sexta-feira, 21 de setembro de 2012

COISAS DE GENTE E DE ANJOS




APRESENTAÇÃO

Nesta postagem desejo compartilhar com os leitores algumas experiências vividas, as quais mostram momentos em que fomos ajudados por pessoas que mais pareceram anjos enviados por Deus para nos socorrer em momentos de muitas dificuldades.
Creio que todos têm uns mais, outras menos, experiências parecidas como as que são narradas nesta postagem para compartilhar.
Espero que gostem das experiências que vivi, às vezes só, outras com minha querida família.

A Deus toda a glória! 

"SARACURA"

A saracura é definida cientificamente como “uma ave gruiforme da família Rallidae. Também conhecida como siricoia, saracura e saracura-do-brejo.”
(http://www.wikiaves.com.br/saracura-do-mato)

Pois bem: nascido na região rural do município de Campos Novos Paulista, interior do Estado de São Paulo, já aos oito anos comecei a ouvir de meus coleguinhas de escola o nome “saracura”. Como não sabia o que era aquilo, perguntei à minha mãe e ela, sem saber da motivação da pergunta, foi logo explicando que era um passarinho que vivia lá na beira da água. “Um frango d’água” completou.
Não gostei nada da comparação feita pelos companheiros de estudos até porque sabia que a gozação era feita por causa do meu jeitão desengonçado: magricela, pernas muito compridas, andar arrastado. E sabem como são essas coisas: quando não se gosta aí é que a gozação aumenta.
O tempo passou. Mudamo-nos para o município de Santa Cruz do Rio Pardo, indo morar no sítio onde foi instalada uma olaria e meus pais iriam trabalhar nela. Eu fui ficar na casa de minha tia Leonina, na cidade para continuar os estudos. Estava  no segundo semestre da terceira série primária. Para fazer o primeiro semestre eu havia ficado noutra cidade n ao muito distante dali: São Pedro do Turvo, na casa de uma tia de minha mãe.
Não demorou muito e um dia ouvi a temida palavra:
Saracura! Saracura!
O complexo de inferioridade batia forte. No entanto eu não era um sangue de barata. Se fosse, não caminharia os oito quilômetros de estradinha de terra entre matos e capoeiras que separavam a cidade e o sitio onde meus pais moravam para passar parte do fim de semana com eles.
Certo dia eu voltava da escola quando alguns meninos passaram por mim e soltaram a voz em uníssono:
- Saracura. Oi Saracura!
No que passaram por mim, soltei um chute que acertou o trazeiro de um deles. Ele virou-se para mim, e com o punho fechado desferiu um soco em meu estômago. Senti as pernas afrouxarem, porém eles estavam ali parados na minha frente. Quadro tenebroso!
Foi quando vi que um senhor do alto de sua montaria, gritou com a molecada, expulsando-os dali. Ainda meio zonzo, percebi que aquele era nada mais nada menos que meu tio Antonio. O meu querido tio que gostava tanto de mim e eu dele!
Só não dá para explicar como foi que ele, vindo lá da olaria, chegou ali naquele lugar bem naquela hora em que eu mais precisava!
Coisas de anjos que Deus envia!



