós almoço, fazer uma brincadeira com algum colega. E fez.
         Viu alguém que estava chegando, rolou a bola e disse: chuta... Foi aquela “emendada”. A bola não saiu do lugar e o funcionário caiu, constatando que o pé estava quebrado.
         Chamada a ambulância e socorrido o craque-vítima, todos os que presenciaram a cena, assustados, voltaram aos seus postos de trabalho. O assunto, claro foi parar no Depto. Jurídico e nas mãos do Dr. Figueirôa.
         Resultado do jogo: Gancho para uma porção de gente que direta ou indiretamente participou daquele “inesquecível” jogo. 

QUE SITUAÇÃO VEXATÓRIA!
        
Contavam alguns colegas de CBA mais antigos que, quando estava sendo feita a terraplenagem do terreno para construir a primeira Sala dos Fornos, certo dia aconteceu um incidente (ou acidente), que se não fosse um tanto trágico, seria cômico.
         A empresa contratada para fazer a terraplenagem instalou uma privada daquelas que eram muito usadas antigamente, também conhecidas como “casinha”, feitas de madeira e no assoalho um buraco quadrado para a passagem do material descartado pelos usuários.
         Aconteceu que certa ocasião, o operador da máquina esqueceu-se da referida casinha e deu uma ré com tudo, mandando a privada e o usuário para longe...
        Consta que não houve nenhum ferimento no operário. O que não se sabe é se ele tinha terminado de fazer sua necessidade fisiológica.
        Coitado!

“SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ”
        
Na década de 1960 lá no escritório antigo da CBA um senhor foi pedir emprego na CBA e orientaram-no que falasse com o Sr. Paulo Dias, Chefe do Escritório.
         Como havia vaga de Ajudante, o candidato foi enviado ao setor de testes. O funcionário José Geraldo de Almeida Rodrigues (sobrinho da saudosa professora Therezinha Souza Arruda Bello) deu os testes e algumas explicações ao candidato a emprego.
         Numa folha, o examinando deveria resolver as quatro operações básicas de aritmética, ou seja, somar, subtrair, multiplicar e dividir. Tudo bem simplezinho. Na outra folha, deveria ser redigida uma cartinha simples à CBA pedindo o emprego e dando o motivo porque o cidadão desejava fazer parte da empresa.
      Passado algum tempo estava tudo pronto e o homem avisou o funcionário. Este levou os papéis até sua escrivaninha, conferiu as operações e depois leu a carta. Ele, funcionário, era meio sisudo, mas não conseguiu deixar de rir ao terminar de ler a cartinha.
         O conteúdo da mesma era mais ou menos assim: Sr. Paulo Dias: Eu sou casado e tenho mulher e filhos para tratar. Por isso quero trabalhar na CBA, prometendo ser um bom funcionário e receber meu dinheiro no final de todo mês  O motivo é “Porque saco vazio não para em pé”
         Fez exame médico, foi admitido e a vida seguiu em frente.

O DIA EM QUE ALUMÍNIO PERDEU O DR. FIGUEIRÔA

Foi no dia 13 de junho de 1985 que o Dr. Figueirôa faleceu. Eu havia entrado em serviço às oito horas e pouco depois recebi a mais inesperada ligação telefônica da minha vida profissional. Era o Sr. Philemon de Medeiros, Chefe do Escritório informando-me que o Dr. Figueirôa havia falecido naquela manhã, ou mais precisamente, que morrera enquanto dormia.
Em seguida ele instruiu-me sobre o que eu deveria fazer a partir daquele momento: Ir ao gabinete do falecido no 4º andar do edifício da Administração e de lá comunicar o fatídico acontecimento a todas as quarenta e duas chefias de departamentos da fábrica. Em seguida ligar para os jornais e emissoras de rádio da região.
Não sei o porquê, mas minha primeira ligação foi para o Engenheiro Dirceu Guimarães, o qual demorou a acreditar no que estava ouvindo. Quando cheguei ao último nome da lista, as informações já haviam corrido e se cruzado pelos meandros da grande usina.
O velório foi na Igreja Matriz de São Francisco de Paulo, a qual ficou literalmente tomada pelos colaboradores, amigos e admiradores do grande homem que foi Antonio de Castro Figueirôa.
No dia seguinte seu corpo foi levado ao Cemitério da Saudade. Estava encerrada uma era na administração da Cia. Brasileira de Alumínio.
Se existia e existem ainda hoje aqueles que viam no Dr. Figueirôa uma figura por demais austera, é inegável sua influência na formação do homem integral. Para ele, o tempo que usava no atendimento aos estudantes ou familiares deles não era algo perdido, mas investimento nas vidas daqueles rapazes que se formaram se profissionalizaram e constituíram suas famílias, edificaram o patrimônio próprio e hoje reconhecem, como faço eu, a importância daquele homem nas nossas vidas.
O Engenheiro José Netto do Prado, que estava dirigindo outra empresa do Grupo Votorantim (Níquel Tocantins) retornou a Alumínio e assumiu a Diretoria Industrial da CBA.
Eu fui fazer parte da Gerência Administrativa, chefiada pelo Sr. Philemon. Em novembro daquele ano foi inaugurado o prédio novo da Administração.