DOCE DE FIGO

Estávamos em setembro de 1965 e minha esposa Claudineide, então com vinte anos de idade estava grávida, esperando nosso primeiro filho que viria a se chamar Wilson Cláudio. Morávamos numa casinha da CBA à Rua Álvaro de Menezes, parede-e-meia com nossos amigos Jasiel e Ruth Ferreira, muito próximo ao estádio da Associação Atlética Alumínio.
Num determinado domingo à tarde haveria um culto de evangelização da Igreja Presbiteriana de Alumínio e o Coral Ebenezer daquela igreja cantaria como parte do culto. O regente era o presbítero Gediel de Moura, de saudosa memória.
Logo após o almoço uma febre muito alta tomou conta do organismo da jovem gestante. Não tinha nenhuma dor nem qualquer sintoma que pudesse levar à constatação que houvesse uma infecção.
Bem!
- Oi. O que foi benzinho.
- Estou com vergonha de dizer mas estou com uma vontade tão grande de comer figo em calda!
- É?
- É sim.
- Então vou comprar.
Procurei no bar do Sr. Pedro (que viria a ser o bar da AAA). Não tinha o tal doce. Havia três armazéns em Alumínio, o do SESI, o do Sr. José Cerioni e o do Sr. Paulo Dias. Mas era domingo e eles estavam fechados. E a febre não cedia.
Foi aí que tive uma ideia: fui bater à porta da casa do Sr. José Cerioni (não me lembro se ele já era falecido nessa época). Quem tocava o estabelecimento eram os filhos dele Benedito, Artêmio e o genro Enio Fabiani, casado com a dona Bida. O prédio abrigava o armazém e a residência deles (os que citei menos o Benedito). Mais tarde o Artêmio teria seu bar e dona Bida seu bazar. O Ênio morreria num acidente automobilístico na Rodovia Raposo Tavares, altura de Mailasque.
Logo que bati à porta da residência ela se abriu. A esposa do Sr. Cerioni, dona Ines (não é Inês) veio atender. Cumprimentei-a e expliquei-lhe a delicadeza da situação.
- Vem comigo moço. Vamos no armazém para ver se tem lá. Percorremos vários corredores e atravessamos diversos cômodos até que chegamos ao armazém. Fomos olhando nas prateleiras e... lá estavam as latas: figo em caldas!
- Vou levar. Quanto é minha senhora?
- Não sei não. Leva e depois você passa por aqui para acertar com os meninos.
Abri a tampa da lata usando uma faca de cozinha como meu pai fazia lá na casa dele. e entreguei-a à minha jovem esposa. Ela comeu ali mesmo, quase todo o conteúdo da lata..
Parece que aquele doce era a coisa mais gostosa do mundo. E talvez tenha sido mesmo nas condições dela. De imediato a febre foi embora e nós fomos ao Cine Alumínio participar do culto. E agora lendo o que escrevi ela diz que não enjoou de doce de figo.
No dia seguinte passei no armazém para acertar a conta e dona Ines perguntou-me se a febre da esposa havia passado. E acrescentou:
- É moço, com essas coisas não se brinca!
Demos graças a Deus e ficamos eternamente gratos à dona Ines, aquela amável e atenciosa senhora que  naquele dia foi um anjo de Deus em nossas vidas.


NAS ÁGUAS DO RIO IAPÓ

Rolava o ano de 1971 e resolvemos visitar o cunhado Claudino Marra Júnior na cidade de Castro no sul do Paraná. Ainda não tínhamos carro, porém meu mano José, sim. Ele com a esposa Josita, o filho Marco Antonio, eu, minha esposa Claudineide e nossos filhos Wilson Cláudio, Eliane e Flávia, esta, um bebezinho.
A cidade de Castro é cortada pelo rio Iapó, afluente do Iguaçu. É bastante caudaloso, piscoso e muito atraente para os banhistas, existindo uma prainha muito bem conservada pela municipalidade.
Eu não sabia nadar, porém resolvi brincar no rio. Distraidamente fui me deixando levar mais para o meio, onde a profundidade foi aumentando. Minha esposa e minha cunhada olhavam nossas crianças se divertindo ora na beiradinha da água ora na areia da prainha.
Meu irmão, que à época era um homem jovem e magro, sabia nadar muito bem, porém não estava dentro da água; sorvia uma bebida geladinha e conversava à beira do rio.
Como disse, eu permanecia em pé no meio das águas: até certo ponto estas batiam em minha cintura, Dali há pouco no peito. Em dado momento percebi que estavam batendo na altura do pescoço e pensei que deveria retornar. Dei um passo nesse intento, porém não encontrei chão. Desequilibrado, tentei novamente e nada! Percebi que já estava na horizontal e começando a afundar.
- Socorro! A voz já saiu meio rouca visto que estava bebendo água. Percebi o esforço de um rapaz que estava ali por perto em me alcançar e soltei o corpo. Logo percebi que outros braços juntaram-se ao do rapaz e conseguiram resgatar-me, levando-me para terra firme onde minha esposa e as crianças assustadas davam graças a Deus pelo livramento.
Eu tinha noção da besteira que havia cometido e ouvia uma voz dizendo que me deixassem por um pouco que ele iria tentar levar-me novamente às águas que era para eu não ficar traumatizado. Ele insistiu, porém eu quis colocar minha roupa e sair daquele lugar.
Além do rapaz, que depois vi que era bem mais baixo do que eu, os braços que me resgataram das águas foram de meu próprio irmão José. Ele é seis anos mais novo do que eu, está aposentado, mas trabalhando muito apesar das dificuldades com o seu excesso de peso. Ele sabe que o amo muito e oro por ele todas as noites. Sabe da gratidão que tenho por ele ter salvado minha vida há mais de quarenta anos. Porém esta crônica, escrevo-a para testemunho de minha gratidão. A ele e àquele rapaz que nunca mais o vi. Foram anjos usados por Deus para resgatar-me das águas, possibilitando-me continuar minha vida junto de minha esposa, daqueles filhos que já tínhamos e do Artur que viria seis anos depois.


PERDIDO EM ITANHAÉM


Em 1971 fomos à casa de praia da Associação Atlética Alumínio pela primeira vez. Não tínhamos carro e a viagem foi feita de ônibus, via São Paulo e Santos. Éramos eu, minha esposa d. Claudineide e os três primeiros filhos: Wilson Cláudio com cinco anos, Eliane com pouco mais de dois e a Flávia com sete meses.

Estando lá na colônia de férias, saí com o Dionizio Bazzo, meu colega de trabalho para comprar alguns gêneros alimentícios numa mercearia que havia distante uns quinhentos metros. As ruas eram ainda totalmente desertas, visto não existir outras edificações. Havia bastante vegetação natural e um pouco mais adiante no sentido Peruíbe outra colônia com diversas casas.

Eu e meu companheiro de trabalho Dionizio Bazzo fomos a uma mercearia distante uns quinhentos metros comprar alguns gêneros alimentícios. A Marli, filha de meu amigo quis ir junto e o Wilson Cláudio também. Saímos os quatro em direção a tal mercearia dos Sargentos, mas logo após dobrar a primeira esquina meu filho quis retornar. Então o Dionizio disse à filha que voltasse com o menino, visto que ela era mais velha e já estava mais acostumada com o local. Logo depois lá estava ela de volta conosco e, indagada pelo pai, explicou que o menininho quis voltar sozinho.

Quando retornamos com as compras minha esposa perguntou-me pelo Wilson Cláudio. Expliquei a seqüência dos fatos. Mas... Deus do Céu. O menino não havia aparecido por lá. Escrevendo isso hoje, quarenta e dois anos depois, ainda sinto um arrepio percorrer meu corpo.

Aí saiu todo mundo para procurar o menino. Naquelas casas logo adiante as pessoas se irmanaram na busca e depois de quase duas horas o alivio: Lá longe, vimos três homens, um deles com uma criança nos braços. Aquilo encheu nossos corações de esperança. Fomos ao encontro e... era ele mesmo!.

Cheios de gratidão para com aqueles homens que nunca havíamos visto antes e nunca mais vimos depois, quisemos saber como eles haviam encontrado o menino. E aquele anjo em forma de gente nos disse:

Fácil: Vimos ele chorando, perguntamos onde ele morava e ele disse que era em Alumínio. Como na casa da colônia de férias tinha a placa com esse nome foi fácil saber que ele tinha vindo de lá.

Coisas de Crianças. De Anjos. E de um pai que não teve a responsabilidade necessária num momento que precisava tê-la.