5 - OUTRAS

O ALUMINENSE DORMINHOCO
       
        
Este fato que vou narrar tinha mais de uma versão. Afinal existe aquele adágio de “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
         Um sujeito, morador de Alumínio, aproveitando uma folga na CBA foi a São Paulo, usando para essa viagem ônibus da Viação Cometa. Foi logo de manhã e voltou à noite.
         Quando o coletivo chegou na agência em São Roque, ele que dormira boa parte da viagem, resolveu ficar esperto, temendo dormir de novo e passar direto pelo trevo da entrada de Alumínio. Pois não agüentou. Dormiu e quando percebeu, o ônibus se aproximava de Brigadeiro Tobias, onde ele desceu.
         Não demorou muito e veio outro “Cometa”. Nosso amigo embarcou e sentou-se, na intenção de ficar bem desperto, senão o que aconteceria?
         Pois aconteceu! Dormiu de novo e quando acordou estava em Pantojo, onde “apeou! Como não tinha mais ônibus o jeito foi botar o pé na estrada e caminhar até Alumínio, aonde chegou cansado e, o pior, sem sono!
Arre!


O ESCORPIÃO MORREU, MAS EU FIQUEI BEM
        
Não me lembro bem se foi nos dias de carnaval de 2014 ou 2015 que aconteceu um fato inusitado comigo. Poderia ter sido trágico ou muito complicado, porém, mais uma vez Deus me protegeu.
         Havia reformas em casas na vizinhança e muito provavelmente tenha vindo de uma delas um escorpião amarelo, o qual adentrou nosso quintal, onde não deixamos qualquer tipo de coisa que possa abrigar esses animaizinhos perigosos.
         Ocorreu que eu havia molhado meu par de sapatos caseiro e coloquei-os para secar lá ao sol. Nesse mesmo dia caiu uma árvore nas imediações e atingiu a rede de energia elétrica de tal maneira que ficamos no escuro por mais de vinte e quatro horas.
         Como de costume, na hora de ir dormir, busquei os sapatos lá fora, visto que à noite uso-os como chinelos. Depois de algumas horas de sono, necessitei levantar-me para ir ao banheiro.
         Sentei-me na cama, calcei o pé esquerdo e senti uma dorzinha no dedão. Aí o “inteligente” ao invés de acender a luz e virar o calçado para derrubar o que tivesse dentro, enviou a mão, achando que fosse uma pedrinha meio cortante.
         Ui! - Outra picadinha! Acendi a luz, virei o sapato e de lá saiu um escorpião amarelo. Eu e minha esposa capturamos o bichinho, pusemo-lo numa vasilha plástica com tampa e acionamos o Resgate, visto que nosso carro não estava disponível.
         A picada de escorpião, na maioria das vezes, causa poucos sintomas, como vermelhidão, inchaço e dor no local da picada, entretanto, alguns casos podem ser mais graves, causando sintomas generalizados, como enjôo, vômitos, dor de cabeça, espasmos musculares e queda da pressão, havendo, até, risco de morte. (Internet) 
         Fomos ao Hospital Regional onde duas atenciosas médicas me atenderam prontamente. Mostrei-lhes o local das picadas, avermelhados e um pouco inchados. Elas viram também o bichinho e uma delas encolheu-se pedindo que fechasse a vasilha e chamou o enfermeiro para levar o talzinho.
- Sr. Wilson: Não temos antídoto. Está doendo muito? Respondi que não e ela mandou aplicar uma injeção de Dipirona e que eu me acomodasse numa poltrona apropriada  e ficasse em observação durante duas horas. Assim foi feito e como nada tivesse alterado no meu quadro clínico, ela me deu alta e voltamos para casa.
         No dia seguinte, no retiro que nossa igreja estava realizando em uma escola aqui de Sorocaba, nosso pastor Dilermando assim se expressou para contar o fato aos presentes:
- Quero dizer a vocês que nosso presbítero Wilson foi picado por um escorpião durante a noite. Ele está aqui com a d. Claudineide. Tudo bem com ele, mas escorpião morreu. Ufa!