 
PEDRAS NA PISTA

Em 1979 morávamos em Alumínio e resolvemos visitar nossos familiares em Pouso Alegre, Minas Gerais. Trabalhei até as dezesseis horas na CBA e pegamos estrada: eu minha esposa d. Claudineide e os filhos, estando o caçula Artur com pouco mais de dois anos.
À época tínhamos um Corcel 71 cor de vinho bem conservadinho. Tomamos a Raposo Tavares e chegamos à Marginal Tietê... bem na hora do rush. Quando chegamos ao início da Rodovia Fernão Dias era quase nove da noite.
À época eu tinha apenas 38 anos e não tinha nenhuma limitação visual ou de qualquer outro tipo. Tudo estava correndo bem, quando próximo da cidade de Extrema, pouco depois da divisa entre São Paulo e Minas ocorreu o inesperado: duas pedras de tamanho avantajado, haviam sido colocadas sobre a pista asfáltica.
Embora tenha conseguido desviar delas, o fundo do carro foi atingido. De imediato percebi que o motor “apagou”, não havia marcha, apenas a direção e os freios estavam normais. Como era descida, fomos em frente até avistar casas ao lado da rodovia e ali estacionamos o veículo.
Ainda estávamos a noventa quilômetros de nosso destino. O carro não funcionava mesmo, então decidimos empurrá-lo mais para perto de uma cerca existente e tentarmos continuar a viagem de ônibus. No outro dia viria como meu cunhado pastor-mecânico resgatar o carro.
Passaram ônibus, mas não pararam. Um caminhoneiro parou, quis dar lição de moral e seguiu em frente. Nós orávamos e até mesmo o caçulinha fazia isso. Foi quando parou uma Kombi.
- O que aconteceu amigos?
Contei-lhe todo o ocorrido. Ele fez questão de dar uma olhadinha no carro e depois disse:
- Vamos embora. As crianças podem se deitar aí em cima desses panos (peças de tecidos) e vocês vão aqui comigo. E foi o que aconteceu. Sentamos ao lado daquele homem, o qual nos contou que ia da cidade de Itatiba com aquele carregamento de tecidos da fábrica Argos justamente para Pouso Alegre. Não faltou conversa até lá.
O homem, do qual não sei dizer o nome estacionou o veículo defronte a casa de nosso cunhado, entrou, tomou um cafezinho e disse adeus. Nunca mais nos vimos.
No dia seguinte, logo de manhã meu cunhado foi comigo até onde estava o carro. Ele consertou o varão do câmbio que ficara torto com a pancada na pedra e o duto de gasolina que se rompera e voltamos à sua casa.
Coisas de Crianças (de rapazes e de anjos que Deus coloca em nossas vidas).

BICICLETA DESENFREADA


Fazia pouco tempo que estávamos morando no Jardim Cruzeiro em Mairinque. Não eram muitas as casas habitadas no bairro e também não existia ainda o viaduto ligando o bairro ao centro da cidade.
A família do Sr. Jovelino de Oliveira Tomaz, assim como a nossa, era oriunda de Alumínio e nossos filhos eram muito amigos. Algumas das meninas da família Tomaz haviam ajudado em casa a cuidar das nossas, posto que eram mais velhas, principalmente a Azenate, de tão saudosa memória.
Assim era comum as nossas irem até a chamada gleba B para passar alguns momentos na casa da família Tomaz, que até hoje mora no mesmo local, lá nas imediações da farmácia do Luizinho. E foi no retorno de uma dessas visitas que ocorreu a pequena aventura que conto nestas linhas.
Depois de passar algumas horas em companhia de dona Maria e das filhas, a Eliane e a Flávia, minhas filhas de aproximadamente 11 e 13 anos resolveram retornar para casa. Pegaram a bicicleta e se puseram avenida afora, “morro abaixo”. A velocidade foi aumentando e as duas entraram em pânico: não conseguiam frear a “magrela”.
A Eliane, pernas mais compridas, sentada na garupa tentava diminuir a velocidade firmando os chinelos no asfalto o que de pouco adiantava. Foi quando elas viram crescer na frente delas aquele homem de braços abertos disposto a sofrer o choque do pequeno veículo desgovernado e fazê-lo parar. E ele conseguiu.
Quando nos vem à mente que lá à frente, depois da Avenida Mitsuke só havia a linha do trem num buracão enorme, há que se valorizar muito mais a corajosa ação daquele senhor que não levou em conta sua vida para salvar vida das duas meninas. O nome dele: Roque Aldigheri.
Coisas de Crianças. E de heróis anônimos