O REGIME DO DAVID MACHADO
        
Para continuar escrevendo as crônicas sobre Alumínio e sua gente, às vezes preciso pedir ajuda a algum ex-companheiro de trabalho e desta vez a ajuda veio do nosso estimadíssimo David Alves Machado.
         São três episódios ocorridos na década de 1960 e vou começar pelo caso do próprio David. Logo que ele se casou, começou a engordar muito e o médico orientou-o a fazer um regime e, obediente, começou o tal regime.
         Passado algum tempo, logo que chegamos para o trabalho ele disse-nos que havia perdido uma boa quantidade de peso. Aí alguém perguntou como era esse regime e ele explicou:
- Para começar, na hora do café, eu comia oito torradas e agora como só quatro...(!) Foi só risada na seção.

A GRÁVIDA, A LARANJA E O LOIRINHO
        
Estávamos no segundo semestre de 1965 e minha esposa d. Claudineide estava grávida, esperando nosso primeiro filho, o qual viria a se chamar Wilson Claudio.
         Certo dia, ela teve de ir à Vila Paulo Dias, onde moravam meus pais e, ao passar pelo belíssimo pomar de cítricos da família Cerioni, carregado com laranjas madurinhas, não conseguiu conter a vontade de apanhar uma.
         Como havia uma cerca de arame, ela estava pensando em bater à porta da família do Sr. Benedito/Dona Lourdes Cerioni para pedir uma daquelas saborosas frutas.
         Não foi necessário porque ela viu sair de casa um menino loirinho e, chamando-o, perguntou se ele apanhar uma daquelas laranjas para ela.
- Claro, dona. Ele apanhou o fruto e quando ia entregá-la a jovem mulher grávida, a mãe dele, dona Lourdes viu a cena e mandou que ele fosse buscar uma faca e descascasse a laranja. Ele descascou-a e entregou-lhe. Ela saboreou-a sentindo ser a melhor laranja que já havia chupado.
         Foi assim que nosso filho não nasceu com cara de laranja e aquele menino loirinho entrou para a história de nossas vidas. O nome dele: Donizeti Cerioni. 

PIONEIRISMO COM PICADA DE JARARACA E FLECHADA NO BUMBUM.
        
Nas duas  primeiras décadas do século passado ocorreu a expansão da Estrada de Ferro Sorocabana no trecho entre Ourinhos até Piquerobi, no oeste paulista.
         Meu avô paterno Joaquim Antonio Ribeiro, mais conhecido como Florenção deixou a família trabalhando nas lavouras de café na região de Ourinhos e ingressou como Vigia nos serviços da expansão da ferrovia.
         Na sua função estava a vigilância dos demais trabalhadores que faziam o desmatamento e assentamento dos trilhos e caçar animais que serviam de alimentação para os trabalhadores.
         Ocorre que eram freqüentes os confrontos com indígenas que habitavam a região. Aí vinham flechadas para um lado e balas de carabinas para o outro e meu avô estava nessa luta.
         Depois de certo tempo ele veio rever a família e um sobrinho dele de nome Elias,tanto insistiu para ir junto que meu avô concordou que ele fosse lá para aqueles sertões bravios.
         Aí ocorreram dois incidentes que quero compartilhar com quem ler esta narrativa. A primeira é que meu avô, que só pôs calçado nos pés no dia do se casamento, foi picado por uma jararaca. A assistência médica disponível era precária, porém meu avô foi salvo, não sem perder quase toda a carne do pé afetado, que tempos depois estava regenerado.
         A segunda ocorrência foi com o sobrinho dele, que no meio de uma batalha entre índios e trabalhadores da ferrovia acabou levando uma flechada, que penetrou fundo em suas nádegas, parte mais conhecida atualmente como bumbum (para não dizer aquele nome que soa meio chulo).
         Consta que o coitado foi tratado lá mesmo, tendo a flecha sido removida, mas ele teve de ficar mais de um mês sem deitar de costas e sem poder andar.
         Na próxima visita de meu avô à família em Campos Novos Paulista seu sobrinho veio junto e nunca mais falou em trabalhar onde havia índios ou jararacas.

DINHEIRO DO PAGAMENTO SÓ NAS MÃOS DAS MULHERES!
         
Depois de aposentar-me na CBA em 1991 fui convidado pelo prefeito eleito em 1992 Prof. José Luiz Bellini, falecido recentemente, para trabalhar na Prefeitura Municipal de Mairinque.     
         Assim, em janeiro de 1993 assumi o cargo comissionado de Chefe da Seção Pessoal e Zeladoria, que exerci até o final de 1994. Em 1995 e  passei a exercer o cargo de Diretor Especial Executivo.
         Voltando ao início, não me recordo bem se foi em 1993 ou 1994, aconteceu um fato inusitado, pelo menos para mim. Recebi uma ligação do vigário Padre Bóris, informando que alguém achara uma carteira com certo valor em dinheiro e pelos documentos, o dono da carteira era funcionário municipal.
         Agradeci-o pela informação e disse-lhe que enviaria um funcionário para buscar a carteira lá na casa paroquial. Assim foi feito: o padre e o funcionário conferiram o valor e os documentos que estavam na carteira, assinaram um documento com uma via para cada um e a carteira foi parar em minhas mãos.
         Logo que vi a foto, reconheci o funcionário, excelente trabalhador como gari, inclusive passava na rua em que eu morava todos os dias fazendo a coleta de lixo. Comuniquei o fato ao Chefe de Gabinete e ele orientou-me que chamasse o funcionário e lhe entregasse a carteira e que ele assinasse também um documento comprobatório.
         Para resumir este relato, o que acontecia era o seguinte: nos dias de pagamento mensal feito pela Prefeitura os trabalhadores deixavam o serviço um pouco mais cedo. Recebiam na Nossa Caixa/Nosso Banco, faziam suas compras e iam para suas casas.
         Mas como em toda regra existe exceção, alguns ao invés de ir ao supermercado iam a um bar, ficavam embriagados e alguns dormiam na calçada, perdendo a noção de tudo, inclusive da carteira com quase todo o dinheiro do pagamento.
         Para solucionar o problema a administração municipal adotou o seguinte critério: Aqueles funcionários que costumeiramente se embriagavam nos dias de pagamentos foram aconselhados a levar as esposas e repassar a elas o dinheiro, ficando com algum trocado para custear a “branquinha.”
         Ninguém chiou e o problema acabou!

NARIZ, AI MEU NARIZ!
       
  Depois de desligar-me da CBA em 1991 por aposentaria, trabalhei na Prefeitura Municipal de Mairinque de 1993 a 1996, sendo os dois primeiros anos como Chefe da Divisão de Pessoal e Zeladoria.
         Certo dia apareceu um servidor que trabalhava no Horto Florestal dizendo que precisava abrir uma guia de acidente no trabalho, assunto que eu conhecia bem visto que na CBA fiz isso durante vários.
         Perguntei-lhe o que acontecera com ele e a resposta foi que havia tropeçado quando estava a caminho do trabalho e batera com os olhos em um muro. Realmente em volta dos dois olhos estava roxo.
         Seguindo o protocolo, encaminhei-o ao Dr. Fernando Cavalcanti Silva, médico da Prefeitura para dar o parecer dele. Passados uns vinte minutos o rapaz estava de volta, portando o papel com o parecer do médico, o qual estava em um envelope grampeado.
         Abri o envelope e lá estava escrito: Sr. Wilson: não se trata de acidente do trabalho. Como ele conseguiu bater com os dois olhos no muro sem ferir o nariz?
         Segurei o riso, e como não havia outro jeito, li para ele o que médico escrevera. Ele se levantou, agradeceu-me pela atenção e foi embora.
         Realmente o nariz é sempre o primeiro a chegar quando se bate com o rosto em alguma parede ou mesmo no chão.


CONCLUSÃO

         Este trabalho pode ser melhorado através de críticas construtivas e sugestões. É assim que tenho feito com todas as postagens publicadas em meu blog.

        Portanto, se você tiver qualquer contribuição a fazer, poderá entrar em contato comigo através do e-mail indicado no final desta publicação.


SOBRE O AUTOR DA POSTAGEM


Wilson do Carmo Ribeiro é industriário aposentado, professor e historiador diletante. 
É presbítero emérito da Igreja Presbiteriana do Brasil, frequentando atualmente a Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba.
E-mail: prebwilson@hotmail.com





QUINTO ENCONTRO DE CONJUNTOS E QUARTETOS MASCULINOS NA IGREJA PRESBITERIANA DE CAMPO LARGO EM SALTO DE PIRAPORA

  APRESENTAÇÃO Aconteceu dia 30-04-2011 com início às 19 h 30 minutos na I.P. de Campo Largo em Salto de Pirapora o 5º Encontro de Conjuntos...