APAGÃO

No final do ano de 1983 eu estava me sentindo bastante cansado. Também não era para menos: trabalhava das oito às dezessete horas na Cia. Brasileira de Alumínio dirigia-me à Mairinque onde morava com a família no Jardim Cruzeiro e trabalhava em duas escolas: Supletivo Municipal de Mairinque e Sistema Educacional Barão.
Em São Roque eu lecionava Sociologia Industrial e Psicologia do Trabalho no curso de 2º Grau Técnico em Segurança do Trabalho. No Supletivo, em dias alternados entre Mairinque e Alumínio exercia a função de Orientador Pedagógico.
Naquela noite cheguei em nossa casa por volta das vinte e duas horas e trinta minutos vindo de São Roque e como fazia costumeiramente conversei com minha esposa também professora, além de cuidar da casa e dos quatro filhos. Passamos o dia a limpo rapidamente e ela foi banhar-se. Eu deitei-me e peguei no sono.
Quando ela saiu do banheiro eu estava passando mal. Debatia-me, batendo fortemente com os ombros na cabeceira da cama e tinha o olhar esbugalhado. Gritava de dor e não reagia a nada do que ela falava comigo.
Nosso filho mais velho, o Wilson Cláudio à época com dezessete anos acordou e foi correndo à casa do Dr. James Beal Munhoz, nosso vizinho, amigo e conceituado médico em Mairinque e região. Ele veio correndo.
- Ele está tendo um infarto – disse ele à minha esposa. E ele mesmo ligou ao seu amigo cardiologista Dr. Antonio Carlos Augusto, o Coca pedindo para que fosse à Beneficência Hospitalar. Dr. James chamou também a ambulância, a qual veio rapidamente e em pouco tempo eu estava no hospital o qual ficava bem próximo de nossa casa.
Tudo que escrevi aqui eu sei porque minha esposa Claudineide me contou. Fique aproximadamente seis horas “fora do ar”. Quando recobrei os sentidos percebi que estava no hospital, rodeado pelos médicos, pelo vizinho e solícito enfermeiro Dionizio e por minha esposa Claudineide.
Outros procedimentos vieram posteriormente, como colocar a clavícula no lugar, fazer exames no coração e no cérebro. Usei medicamentos durante vinte e nove anos, tenho seqüelas e faço exames periodicamente. Caminho uma hora todos os dias e tenho muito boa memória.
Memória suficiente para jamais esquecer aqueles profissionais da medicina, em especial do Dr. James que foram anjos de Deus em minha vida naquele “vale da sombra da morte.”


CHORA NÃO, MENINO!


Morávamos no Jardim Cruzeiro em Mairinque. Eu trabalhava na CBA, minha esposa d. Claudineide lecionava em escolas estaduais e os filhos estudavam. O caçula Artur, à época do fato que vou narrar, também brincava visto que era um pré-adolescente de treze anos.
Certo dia coincidiu de chegarmos juntos – eu e minha esposa, lá pelas dezoito horas e nossa filha Eliane veio toda assustada ao nosso encontro. Percebemos que algo de anormal estava ocorrendo e ela colocou-nos a par da situação.
 Explicou que ela estava trabalhando na cozinha quando ouviu o Artur chamar pelo nome dela lá no começo da escada. Um dos braços dele esvaia-se em sangue e ele estava com o rosto branco como quem iria desmaiar. Ela correu, pegou uma toalha, envolveu o braço dele e pediu socorro na casa da nossa vizinha mais próxima.
Para não alongar muito: fomos à Beneficência Hospitalar e encontramos o Artur deitado, com a cabeça recostada no colo da professora Doroti Antunes e um médico aplicando os últimos de algumas dezenas de pontos no braço do garoto. Quando ouviu nossa voz, quis chorar, mas se conteve quando recebeu carinhosas e encorajadoras palavras da vizinha benfeitora.
 Aquele terreno com areia para construção, cujo muro vizinho tinha cacos de vidro havia sido a causa do acidente. Porém o registro aqui é feito, não para criticar ninguém, mas sim para deixar lavrado nossa gratidão à nossa vizinha da qual tivemos o prazer de desfrutar de sua amizade por vários anos.
Dia destes recebi a foto da professora Doroti Antunes para colocar na “Pequena História do Município de Mairinque” que escrevi. Lá ela está porque faz parte da História da Educação em Mairinque. Mas ao ver sua foto não pude deixar de relembrar do dia em que ela foi anjo por uma dia em nossas vidas. Quem levou o Artur ao hospital naquele dia foi o André Zaparolli.
Doroti e André: Um beijo meu, de d. Claudineide e do Artur no coração de vocês.



PRIMEIRA VIAGEM

Em 1995 Rodolfo e Eliane resolveram visitar a irmã dela, Flávia, que estava fazendo o curso de Serviço Social na Universidade Estadual em Londrina, onde estudava também o Willy, namorado dela.
Casados há pouco mais de um ano, Rodolfo e Eliane ainda estavam lutando para alcançar a estabilidade financeira. Pagavam prestações do apartamento e agora haviam adquirido um carrinho – Fiat 147 bem usadinho. O pai dele, Sr. Messias insistiu para que viajassem com o carro dele, bem mais novo, porém preferiram ir de “carro-próprio”
Tudo correu muito bem até a altura da cidade de Bandeirantes, quarenta quilômetros para chegar ao final da viagem. De repente o motor começou a falhar, até que parou de funcionar. Será que “fervera” o motor? O que fazer? Havia água no radiador e o nível do óleo do cárter estava normal. As correias, intactas.
Enquanto o jovem casal matutava na possível solução, já sabendo que não teria como consertar o carro de pronto e nem onde deixá-lo, eis que surge um senhor todo empoeirado, vindo do meio de um canavial:
- Boa tarde!
- Boa tarde!
- Que aconteceu com o carro moço?
- Sei não. O trem parou e o motor começou a esfumaçar. Acho que fundiu (Rodolfo é engenheiro e tem boas noções de mecânica de autos).
- Se preocupe não. Vou pegar meu caminhão e reboco seu carro até a oficina de um amigo meu lá na cidade. É gente conhecida e de confiança. Depois o moço pega um ônibus na rodoviária para ir até Londrina.
Dito e feito. O dono da oficina, gente boa, diante da recomendação daquele senhor, guardou o Fiatzinho, em sua oficina. Rodolfo e Eliane pegaram o ônibus e concluíram a viagem de ida para passar alguns dias com a Flávia e o Willy.
Não se ouviu mais falar daquele anjo em forma de um prestativo dono de caminhão. Mas se soube que a Eliane estava grávida da Mariana, embora não o soubesse até a realização dessa viagem. Bem: mas isso é assunto para falar de outro anjo...

NOTA SOBRE O AUTOR 

Wilson do Carmo Ribeiro é industriário aposentado e pedagogo.
É presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1975, exercendo atualmente seu ofício na Igreja Presbiteriana Rocha Eterna de Sorocaba (Barcelona). 

E-mail: prebwilson@hotmail.com


Um comentário:

  1. Muito boa estas suas histórias amigo... Deus continue sempre te abêençoando cada dia mais abraços fraternos.
    Dorimar Rodrigues

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